Título: A Educação Ambiental na formação dos alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas

 

CARVALHO, A. L. ICB/UFG/, dryd7@hotmail.com   

GUIMARÃES, G. M. A. ICB/UFG, gisleneavelar@brturbo.com

 

 

Palavras-chave: formação de professores; educação ambiental; licenciatura em Ciências Biológicas; ensino superior.

 

 

Justificativa

 

            A questão da Educação Ambiental vem sendo discutida em vários países, desde 1965; em 1972 ela atingiu o âmbito mundial, adquirindo um caráter de formação integracionista, a partir de 1977. (MEDINA; SANTOS, 1999; LOUREIRO, 2004)

            A Carta Brasileira para a Educação Ambiental (ECO 92), recomenda ao poder público, federal, estadual e municipal, o cumprimento e a complementação da legislação e das políticas correlatas, bem como a articulação de programas e iniciativas governamentais, pelo MEC, que, por sua vez, deve estabelecer metas para que seja implantada a Educação Ambiental no currículo do ensino superior.

No entanto, no que diz respeito ao curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), nos dias de hoje, percebe-se que o espaço da Educação Ambiental no currículo ainda é restrito. Se o licenciando deseja inteirar-se do tema, ele tem de buscar uma especialização, como formação complementar.

Os cursos de Licenciatura preparam professores para a educação básica, onde, segundo as diretrizes e os parâmetros curriculares nacionais, os valores ambientais devem ser formados e consolidados. A formação de professores tem tido relevante destaque nos debates sobre educação no Brasil, desde a década de 70, no entanto, tal discussão, voltada para as questões ambientais, ainda se encontra pouco investigada.

Nesse sentido, é nosso propósito, investigar aspectos relacionados à preparação do licenciando para o desenvolvimento da Educação Ambiental na prática pedagógica, na perspectiva de contribuir para o aprimoramento da EA tanto no ensino superior quanto na educação básica. 

 

 

Metodologia

 

Esta pesquisa é do tipo qualitativa e para sua realização optou-se pela entrevista semi-estruturada como instrumento de coleta de dados. Inicialmente, foram realizadas três entrevistas para validação do roteiro, que serviram para o aprimoramento do instrumento.

As entrevistas são gravadas, transcritas e analisadas procurando-se na fala dos licenciandos, elementos que evidenciem suas concepções sobre noções e conceitos fundamentais da educação ambiental, tais como: meio ambiente; desenvolvimento sustentável; problemas ambientais; a dimensão da educação ambiental; bem como, suas reflexões sobre a formação profissional que tiverem no decorrer do curso, referente à educação ambiental. Os dados coletados são analisados à luz do referencial teórico que está sendo construído e reconstruído conforme os elementos evidenciados nas mesmas, a partir da revisão bibliográfica feita inicialmente.

O grupo em estudo são os alunos do último ano do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFG, do ano de 2004, tendo como meta alcançar 50% dos alunos do curso matutino e noturno.

 

 

Análise de dados

 

Em relação à definição de meio ambiente, os resultados parciais indicam que os licenciandos em biologia têm uma visão restrita de meio ambiente, considerado como o “lugar” onde estão os seres vivos, seja urbano, rural ou “natural”, dando ênfase aos seus aspectos físicos. 

Sobre a questão da Educação Ambiental e seu papel na sociedade, as abordagens foram, de forma geral, voltadas para o bem estar do homem. Nesse sentido, a Educação Ambiental cumpriria a função de possibilitar mudanças de comportamentos e práticas que visem a conservação/preservação do ambiente, que evitaria os problemas ambientais, no intuito de servir à sociedade.

Os entrevistados demonstraram insegurança e até mesmo falta de conhecimento sobre o conceito de desenvolvimento sustentável. Inicialmente sugerem ter domínio da questão, no entanto, expõem argumentos evasivos. Obtivemos até mesmo resposta negativa, ou seja, a entrevistada disse não ter conhecimento do termo.

