OS TEXTOS NO LIVRO DIDÁTICO:INVESTIGANDO GÊNEROS E PRÁTICAS DE LEITURA

BRANDÃO,I.P.;ROSSI, M.A.L.; SANTOS,A. R.- CAMPUS DE CATALÃO/UFG

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palavras – chave – livro didático, gêneros, textos , leitura

JUSTIFICATIVA/FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA- Atualmente, o ensino de língua portuguesa principalmente no que se refere às séries iniciais do ensino fundamental , tem sido o centro dos debates em todo o país, no que se refere aos problemas ligado a evasão e repetência. As discussões  realizadas apontam a necessidade da escola trabalhar a leitura e escrita de forma a inserir o aluno na cultura letrada. 

Para isso a organização dos Parâmetros Curriculares Nacionais propõe como meta a ser alcançada pelo ensino de língua portuguesa a formação do aluno leitor que compreenda os diverso textos que circulam socialmente. Assim, para garantir a aprendizagem de fato, as escolas precisam trabalhar os diferentes gêneros de textos que permeiam a comunicação humana.

Desta forma, o objeto deste trabalho foi investigar os gêneros textuais presentes nos livros didáticos da 1ª a 4ª série publicados a partir da década de  70 aos adotados após a publicação dos PCNS, no sentido de perceber se os documentos do MEC trouxeram mudanças na organização dos manuais didáticos. levar o aluno a ler é um dos objetivos da escola e habilidade exigida pela sociedade para o cidadão se inserir na cultura letrada. Sendo assim, a compreensão do texto implica perceber que o ato de ler não se esgota apenas na decodificação da palavra escrita mas na leitura de mundo, ou seja, a interação dos diversos níveis de conhecimento: o lingüístico, o textual e a experiência de mundo levam ao aluno a construir o significado do texto.

            Assim  a necessidade da escola trabalhar com a diversidade dos gêneros de textos é que suscitou a realização desta pesquisa, com o intuito de investigar as praticas de leitura e quais os gêneros textuais trabalhados no ensino de 1ª a 4ª série. O objetivo foi perceber se a discussão apontada pelos PCNs vem sendo acompanhada pelas práticas de ensino de língua materna.

Os gêneros textuais não se caracterizam como formas estruturais estáticas, cristalizadas e totalmente definidas. Segundo Marcuschi(2002) são muito mais famílias de textos que se caracterizam enquanto atividades sócio-discursivas.Bronckart  (2003) ao definir o texto como produtos da atividade humana que estão articulados às necessidades, aos interesses e às condições de funcionamento das formações sociais nas quais são produzidos, diz que foram elaborados ao longo da história, diferentes espécies de textos. Para Bakhtin (1997) a língua escrita  é marcada pelos gêneros do discurso, tanto os secundários(literários, científicos, ideológicos) como os primários(aqueles que caracterizam as interações cotidianas dos círculos familiares, reuniões sociais,etc.).Assim, pode-se afirmar  que os gêneros do discurso organizam  tanto as nossas produções discursivas como as formas gramaticais e que, todos os usos lingüísticos são situados no espaço e no tempo, e resultados de práticas sociais testadas e desenvolvidas que se realizam nos gêneros. Bakhtin frisa ainda é que um texto está sempre se relacionando com os outros textos que o precederam e que o sucederão, constituindo-se  assim um elo na cadeia de comunicação verbal. Uma vez que todo texto está sempre estruturado em um determinado gênero textual , o conhecimento da diversidade e do funcionamento dos gêneros é fundamental tanto para a produção quanto para a compreensão, já que a identificação do gênero de um texto é o ponto de partida  para a sua compreensão. Essa identificação só será possível na medida  em que o leitor  adquire experiência de leitura e sabe o que buscar em cada texto lido.

 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS- Para verificar os gêneros textuais presentes nos livros didáticos adotados antes da publicação dos PCNs, foram analisados uma coletânea de 1989 “Descobrindo o mundo  de comunicação e expressão”, de Cloder Rivas Matos e Roberto de M. Mesquita (contendo 32 textos) para a 3ª série e (34 textos) no livro para a 4ª série do ensino fundamental, “Festas das Palavras” publicado em 1987 de Dirce Guedes de Azevedo para a 1ª Série do ensino fundamental o livro possui 32 textos e “Como é fácil Português” de Maria Emilia Correia e Mauro Galhadi publicado em 1994 para a  4ª série já este livro contém 25 textos.

