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ESTUDO
HISTOQUÍMICO, BIOQUÍMICO E MORFOMÉTRICO DE CÉLULAS MUCOSAS DE PEIXES EURIALINOS
ESTUARINOS
MENEZES,
J. S.1, CARVALHO, R.1, LAY-ANG, G. 1, SABÓIA-MORAIS, S. M. T. 1,
YAMADA, A. T. 2
1 - Laboratório de Comportamento Celular – Departamento de Morfologia – Instituto de Ciências Biológicas – Universidade Federal de Goiás
2 – Departamento de Histologia e Embriologia – Instituto de Biologia – Universidade de Campinas
A morfologia branquial de peixes permite elucidar os mecanismos que proporcionam a adaptação destes animais às alterações ambientais. Cada tipo celular presente no epitélio branquial modifica seu comportamento no intuito de permitir ao animal retornar à sua homeostasia. Neste sentido, nos propusemos a avaliar a variação de salinidade da água sobre o epitélio branquial dos guarus. Os animais utilizados foram colhidos em água com salinidade 20 ppm de água salobra, foram modificados de forma decrescente de 10ppm (S10), 5ppm (S5) e 0ppm (S0) e separados por grupo. Eles foram decapitados, as brânquias foram dissecadas e processadas para inclusão em parafina. Utilizou-se 12 lectinas para avaliar o comportamento das células mucosas das brânquias de peixes eurialinos sob a condição do estresse das variações da concentração de salinidade. As lectinas distinguiram 4 tipos de células mucosas de acordo com sua especificidade com os glicoconjugados, que mostraram mudanças qualitativas e quantitativas relativas à variação das concentrações da salinidade. A resposta das células mucosas em reagir ou não com sítios de secreção de glicoconjugados é um dos mecanismo relacionado à capacidade adaptativa dos peixes eurialinos e a citoquímica de lectinas pode ser um método útil para tal monitoramento.
Palavras-chave: brânquias, salinidade, Poecilia vivipara
As brânquias do teleósteo são órgãos complexos revestidos por epitélio pavimentoso simples nas lamelas branquiais e, por epitélio pavimentoso estratificado nos rastelos branquiais e regiões interlamelares. Esses tecidos de revestimento são constantemente expostos à água, que contém diversos compostos químicos capazes de afetar sua integridade. A camada mucosa que cobre os epitélios branquiais parece agir como controle biológico muito sensível para absorver seletivamente ou capturar a informação dos índices da água (Perry & Laurent, 1993). A despeito destes fatos, nenhum conhecimento consistente está disponível nem sobre a composição de índices dos glicoconjugados dos tipos mucosos nem das células mucosas responsáveis pela sua produção. Sabóia-Morais et al., (1996) descreveu quatro células mucosas diferentes no epitélio da brânquia do guaru, espécie de peixes eurialino, e sugeriu um possível papel relacionado com a capacidade adaptativa destas espécies nas variações de salinidade do ambiente. Por meio do nosso trabalho nos propusemos a avaliar a capacidade de respostas das células mucosas das brânquias relacionando-as com as variações da concentração de salinidade nos peixes eurialinos.
Espécimes adultas do guaru (Poecilia vivipara) foram coletados no estuário da Base de Piscicultura de Itamaracá, localizada à margem direita do Canal de Santa Cruz, na Ilha de Itamaracá – PE (07º42’S; 34º50’W). Neste ambiente estuarino, as águas salobras possuem 20ml/l de salinidade final, característica química que foi mantida nos aquários de manutenção nos quais os peixes foram aclimatizados na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Outro grupo de animais que viviam em águas continentais foram coletados a jusante do Rio Botafogo – PE, o qual também deságua no canal de Santa Cruz. A partir do grupo de animais expostos a salinidade de 20 ml/l (S20), foram modificadas as salinidades de forma decrescente de maneira a obter-se os grupos expostos a: 10 ml/l (S10), 5 ml/l (S5) e 0 ml/l (S0). Após o período de adaptação devido à mudança de salinidade, os peixes de cada grupo experimental foram decapitados, as brânquias foram dissecadas e foram processadas de acordo com o método de inclusão em parafina convencional. A citoquímica de lectinas foi executada com as 12 lectinas biotinadas em secções de parafina. Para a análise morfométrica, as imagens das células foram capturadas e gravadas com o auxílio do software VIDCAP 3.2 e, posteriormente, as delimitações das regiões celulares necessárias foram feitas com o uso do programa IMAGELAB. A análise estatística foi realizada por meio da análise de variância e confirmada pelo Teste de Tukey.
