Título: O professor de piano em escolas públicas de música de Goiânia e seu perfil acadêmico e profissional

Autora: Vívian Deotti Carvalho – viviandeca@brturbo.com

Co-autora: Lúcia Silva Barrenechea – lucia.barrenechea@brturbo.com

Escola de Música e Artes Cênicas

 

Palavras-chave: Ensino de instrumento, Piano, Escolas Públicas

 

 

Justificativa/Referencial Teórico

 

Esta pesquisa foi realizada como atividade do projeto Prolicen, um programa de concessão de bolsas de iniciação científica, desenvolvido pela Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de Goiás, que visa incentivar a melhoria dos cursos de licenciatura da instituição e sua articulação com o ensino fundamental e médio.

O ensino do piano em Goiânia carrega uma tradição de décadas, e é considerado como referência em âmbito nacional. A formação de pianistas capacitados, com domínio técnico e expressivo tem acontecido desde a criação do antigo Conservatório Goiano de Belas Artes, que hoje é chamado de Escola de Música e Artes Cênicas da UFG. Com o passar do tempo, outras escolas de música foram fundadas, com o objetivo específico de atuar no ensino de instrumentos musicais em nível fundamental e médio. São escolas que, em princípio, deveriam ser centros de preparação de alunos para o ingresso em um curso superior de música. Esse objetivo tem sido atingido parcialmente. Acredita-se que não há uma articulação satisfatória sobre o que se espera do candidato ao curso de música na universidade e o que é abordado numa preparação desse aluno nessas escolas. Há, portanto a necessidade de se conhecer melhor o projeto pedagógico dessas escolas, suas escolhas de metodologias de ensino, para melhor identificar qual é o aluno que essas instituições esperam formar, incrementando assim, essa articulação entre universidade e comunidade.

            Entretanto, para travar conhecimento desses aspectos que envolvem o funcionamento dessas instituições de ensino, detecta-se a necessidade de primeiro identificar o professor que atua no ensino de piano nessas escolas, pois ao estabelecer sua formação acadêmica, sua experiência profissional e suas aspirações frente à filosofia de ensino proposta pelo seu local de trabalho, é possível entender como ocorrem determinadas situações do processo de ensino e aprendizagem e a interação professor-aluno na aula de instrumento musical.

            Este trabalho teve por objetivo, portanto, descobrir quem são os professores de piano em duas escolas públicas de música em Goiânia, Centro Livre de Artes e Escola de Artes Veiga Valle. Buscou-se verificar qual é o perfil em que se encaixam, e suas condições a respeito do preparo pedagógico, bem como investigar se buscam atualização de conhecimentos através de cursos de reciclagem, numa época onde as transformações e informações são processadas em notória rapidez.

 

 

Metodologia

 

Esse trabalho de pesquisa foi desenvolvido a partir da execução de várias etapas. Num primeiro momento foi realizado um levantamento de dados bibliográficos e documentais para que se pudesse investigar os aspectos didáticos inerentes à atividade de ensino do instrumento musical piano e sua relação com os princípios da Didática Geral. Em seguida, foi elaborado um questionário para ser aplicado em duas escolas públicas de ensino de música, a saber, Centro Livre de Artes (CLA) e Escola de Artes Veiga Valle, a fim de identificar o perfil dos professores de piano que atuam nessas escolas. Procurou-se investigar, por meio desse questionário, diversos aspectos que permeiam a atividade pedagógica desses professores, tais como sua formação pedagógica, experiência na área, sua visão de escola de música ideal, entre outros. Nem todos os professores atenderam à solicitação feita por estas pesquisadoras. Ao todo, foram respondidos quatorze questionários, sendo que dez questionários na primeira escola e quatro na segunda.

 

 

Resultados

 

Através dos questionários podemos observar que 10 professores do CLA são graduados em Bacharelado em Piano, 5 deles têm Licenciatura em Educação Artística e 8 possuem curso de especialização. Na Escola Veiga Valle, 3 professores tem Bacharelado em Piano, 2 tem o curso de Licenciatura, 3 cursaram ou estão cursando especializações, 1 tem Mestrado em Música e 1 ainda cursa o curso de Licenciatura em Piano. Pode-se notar, portanto, que pelo menos o curso de graduação é um pré-requisito para lecionar em tais instituições.

Todos os professores do CLA e Veiga Valle já ministraram aulas particulares ou já ministraram aulas em outras instituições. O tempo de exercício da docência varia entre 10 e 30 anos aproximadamente. É possível detectar que a grande maioria dos professores deu início às suas atividades de ensino quando ainda eram graduandos, o que é uma situação comum na área de ensino de instrumento musical.