Conforme o depoimento dos alunos, o programa das disciplinas e as aulas ministradas pelos professores do curso de Ciências Biológicas da UFG, não contribuem para que o licenciando, como profissional, possa desenvolver trabalhos em educação ambiental. Acreditam que a fragmentação dos conteúdos transmitidos e a falta de atenção dos professores à essa questão, segundo os alunos, até mesmo pela deficiência na sua formação profissional em relação ao tema, são os maiores responsáveis pela ausência da Educação Ambiental na formação do licenciando.

Nesse sentido, a aquisição de informações pelos variados meios de comunicação é um fator bastante evidente no que se refere a algumas questões, como em relação aos problemas ambientais. Influenciados pela mídia, respondem prontamente que os grandes problemas são a água, o lixo e a poluição. Após uma breve reflexão, alguns se lembram de outros fatores relevantes como o capitalismo/consumismo.

Buscando averiguar se o futuro educador se considera preparado para promover a Educação Ambiental, percebemos que, de forma geral, eles não se consideram preparados, mesmo que, em alguns casos, sintam-se capazes de buscar essa formação e em outros, de ter ideais que permitam o desenvolvimento da educação ambiental, apesar da falta de domínio de estratégias para esse fim.

 

 

Conclusões

 

A partir dos dados das entrevistas, podemos concluir que os alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFG estão ainda muito distantes do que se propõe para um profissional preparado para promover a Educação Ambiental em ambientes escolares.

Percebemos na fala dos alunos, a dicotomia homem/natureza, fundada na visão cartesiana.(BRÜGGER, 1999; GONÇALVES, 1989).

Segundo Gonçalves (1989) a oposição homem/natureza teve início com as idéias de Descartes, com a separação sujeito/objeto, constituindo-se no centro do pensamento moderno contemporâneo. Para as concepções cartesianas, a natureza é percebida como mero objeto, fonte de recursos naturais e o homem, em oposição à natureza, é visto como o centro do mundo. Os problemas ambientais, hoje, exigem uma visão de complexidade, que inclui as relações entre a esferas de participação humana: sociosfera; tecnosfera; biosfera (DÍAZ, 2002)

Em relação aos grandes problemas ambientais, é preciso uma discussão mais aprofundada nos cursos de graduação, pois apesar de alguns licenciados fazerem referências a problemas centrais, relacionados à esfera social, como o consumismo/capitalismo, a visão da maioria ainda está voltada para as conseqüências da ação humana na biosfera, como o lixo, por exemplo. (TALAMONI; SAMPAIO, 2003).

A idéia de desenvolvimento sustentável (SACHS, 1993; SORRENTINO, 2002; DIÁZ, 2002) é essencial para a mudança de paradigma da relação homem/natureza, bem como para sustentação da vida no planeta, mesmo considerando as ambigüidades que esse termo encerra (BRÜGGER, 1999), sendo, portanto, necessária sua abordagem nos cursos de licenciatura.

 

 

Referências bibliográficas

 

BAETA, Ana Maria B. et ali (2002) Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez Editora.

BRASIL. (1999) Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 27 abr.

BRÜGGER, Paula (1999) Educação ou adestramento ambiental? Florianópolis: Editora Obra Jurídica.

DÍAZ, Alberto Pardo (1995) Educação Ambiental como Projeto. Porto Alegre: Artmed Editora SA.

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. (1989) Os (des)caminhos do meio ambiente. São Paulo: Contexto.

LOUREIRO, Carlos F. B. (2004). Trajetória e fundamentos da educação ambiental. São Paulo: Cortez.

SACHS, Ignacy. (1993). Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo: Studio Nobel.

TALAMONI, Jandira L. B. e SAMPAIO, Aloísio C. (2003) Educação ambiental: da prática pedagógica à cidadania. São Paulo: Escrituras Editora.

 

 

Órgão de fomento: CNPq