Os quatro tipos de células mucosas foram facilmente identificados no epitélio branquial e demonstraram diferentes afinidades com as lectinas utilizadas. Essas células mostraram também mudanças qualitativas e quantitativas após submetidos às variações de concentrações de salinidades. As células do tipo I mostraram reativo-positiva na presença de UEA, mas a intensidade de reação foi aumentada de S20 para S0. As células do tipo II se localizam na região intermediária do filamento branquial, foram reativas com a maioria das lectinas utilizadas e mostraram alta diversidade de resposta sob a variação de salinidade. As células mucosas do tipo III são as células mais comuns do epitélio branquial do guaru e mostraram reatividade com quase todas as lectinas usadas neste experimento, mas a intensidade de reação das células mucosas para cada lectina variou fortemente entre as espécimes submetidas à variação de salinidade. As células tipo IV, foram as únicas células localizadas no arco branquial e foram reativo-positiva para as lectinas PHA-E4 e LCA nos peixes de S0, mas não para os peixes de S20.
O produto da reação das lectinas fica situado nas pequenas vesículas das células pavimentosas, nos grânulos das células mucosas e na superfície do epitélio branquial de grupos S0 a S20. A citoquímica de lectina mostrada poderá ser útil para demostrar a larga diversidade da secreção das células mucosas das brânquias. Essas secreções mucosas foram afetadas profundamente pelas circunstâncias ambientais, como foi demonstrado de acordo com as diferentes respostas submetidas às variações de salinidade. Infelizmente essas diferenças não foram reproduzidas nos homogenados de frações de brânquias por eletroforese bidimensional quando reagido com as mesmas lectinas. Provavelmente, isso significa que os glicoconjugados reativos com as lectinas detectados na citoquímica, estava em uma quantidade inferior à necessária para a obtenção dos resultados. A heterogeneidade nos índices de glicoconjugados nas células dos tipos II e III, faz com que estas sejam eleitas as mais sensíveis às reações e tem a maior capacidade de resposta de acordo com as variações de salinidade. Consequentemente, a potencialidade dos peixes a se adaptar nas variações de salinidade (Nolan et al, 1999) poderia ser devido à habilidade herdada das células mucosas das brânquias desenvolvidas muito mais nos peixes eurialinos.
Nolan, D.T.; R.L.J.M. Op’t Veld; P.H.M. Balm; S.E. Wendelaar Bonga. 1999. Ambient salinity modulates the response of the, tilapia, Oreochromis mossambicus (Peters), to net confinement. Aquaculture. 177: 297–309.
Perry SF, Laurent P (1993) Environmental effects on fish gill structure and function. In: RANKIN, J.C. & JENSEN, F. B. ed. Fish Ecophisiology. Chapman and Hall, London, 1993, 231-246p.
Sabóia-Moraes, S.M.T.; F.J.
Hernandez-Blasquez; D.L. Mota and A.M. Bittencourt. 1996. Mucous cell types in the branchial epithelium of
the euryhaline fish Poecilia vivipara.
J. Fish. Biol., London.
49: 545-548.
FONTE DE FINANCIAMENTO: Este trabalho foi financiado pela FAPESP, CNPq, FUNAPE-UFG e CAPES.