As escolas oferecem o curso de piano para crianças até pessoas da terceira idade. Os professores, portanto, lecionam para todas as faixas etárias. Entre os entrevistados, há alguns que têm preferência por ensinar alunos de faixa etária específica. Na Escola Veiga Valle uma professora respondeu que gosta de lecionar para pessoas mais adultas, pois ela acredita que indivíduos maduros “têm mais responsabilidade, e mais interesse”. Duas professoras do CLA disseram que preferem ensinar crianças, pois, de acordo com elas “as crianças estão abertas a novidades”. Os demais professores das escolas não têm preferência por ensinar alguma faixa etária, sentem prazer por ensinar todas elas.

Todos os professores do CLA que responderam ao questionário já fizeram algum curso de qualificação ou reciclagem na área de ensino. As próprias escolas oferecem aos professores tais cursos. A preocupação em se manter atualizado e em constante reciclagem é percebida no relato de todos os entrevistados, revelando uma atitude positiva de profissionais que entendem a necessidade de suprir eventuais falhas de formação na área do ensino.

Ao serem questionados sobre sua opinião sobre as maiores dificuldades que o aluno enfrenta para estudar piano, houve um certo consenso nas respostas. De acordo com grande número de entrevistados, a falta de instrumento para o estudo diário e a falta de compromisso com o mesmo são alguns fatores que dificultam o rendimento satisfatório dos alunos. Todos os professores entrevistados acreditam que as escolas públicas de música devem exercer papel de celeiro preparatório para cursos superiores de música, pois vários alunos enfrentam a dificuldade de não ter acesso às escolas particulares. Eles teriam, assim, uma oportunidade de tentar o vestibular para um curso de música. Os professores aconselham a própria universidade a fazer uma parceria de incentivo com as escolas públicas para melhor exercer esse papel.

 

 

Conclusões  

 

Ao lançar um olhar sobre o ensino de piano em escolas públicas de música, como é o caso do Centro Livre de Artes e da Escola de Artes Veiga Valle, percebe-se que há um quadro muito mais complexo do que se possa imaginar. As duas escolas revelam, através dos questionários respondidos por seus professores, que há uma determinação ímpar em realizar uma proposta de ação pedagógica, e que cada um dos professores, aliados à direção de cada escola, persegue o objetivo de promover o acesso à música de maneira mais democrática e de maneira competente. O que se pode detectar é que nem todos os professores receberam o treinamento adequado para essa tarefa quando alunos num curso de graduação em música. A grande maioria se formou num curso de música que não prepara o professor de instrumento, mas sim o performer, o instrumentista. Em conseqüência disso, esses professores tiveram que buscar subsídios para realizar sua atividade docente após a conclusão de seu curso superior, ou paralelamente a ele.

Os professores das duas instituições acreditam que seria necessário estabelecer uma ponte mais sólida entre a universidade e essas escolas, para que se pudesse traçar um plano de ação conjunta, envolvendo todos os interessados em preparar satisfatoriamente o maior número possível de candidatos para realizar, de maneira competente, um curso superior de música. Essa parceria poderia beneficiar todos os elementos envolvidos, no sentido de promover tanto uma melhor formação do indivíduo que abraça a atividade de ensino, como daquele que quer aprender a fazer música.

                                        

Referências Bibliográficas

 

CAMPOS, Moema Craveiro. A Educação Musical e o Novo Paradigma. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.

CASELLA, A. El Piano. 10ª ed. Buenos Aires: Ricordi Americana, 1983.

HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2002.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2001.

NEUHAUS, Heinrich. The Art of Piano Playing. New York: Praeger, 1994.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Resumo

Esta pesquisa discute a importância de identificar o perfil do professor que atua no ensino de piano nas escolas públicas de música de Goiânia, mais especificamente nas escolas Centro Livre de Artes e Escola de Artes Veiga Valle, para que se possa compreender como ocorrem determinadas situações do processo ensino-aprendizagem e a interação aluno-professor na aula de instrumento musical. O trabalho apresenta uma análise de questionários aplicados nas escolas comparando informações obtidas de cada professor, com o intuito de apontar semelhanças e dessemelhanças de filosofia individual de ensino e interação com a proposta pedagógica de cada escola. Para, ao final, seja o presente estudo dirigido àqueles que atuam tanto no ensino, como na aprendizagem pianística, bem como aos que demonstram simples interesse pelo assunto.