1. TÍTULO
2. NOMES
Instituição: Faculdade de Letras – UFG
3. PALAVRAS CHAVES
Metáfora, aquisição, escrita.
4. JUSTIFICATIVA
A expressão de conceitos e significados é a razão de ser da escrita. É a partir dela que o aluno revela seu grau de percepção, de abstração de conhecimentos prévios e constituídos no ambiente escolar. Ao futuro professor de língua materna, portanto, é fundamental ma formação teórico-lingüística que dê conta dos vários processos de significação e re-significação materializados na escrita.
Eis aí uma temática revelando o fértil campo para investigações científicas que é a aquisição da linguagem, pensamento que tem nos impulsionado para o desenvolvimento de pesquisa nesse domínio. São investigações que têm como pressupostos o fato de que, numa ótica funcionalista, o usuário da língua traz para a situação comunicativa o conhecimento lingüístico e não-lingüístico que o identificam como ser de constituição social, psíquica e cognitiva (Casseb-Galvão, 2001, 2002, Casseb-Galvão, et al., 2003).
O reconhecimento dos aspectos inerentes ao processo de aquisição da escrita é interessante para o profissional de ensino que, atento para essas questões, saberá identificar as dificuldades e os avanços do aluno, poderá distinguir e avaliar melhor o grau de aquisição de sua clientela, e reconhecer como esse processo acontece. Conseqüentemente, o aluno será melhor orientado e a aquisição da escrita vista em suas multifacetas e gradualidades. Isso significa dizer que a concepção de aquisição da escrita que sustenta a investigação relaciona-se a domínio da modalidade escrita e da língua para a comunicação mais ou menos eficiente, e que se estende por vários anos da vida escolar. E, portanto, pressupõe que, para uma prática de ensino eficaz, o professor de língua portuguesa conheça as diferentes fases, os mecanismos e os processos envolvidos.
Essas considerações sustentam a pretensão de se reconhecer como se dá a aquisição de conceitos e significados não-imediatos, não-básicos, do tipo literal, no processo de aquisição das categoriase dos conceitos lingüísticos, em especial, das construções de valor metafórico.
Lakoff; Johnson (2002) mostram que a linguagem revela um imenso sistema conceptual metafórico que rege também nosso pensamento e nossa ação, ou seja, que nós vivemos por metáforas. De mesmo modo, pensam Heine et al. (1991).
Há ma clássica dicotomia semântica, os significados literais/significados metafóricos, que leva a outra dicotomia, a da linguagem cotidiana/linguagem literária. Segunda a tradição retórica, a linguagem figurada é um desvio da linguagem usual.
Pretendemos, questionando essas dicotomias e tradição, tratar a metáfora como um processo constitutivo da linguagem humana e, nesse sentido, mostrar que ela é inerente ao processo de aquisição da linguagem. Seguiremos, principalmente, as postulações desenvolvidas no clássico trabalho de Lakoff; Johnson (2002), que reconhece um sistema metafórico convencional que é a base da compreensão e produção das metáforas literárias. Assim, a expressão metafórica, a figura não é considerada um fenômeno periférico, desviante, mas sim um fenômeno central na linguagem e no pensamento. Casseb-Galvão (2002) descreve a metáfora como um dos mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento de significados gramaticais nos sistemas lingüísticos a partir de significados lexicais preexistentes.
São essas figuras, construções metafóricas, que pretendemos investigar, a partir da análise de textos de crianças dos cinco primeiros anos de vida escolar. A hipótese é que, na medida em que elas têm seu grau de aquisição da escrita aumentado e a leitura se instaura como uma atividade interativa, e não decodificadora, as crianças desenvolvem a capacidade metafórica, fruto da racionalidade imaginativa que é inerente a todo usuário da língua.
Lakoff; Johnson (2002, p. 65) dizem, por exemplo, que a maior parte de nossos conceitos fundamentais é organizada em termos de ma ou mais metáforas de espacialização, como feliz é para cima, felicidade é largura, tristeza é estreita, mais é para cima, racional é para cima, emocional é para baixo. Mas, há de se considerar que as nossas experiências física e cultural proporcional muitas bases possíveis para as metáforas de espacialização, e, por isso, sua escolha e sua importância relativa podem variar interculturalmente.
Para identificar e descrever a emersão e os tipos de metáforas, investigaremos a produção escrita de duas crianças em fase de aquisição da escrita, considerando-se os cinco primeiros anos de vida escolar: corpus M e B, caracterizado oportunamente.
5. METODOLOGIA
Alana Corpus M e outro que ela possa coletar.
Os dados de análise integram o corpus M, composto pela produção escrita de uma criança do sexo feminino, nos cinco primeiros anos de vida escolar, produzidos entre 1999 e 2003.
Investigaremos a produção escrita a partir do pré-escolar, 1a, 2ª, 3ª e 4ª séries. Investigaremos os textos escritos nos quatro anos, a partir de rigoroso controle das datas de produção, e arrolaremos os tipos metafóricos na ordem em que ocorrerem.
Será providenciada ma análise quantitativa dos dados. Faremos um cálculo em valores percentuais, tendo como base o número total de ocorrências de construções metafóricas para cada ma das séries e das crianças investigadas, a fim de providenciarmos ma análise comparativa.
A descrição das construções metafóricas e o reconhecimento da ordem de emersão na aquisição da escrita serão feitos a partir de análise qualitativa, baseada em leituras de obras arroladas na bibliografia especificada.
O projeto de pesquisa e os resultados da investigação serão apresentados em evento científico e integrarão o Relatório Final do Projeto.
(trabalho dela em sala de aula)
6. BIBLIOGRAFIA
FÁVERO, L. L. et. al. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. São Paulo: Cortez, 1999.
CASSEB-GALVÃO, Vânia C. Aquisição da escrita: teoria, reflexão e prática. In: HERNANDES, M. CASSEB-GALVÃO, V. C; FERREIRA NETTO, A.; FERREIRA, L. M. Relatório.
PROLICEN/2002. Universidade Federal de Goiás, curso de Letras. Catalão, 2003 (não publicado).
__________ Evidencialidade e gramaticalização no PB: os usos da expressão diz que. Tese de Doutorado em Lingüística. FCLAr/UNESP. Araraquara: 2001.
_________ A atuação de mecanismos desencadeadores de processos de gramaticalização. Revista Scripta, v. 4, no. 7. Belo Horizonte: PUC/Minas, 2000, p. 44-59.
HEINE et al. Gramaticalization.a conceptual framework. Chicago: The University of Chicago Press, 1991.
LAKOFF, George; JOHN, Mark. Metáforas da vida cotidiana. São Paulo: Mercado das Letras, 2002.
SMOLKA, Ana Luiza B. A criança na fase inicial da escrita. A Alfabetização como processo discursivo. São Paulo: Cortez, 1998.