Fracasso escolar: visão e versão do fracassado

 

Autores: Francisco Hudson da Cunha Lustosa

     Mayara Leão Barthasson

Unidade Acadêmica: Faculdade de Educação/ UFG

E-mail: myleao@yahoo.com.br / hudsonlustosa@yahoo.com.br

PROLICEN – 2004/2005

 

 

Palavras Chaves: Fracasso escolar – Exclusão – Repetência –

Reprovação

 

Fracasso escolar: visão e versão do fracassado

O discurso da escola tem sido muito bem aceito na comunidade docente, tratar o aluno como um ser incapaz de absorver, compreender e depreender a realidade se fez uma importante arma na acusação dos culpados pelos altos índices de reprovação escolar.

Mesmo que atualmente, pesquisas recentes demonstrem que suposições quanto a incapacidade intelectiva não são suficientes para justificar os elevados índices de fracasso do aluno, os educadores ainda insistem neste discurso obsoleto.

Segundo a Unesco, a taxa de repetência era de 24% no nível básico e de 18% no secundário. Nos dois casos, o Brasil é o recordista do subcontinente. Na educação básica, a Guatemala é a 2.ª colocada, com uma taxa de 15%. No ensino secundário, o País está à frente da Argentina, Costa Rica e Venezuela, todos com menos de 10% de reprovação em média.

Esses dados não diferem muito das estatísticas mais recentes divulgadas pelo Ministério da Educação. A taxa de repetência de 2000 – que usa dados de 1999 – é de 21,6% no nível fundamental e de 18,6% no médio

Atualmente, não se pode negar que buscam os avanços, mas mesmo assim estão barrados pelos preceitos quanto a situação sócio-econômica e cultural de origem da criança, ao longo da infância, determina a existência de uma população escolar diferenciada no que se refere às possibilidades de superar ou não as primeiras etapas da escolarização. Ainda que nos dias estes preconceitos pareçam já superados, os professores ainda profetizam quem irá obter ou não o sucesso e por mais que se negue o preconceito em relação ás classes menos favorecidas, eles pungentes em nossa conformação de sociedade.

O fracasso como prática pedagógica nas escolas, sejam elas de qualquer fase do ensino escolar, atua como uma forma de punir o aluno, mas até que ponto o professor é um sujeito neutro neste método de avaliar a quem o sucesso irá ou não ser atribuído?

O fato é que quem nunca teve voz ativa nestes episódios traumáticos foram os alunos, e em diversas situações podemos perceber a influência do nosso modelo de sociedade procurando mais uma forma de massacrar uma possível força contrária ao autoritarismo da instituição escolar.

Buscamos mais do que dados estatísticos sobre o fracasso escolar, esta é uma tentativa de encontrar quais são as vertentes da sociedade a esse respeito, como são considerados estes alunos repetentes, o que justifica eles se encontrarem á margem desta sociedade construída sobre os pilares do preconceito e a falsa prerrogativa da seletividade pelo empenho individual.

Mais do que uma justificativa lógica para a atuação deste tipo de formação, pretende-se a confirmação de como os métodos pedagógicos são influenciados pelos princípios da organização política e econômica da sociedade.

O pensamento e a prática pedagógicos buscam reverter este quadro através, não só, do questionamento do que ocorre no interior da escola, mas, principalmente, propondo novas estratégias de ação. É preciso ter consciência de que os mitos e álibis na realidade exercem um papel de mascaramento, pois são contaminados ideologicamente por inúmeros preceitos adotados nos passado e é a partir desse contexto ideológico que nas últimas décadas houve uma verdadeira busca á alguma forma de manter estas concepções vigentes na nossa sociedade, o que percebemos ter-se obtido êxito.

O aumento da demanda social por escola nos países industriais capitalistas da Europa e da América e a conseqüente expansão dos sistemas nacionais de ensino trouxeram consigo dois problemas para os educadores: de um lado, a necessidade de explicar as diferenças de rendimento da clientela escolar; de outro, a de justificar o acesso desigual desta clientela aos graus escolares mais avançados. Tudo isto sem ferir o princípio essencial da ideologia liberal segundo o qual o mérito pessoal é o único critério legítimo de seleção educacional e social.(...).

A explicação das dificuldades de aprendizagem escolar articulou-se na confluência de duas vertentes: das ciências biológicas e da medicina do século XIX recebe a visão organicista das aptidões humanas, carregadas, como vimos, de pressupostos racistas e elitistas: da psicologia e da pedagogia da passagem do século herda uma concepção menos heredológica da conduta humana — isto é, um pouco mais atenta as influências ambientais — e mais comprometida com os ideais liberais democráticos. A ambigüidade imposta por esta dupla origem será uma característica do discurso sobre os problemas de aprendizagem escolar e da própria política educacional. nela baseada, nos países capitalistas no decorrer de todo o século XX.” (PATTO,1993; pg.40)

Vale lembrar também que, dependendo da posição que ocupamos no sistema de ensino ou fora dele, podemos explicar o fracasso escolar também pelas carências dos professores mal preparados, desmotivados, sem se procurar conhecer mais profundamente as raízes históricas, estruturais e conjunturais dessas interpretações para, a partir delas,atuarem.

