DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA SOB UMA PERSPECTIVA CULTUR
Bolsista: Patrícia da Silva Soares
Coordenadora do projeto: Maria do Carmo Ferraz Tedesco
Unidade acadêmica: CEPAE
E-mail: patriciassoares@ig.com.br
carmotedesco@bol.com.br
Palavras-chave: descolonização, diversidade, identidade, cultura
Justificativa
“O estudo sobre a história dos povos da África tem sido relegado, no Brasil, a um segundo plano. Esse deveria ser um fator de estranhamento, afinal, os africanos constituem um importante grupo entre os “formadores do povo brasileiro” (TEDESCO,2003, p.1).
Neste projeto de pesquisa fizemos um recorte temporal na história africana focalizando o final do século XIX até final do século XX, período este que o continente passou pela colonização por países europeus e pelo processo de descolonização. Um período de transformações, de grandes mudanças, e berço da atual cultura africana.
A África incluída no currículo como parte da história da Europa continua uma grande desconhecida para a maior parte das pessoas. A colonização e descolonização, por exemplo, é analisada como resultado do Congresso de Berlim e da expansão imperialista. Deixa-se de lado a reflexão sobre o que isso significou para as populações africanas, o quanto à presença européia transformou a vida nas regiões, o que significou, para os africanos, ser “assimilado” pela cultura cristã, ocidental, como as populações resistiram ou foram subjugados a esse processo. Neste projeto, buscamos abordar a cultura como um parâmetro para a construção do processo de descolonização da África.
A cultura, a principal característica do homem, desenvolveu-se simultaneamente com o seu equipamento fisiológico. Ruth Benedict escreveu em seu livro O crisântemo e a espada, que ‘’a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo’’ (BENEDICT,1972).
Ao estudar a África a partir dos parâmetros da pluralidade cultural, poderemos tentar enxergar a cultura do outro como apenas diferente e não inferior, reconhecer o direito de cada povo ter a sua cultura e respeitar a sua diferença. Mudando a visão sobre o africano podemos modificar a nossa visão deturpada sobre os afrodescendentes brasileiros , entender a cultura do outro e a historicidade de sua instituição, nos ajuda a enxergar e entender nossas próprias diferenças e igualdades, ajuda na luta contra a discriminação racial aqui no Brasil.
A Lei Federal 10.639/03 determina a obrigatoriedade do ensino História da África no ensino básico. Nos parece adequado incluirmos nesta abordagem a descolonização da África, dando assim uma nova visão sobre o continente africano e seus países, com toda sua diversidade. As novas propostas curriculares apresentadas às Escolas (PCNs) criaram brechas que possibilitam a superação das lacunas/preconceitos presentes nos currículos.
O projeto de pesquisa África, descolonização sob uma perspectiva cultural se propõe a contribuir para uma numa nova abordagem, um novo olhar, sobre a História da descolonização da África em nossos currículos e livros didáticos marcados pelo eurôcentrismo e pelo preconceito, através da elaboração de textos, para serem trabalhados nas salas de aula e, também, pela abordagem do fator cultural como um parâmetro para a construção deste processo de descolonização.
Se pretendemos que o nosso aluno compreenda conhecimento histórico como conhecimento construído é preciso dar-lhes a oportunidade de vivenciar o “fazer histórico” para tanto nos propomos a promover a seleção, bem como propor atividades de análise e interpretação de documentos e textos historiográficos produzidos no contexto do colonialismo, contrapostos, por exemplo, a textos e documentos produzidos durante as lutas pela independência. Com esse procedimento pretendemos que o aluno compreenda que se o conhecimento histórico é provisório e passível de revisões, sua produção é rigorosa, feita dentro das regras do método de investigação próprio da disciplina. Um olhar sobre os textos “paradidáticos” que abordam o processo de descolonização (BRUIT, CANÊDO, LINHARES) nos permite uma primeira interpretação relacionada à perspectiva predominantemente política com que o tema tem sido tratado. Essa linha de investigação vem sendo enriquecida com uma abordagem mais cultural, que busca compreender principalmente o não sucesso daqueles projetos de independência (FRY, LOPES, NUNES).
A metodologia do trabalho histórico reveste-se de muitas particularidades, uma delas é pensar que os elementos que dispomos nem sempre são “dados” – no sentido tradicionalmente compreendido pela ciência positiva que busca por fatos/dados indiscutíveis –, buscamos, portanto, compreender os processos de produção das leis, instituições, princípios de organização, afirmações e da produção do conhecimento e da “verdade” em cada região e época histórica estudada.
Grande parte dos objetivos formulados para esse projeto foi alcançada, resta ver o resultado dentro da sala de aula, esperamos que sejam os melhores possíveis. Que os alunos tenham a partir da História da África, melhores fundamentos para novos estudos sobre cultura afro-brasileira e questões étnico-raciais.
O objetivo geral deste projeto, que era construir uma proposta didático-metodológica para o ensino da história da África no momento da descolonização, considerando a diversidade cultural e os problemas decorrentes da adoção generalizada de modelos desenvolvimentistas ocidentais, foi alcançado com a produção de dois textos: um texto teórico para o professor e um texto didático para o aluno.
A complexidade do assunto, descolonização da África sobre uma perspectiva cultural dificultou o alcance de algumas de nossas pretensões iniciais. Como trabalhávamos com um projeto para livro didático esbarramos na universalização dos assuntos, teria que tratar todas as descolonizações dos países africanos em um mesmo curso. Como sabemos a diversidade africana é muito grande, e precisaria de estudos complexos sobre cada um dos países, então optamos por fazer uma análise panorâmica ressaltando os pontos de convergência no processo histórico destes, mas sempre utilizando alguns exemplos pautados na diversidade dos países.
Por outro lado outros objetivos de nosso projeto foram alcançados, como: o de analisar a periodização até aqui apresentadas para o processo de descolonização dos países africanos; o de trabalhar com textos historiográficos e documentos textuais e iconográficos que possibilitem aos alunos uma discussão sobre os processos de colonização e descolonização da África; trabalhar a diversidade cultural desse continente, ultrapassando as visões generalizadoras que vêem o continente africano como território único; trabalhar com a África hoje, e as possíveis visões deturpadas sobre seus países; trabalhar a cultura africana hoje no pós-independência.
BENEDICT, Ruth. O Crisântemo e a Espada. São Paulo: Perspectiva, 1972.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. O Saber Histórico na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 1997.
BRUIT, Hector H. O Imperialismo. SP: Atual/ Campinas: Ed. UNICAMP, 1988.
CANÊDO, Letícia Bicalho. A Descolonização da Ásia e da África.São Paulo:Atual; Campinas,SP:Editora da Universidade Estadual de Campinas,1986.
FRY. Peter (org.) Moçambique. Ensaios. Rio de Janeiro: Ed.UFRJ,2001.
LINHARES, Maria Yedda Linhares. A luta contra a metrópole (Ásia e África). SP: Brasiliense,1981.
LOPES, José de Souza Miguel. Poder Político e Educação em Moçambique: entre a tradição e a modernidade. Revista Brasileira de História. Confrontos e Perspectivas. SP: ANPUH/ Contexto vol. 16, n° 31e 32, 1996, p.274-302.
NUNES, Célia. A Armadilha.Rio de Janeiro: Educam/Clacso,2000.
TEDESCO, Maria do Carmo F. África, Afrodescendentes e o Ensino de História. Projeto de Pesquisa, 2003.
Fonte de financiamento do projeto: UFG
Goiânia, 03 de outubro de 2004