Seleção de Bactérias Degradadoras de Petróleo e Derivados
Peixoto, R.M.1,2 & Vieira, J.D.G.1
Palavras-chave: Bactérias, petróleo, degradação.
1. INTRODUÇÃO
O petróleo é um potente agente poluidor. Estima-se que somente os oceanos recebam uma carga anual de 1,7 a 1,8 toneladas métricas de petróleo por ano (dados de 1991) o que causa um impacto ambiental de enormes proporções (Koch et al., 1991; Prince, 1993). É constituído principalmente de hidrocarbonetos.
A capacidade microbiana de utilização de hidrocarbonetos como fonte única de carbono, e conseqüentemente sua degradação foi apresentada por ZoBell em 1946 (Rosato, 1997). Esta característica demonstra a importância dos microrganismos como uma ferramenta promissora no controle deste tipo de poluição (Biorremediação). Portanto não é surpresa o aumento nas pesquisas visando a determinação de microrganismos degradadores, sua bioquímica e genética (Desai & Banat, 1997).
Este trabalho teve como objetivo o isolamento e a rápida caracterização de microrganismos degradadores de petróleo e derivados.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Amostragem e Isolamento
As amostras foram coletadas de solos de postos de combustíveis, cujos tanques de armazenamento (óleo Diesel, gasolina e óleo queimado) apresentavam pequenos vazamentos, e conduzidas ao Laboratório de Microbiologia Ambiental e Biotecnologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás para processamento.
Sub-amostras de 5,0g foram inoculadas em frascos tipo Erlenmeyer de 250mL contendo 40mL de meio mínimo (pH 6,8 - 7,0) suplementado com 1% do combustível que contaminou os diferentes solos, e incubados em estufa rotatória (tipo shaker) a 30°C e 150 rpm por 21 dias. A cada 3 (três)dias alíquotas foram retiradas, diluídas convenientemente e inoculadas em meio ágar nutriente para o isolamento dos microrganismos. No 9° dia de crescimento foram acrescidos aos frascos, diferentes substratos numa concentração final de 1%. As colônias crescidas foram isoladas, purificadas e mantidas em glicerol 50% em freezer a -20°C.
2.2. Determinação da Capacidade Degradativa
As colônias isoladas foram inoculadas em frascos tipo Erlenmeyer de 250mL contendo 10ml de meio mínimo acrescido de 1% de glucose como fonte de carbono. Os frascos foram incubados em estufa rotatória (tipo shaker) a 30°C e 150 rpm por 48 horas. Após o crescimento, os cultivos foram padronizados para o tubo 2 da escala de MacFarland. As suspensões obtidas foram inoculadas (20m l) em placas multi-poços (tipo ELISA) com 96 poços. Em cada poço foram inoculados também 174m l de meio mínimo, 4m l de uma solução do indicador de oxi-redução 2,6-diclorofenol indofenol (DCPIP) e 2m l dos seguintes substratos: glucose, óleo 15w 40, 20w 40, 20w 50, óleo queimado, óleo Diesel, gasolina e 5 amostras de petróleo de diferentes procedências.
As placas foram incubadas a 30°C por 48 horas. Após este período, a verificação da utilização (degradação), dos compostos foi determinada pela viragem do indicador de azul para incolor.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram isoladas um total de 40 diferentes colônias de bactérias das amostras coletadas. As bactérias isoladas possuem uma diversidade morfológica. Isolou-se 25 bastonetes gram negativos (62,5%) 15 bastonetes gram positivos (37,5%) não sendo observado o isolamento de nenhuma espécie de fungo.
Quatorze bastonetes gram-positivos isolados foram caracterizados bioquimicamente como sendo do gênero Bacillus e um como sendo um Actinomiceto. Os isolados gram-negativos foram caracterizados como sendo da Família Enterobacteriaceae sendo identificados somente 4 isolados como sendo Pseudonomas sp.
Das 40 (quarenta) colônias isoladas testadas quanto a capacidade de degradação de 5 diferentes tipos de petróleo, 3 tipos de óleos lubrificantes, óleo queimado, óleo Diesel e gasolina. Nove (9) isolados apresentam-se como potencialmente aptos a degradar todos os tipos de petróleo e derivados testados. Na Figura 1 podemos observar umas das placas Tipo ELISA com o resultado parcial de alguns isolados. Observa-se que os isolados A, B, E, G, e H possuem uma enorme capacidade de degradação de diferentes tipos de petróleo e, portanto um grande potencial para o emprego em processo de biorremediação.
Pode-se observar uma diversidade de resultados para a degradação dos diferentes substratos testados. Do total de 40 isolados testados 60% (24 isolados) foram capazes de degradar mais de um derivado. Alguns isolados também apresentaram capacidade de degradação de pelo menos um dos tipos de petróleo.
Metodologias rápidas de seleção de microrganismos degradadores são de grande utilidade. A utilização de DCPIP como indicador para a seleção de microrganismos degradadores de petróleo e derivados mostrou ser bastante sensível.
Figura 1 – Resultado parcial do teste de degradação de diferentes tipos de petróleo e derivados. A a H isolados (A. BRUFG 18, B. 0.2.2, C. UR – 1, D. salina, E. UR – 3, F. UR – 4, G. UR – 5, F. UR – 6. 1 A 12 Fontes de carbono ( 1. Glucose, 2. 15w 40, 3. 20w 40, 4. 20w 50, 5. Óleo queimado, 6. Controle Negativo, 7. Óleo Diesel, 8. Gasolina, 9. Petróleo 37, 10. Controle Negativo, 11. Petróleo 38, 12. Petróleo 40.
4. REFERÊNCIAS
Desai, J.D. & Banat, I.M. 1997. Microbial production of surfactants and their commercial potential. Microbiology and Molecular Biology Reviews, 61: 47-64.
Koch, A.; Kappeli, O.; Fiechter, A. & Reiser, J. 1991. Hydrocarbon assimilation and biosurfactant prodution in Pseudomonas aeruginosa mutants. Journal of Bacteriology, 4212-4219.
Prince, R.C. 1993. Petroleum spill bioremediation in marine environments. Critical Reviews in Microbiology, 19: 217-242.
Rosato, Y.B. 1997. Biodegradação do petróleo. In Microbiologia Ambiental. Melo, I.S. & Azevedo, J.L. (eds) Jaguariúna: Embrapa-CNPMA, 307-334, 440p.