A questão deste projeto justifica-se pelo fato de que não é simplesmente reprovar, este ato interfere em fatores emocionais de pessoas que se encontram no inicio do percurso de sua formação política, social, educacional e cultural, e o professor é um agente que atua diretamente na formação da personalidade, da identidade cultural do docente, e tal como Miguel Arroyo questiona “Como reter esses delicados percursos humanos em que a criança e adolescente se formam e dormir tranqüilos?”.

Segundo Vitor Paro( 2001, pg.36 ), o aluno é a “matéria” sobre a qual se aplica o trabalho e cuja transformação se busca, tendo como principal elemento de modificação a atuação do professor como mediador do conhecimento, da cultura e valores de ética e sociedade, mas caso estes valores sofram qualquer deturpação poderão causar danos irreparáveis.

As atuações dos métodos avaliativos baseados em punições, ameaças e castigos têm sido elementos que desvinculam a realização do ensino/ aprendizagem e se observarmos os que são punidos por esta prática pedagógica fundamentada na repressão, os alunos, são eles que carregam em suas vidas acadêmicas frustrações e discriminação.

A transformação da prática pedagógica depende inteiramente da alteração da concepção de avaliação, pois a construção do processo avaliativo expressa o conhecimento da relação escola/ professor/ aluno. Se nesta relação, não se conseguir completar este ciclo, com certeza, as conseqüências recairão sobre a parte submissa desta relação, porque o mais difícil desta ”história” é admitir que o erro pode ser do professor em não conseguir superar as dificuldades de concretizar a relação do ensino/ aprendizagem.

Não buscamos isentar a autonomia do aluno nesta relação, mas buscar meios que permitam a criação de uma ponte que ligue o docente ao educador sem grandes traumas á formação da identidade pessoal e auto-estima de cada um. E tal como Paro diz:

“a verificação escolar, geralmente, sequer tem o propósito de corrigir rumos da escola, mas apenas separar os que podem e os que não podem continuar na próxima série. Os que são reprovados devem repetir o mesmo processo no ano seguinte, em geral, com o mesmo professor (ou professores) e com a utilização dos mesmos recursos e métodos do ano anterior. Para os reprovados, o absurdo da situação não é apenas que se espera todo um ano para se verificar que o processo não deu certo; o absurdo consiste também em que nada se faz para identificar e corrigir o que andou errado.”( PARO,2001; pg. 42)

Mais do que buscar a superação desses métodos avaliativos devemos discutir sobre a reparação dos nossos erros como sujeitos do fracasso escolar. Então, qual as conseqüências desta agressão ao processo de desenvolvimento social do aluno? Qual a visão do reprovado quanto a esta situação? Estas e tantas outras questões devem ser exploradas na busca de elucidar a melhor maneira de avaliar o desempenho do aluno.

 

 

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa qualitativa ainda que calcada em dados estatísticos, afinal, os índices também falam dos fenômenos sociais nos induzindo a novas perguntas.

Será realizada uma coleta de dados sistematizada que terá os seguintes passos:

a)     Identificação de a escola á ser pesquisada.Foi priorizado estudar o ensino gratuito por isso foi definida como objeto de estudo o Centro federal de Educação Tecnológica de Goiânia em sua divisão de ensino Médio;

b)     Levantamento de dados junto á secretaria da escola para encontrar os alunos reprovados: nome, endereços e demais dados que contribuam com a pesquisa;

c)     Entrevistas com os alunos / entrevistas com os pais em momentos individualizados para que não influenciem no discurso do outro;

d)     Entrevistar professores, de modo á recolher suas justificativas quanto á reprovação escolar;

e)     Transcrever os dados coletados e analisá-los, criando-se um quadro de referência para entender o que foi dito e o que se procura nas representações dos sujeitos entrevistados;

f)       Elaboração do texto do relatório da pesquisa;

g)   Divulgação dos dados da pesquisa;

h)   h)Elaboração de artigo e publicação em periódicos nacionais.

 

Bibliografia

ARROYO, Miguel. Fracasso – sucesso: o peso da cultura escolar e do ordenamento da educação básica. In:ABRAMOWICZ, Anete (orgs.). Para além do fracasso escolar.Campinas: Papirus,1997. p. 11 – 23.

 

COSTA, Messias.O rendimento escolar no Brasil e experiências de outros países. São Paulo: Loyola, 1990.

 

DALBEN, Ângela de F. Conselhos de classe e avaliação: Perspectivas na gestão pedagógica da escola. Campinas, SP: Papirus, 2004.

 

DIMENSTEIN,Gilberto (org.).Fomos Maus Alunos. Campinas, SP: Papirus, 2003.

Escola Sem Sala de Aula. Campinas, SP: Papirus, 2004.

 

HOFFMANN, Jussara. Pontos e contrapontos. Porto Alegre: Mediação, 1998.

 

LÜDKE, Menga (org.). O professor e a pesquisa. Campinas: Papirus, 2001.

 

PARO, Vitor H. Reprovação escolar: renúncia á educação. São Paulo: Xamã, 2001.

------------------- Qualidade de ensino: A contribuição dos pais. São Paulo: Xamã,1998.

-------------------Por dentro da escola pública. São Paulo: Xamã, 1995.

 

PATTO, Maria Helena S. Introdução á psicologia escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

------------ A produção do fracasso escolar: historias de submissão e rebeldia. São Paulo:T. A. Queiroz, 1993.

 

SEVERINO, Joaquim A. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2003.

 

WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. Petrópolis – RJ: Vozes, 1992