            Nestes livros predominam textos pertencentes aos gêneros literários (108), como histórias infantis, contos fábulas e poemas. Fora do gênero literário só encontramos duas cartas e um texto informativos. A maioria dos textos colocados nos livros  aparece  em forma de fragmentos, com narrativas incompletas que dificultam a compreensão do todo do texto e nem levam o aluno a fazer inferência bem como a não identificar os gêneros a que pertence cada texto.

             Nos livros analisados percebe-se que a elaboração das questões nem sempre está de acordo com o contexto social e cultural do aluno, por predominar a técnica em detrimento do significado, assim as atividades referem-se apenas à percepção do que está explicito no texto.A maioria das questões organiza-se de forma que, para respondê-las o alunos necessite apenas fazer o pareamento das palavras da pergunta com as palavras do texto para respondê-las.

            Os livros didáticos pesquisados após a publicação dos PCNs, foram  os adotados em 2003 nas escolas estaduais de Catalão. Foram os livros: “Viver e Aprender” de Claudia Miranda e Maria Luiza D. Rodrigues para a 3ª Série do ensino fundamental e Linguagem Viva de Cláudia Miranda e Maria Luiza D. Rodrigues, para a 3ª série do ensino fundamental.

No livro Viver e Aprender percebe-se que, apesar da predominância de gêneros literários, já aparece uma diversidade maior de gêneros como textos informativos e história em quadrinhos. Os textos literários ainda aparecem fragmentados e as questões propostas seguem sempre a mesma estrutura de interpretação do texto como estudo de palavras, interpretação, produção de texto e atividades de gramática.  Já com relação aos textos informativos, observa-se que as atividades buscam levar o aluno a perceber o gênero ao qual estes pertencem, levando o aluno a fazer inferências e construir um significado que vai além da superfície do texto.

No Livro Linguagem Viva  percebe-se uma diversidade ainda maior de gêneros textuais. Além dos  literários, o livro traz textos do gênero jornalístico, explorando questões ambientais e diversidade cultura, receitas, história em quadrinhos e outros, procurando abarcar a diversidade de gêneros que circula fora da escola.

            Nos livros analisados publicados após os Pcns percebemos que houve um avanço significativo com relação à diversidade de gêneros de textos.  Além disso trazem atividades que possibilitam aos alunos construir textos a partir de suas experiências de vida.

Mas ainda é preciso adotar com mais ênfase os PCNs de Língua Portuguesa que propõem  para a prática de leitura na sala de aula,  um trabalho voltado para a necessidade de se compreender a língua viva que se observa nas interações sociais, marcadas por aspectos sócio-históricos e culturais.

CONCLUSÃO - Portanto na análise das investigações feita sobre o uso dos gêneros textuais, presentes nos livros didáticos das séries iniciais antes e após a publicação dos PCNs, concluímos que o ensino de português já apresenta algumas mudanças no que se refere  principalmente aos gêneros apropriados pela escola para trabalhar a leitura. Percebe-se na organização dos manuais didáticos uma preocupação em trabalhar os usos sociais da leitura e escrita no sentido de letrar o aluno.Este é um passo que consideramos importante para se  romper com um ensino voltado para o reconhecimento e memorização de formas construído no quadro do ensino gramatical-frasal. 

Desta forma, este projeto também nos permitiu contribuir para o nosso crescimento pessoal e principalmente o crescimento profissional.

 

 

Bibliografia

 

 

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal.  2. ed. São Paulo: Martins fontes. 1997.

 

BRONCKART, Jean Paul.  Atividades de linguagem, textos e discursos: Por um interacionismo sócio-discursivo.  São Paulo: Educ., 2003.

 

DIONISIO,  Ângela P. , MACHADO, Anna R., BEZERRA,  Maria A. (Org.)  Gêneros Textuais & Ensino.  Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

 

FREIRE, Paulo.  A importância do ato de ler e três artigos que se complementam.  São Paulo: Cortez, 1982.

 

KLEIMAN, Ângela. Texto e Leitor, Aspectos Cognitivos da Leitura. São Paulo: Cortez, 1989.

 

KLEIMAN, Ângela & MORAES, Silva. Leitura e Interdisciplinaridade: Tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Mercado de Letras, 1999.

 

MARCUSCHI, Luiz  A.  Da Fala Para a Escrita: Atividades de Retextualização.  São Paulo: Cortez, 2001.

 

ROJO, Roxane. (Org.)  a prática de Linguagem em Sala de aula: praticando os PCNs. S.P. Campinas: EDUC - Mercado de Letras, 2000.