A HISTÓRIA DO TAEKWONDO NO ESTADO DE GOIÁS E O PROCESSO DE ESORTEIVIZAÇÃO DESSA ARTE MARCIAL NO BRASIL

RIOS, GLEYSON BATISTA

MARCASSA, LUCIANA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

gbrios@ig.com.br

lu.marcassa.uol.com.br

 

Palavras-chave: cultura corporal, taekwondo, educação física escolar.

 

Justificativa/referencial teórico

O presente trabalho é resultado de um estudo que se propôs contar (reconstruir) a história do Taekwondo em Goiás e analisar o processo de esportivização dessa arte marcial no Brasil.

No contexto escolar, defendemos uma Educação/Educação Física crítica e, no quadro das Teorias da Educação Física nos apoiamos na chamada proposta crítico-superadora, que segundo Castellani Filho (1998), “no que concerne à questão da metodologia do ensino” (p. 65), pode ser classificada como propositiva sistematizada, além de se pautar “no Materialismo Histórico Dialético, enquanto método de análise da realidade [...] situa-se dentre as teorias críticas da educação tendo-se como referencia o quadro das Concepções Filosóficas da Educação elaborado por Saviani” (p. 66).

A cultura corporal, objeto de estudo da educação física, é expressa através dos temas: jogos, esportes, ginástica, dança e lutas, onde, “deve-se levar em consideração que as formas de expressão corporal dos alunos refletem os condicionantes impostos pelas relações de poder com as classes dominantes no âmbito de sua vida particular, de seu trabalho e de seu lazer” (Coletivo de Autores, 1992, p. 64). Dentro do contexto da Educação Física Escolar, as lutas (incluindo o Taekwondo) fazem parte da cultura corporal, sendo assim conteúdo a ser trabalhado na escola.

Para tanto, é indiscutível a importância da história e, a apropriação dessa, acreditamos, ser condição sine qua non para que “os indivíduos da espécie humana [...] se tornem humanos” (Saviani, 1995, p. 11).

Existem algumas lutas que se destacam em nossa sociedade, como a capoeira, por representarem a história de uma classe oprimida que só possuía como arma o seu próprio corpo. Outras são as divulgadas através dos filmes, os quais distorcem o seu sentido filosófico enfocando apenas das técnicas de defesa e ataque como manifestação de violência, como se essa fosse sempre necessária ou a única solução. Também temos as lutas que se submeteram a um processo de esportivização e são divulgadas pelas confederações e federações através de competições e apresentações.

Entendendo essas lutas como temas relevantes e necessárias como conteúdos da educação física no ambiente escolar, pois é preciso desmistificar o que é colocado nos filmes a seu respeito, é preciso explicar o que leva a luta a aderir ao processo de esportivização e buscar o quadro de esportes olímpicos, é preciso mostrar a realidade dos lutadores/atletas de alto rendimento como um sonho muito caro. “Esse alerta vale nos meio da Educação Física. Inclusive para o judô que foi, entre nós, totalmente despojado de seus significados culturais, recebendo um tratamento exclusivamente técnico” (Coletivo de Autores, 1992, p. 76). Além disso, as lutas fazem parte da cultura corporal e como tal, é parte constitutiva do processo de construção da história.

Algumas pessoas ajudaram, e continuam ajudando, para que a prática do Taekwondo cresça no território brasileiro. Entre essas pessoas que já fazem parte da história do Taekwondo, por seus feitos, decisões e outros, estão os pioneiros da luta no Brasil. Essas pessoas podem auxiliar na reconstrução da história do Taekwondo, contando sua história de vida dentro dessa arte.

 

A história oral é um recurso moderno usado para elaboração de documentos, arquivamento e estudos referentes à vida social de pessoas. Ela é sempre uma história do tempo presente e é reconhecida como história viva (Meihy, 1998, p. 17).

Metodologia

Dentro deste contexto, elegemos como marco inicial, para nossa pesquisa histórica, a chegada do Taekwondo no Brasil em 1970, e como marco final o ano de 2000, ano que o Taekwondo foi uma das modalidades do quadro de disputas oficiais dos Jogos Olímpicos.

Nos valemos do materialismo histórico-dialético como referencial teórico.

 

Posso acrescentar que acredito ser o marxismo uma abordagem muito melhor da história porque está mais visivelmente atento do que as outras abordagens àquilo que os seres humanos podem fazer enquanto sujeitos e produtores da história, bem como àquilo que, enquanto objetos, não podem. E, por falar nisso, é a melhor abordagem porque, como virtual inventor da sociologia do conhecimento, Marx elaborou também uma teoria sobre como as idéias dos próprios historiadores tendem a ser afetadas pelo seu ser social (Hobsbawn, 1998, p. 77).

 

A pesquisa teve inicio com a revisão bibliográfica a respeito do assunto, tanto da teoria da história, quanto da arte marcial Taekwondo.

Trabalhamos com a história oral temática para a construção das fontes orais, criando “projetos temáticos que combinam algo de história oral de vida. Nesses casos, o que se busca é o enquadramento de dados objetivos do depoente com as informações colhidas” (Meihy, 1998, p. 52).

Os depoentes do trabalho com a história oral foram escolhidos a partir dos nomes que se mostraram expressivos na construção da história do Taekwondo brasileiro e goiano ao analisarmos revistas, jornais e livros e, aqueles que possuem cargos nas instituições esportivas.

Escrevemos a história utilizando cruzamento das fontes orais e escritas (jornais, revistas, documentos, etc.). Com o objetivo de fazer uma análise crítica do processo de esportivização do Taekwondo, utilizando a bibliografia especializada em sociologia do esporte.

Análise de Dados

Situamos o Taekwondo enquanto arte marcial e como ele ganha espaço no mundo. Demonstramos a estreita relação da história dessa arte com a própria historia da Coréia do Sul. Tratamos os resultados da pesquisa histórica, no Brasil e no Estado de Goiás, contextualizando aos fatos que ocorriam no mundo no período de 1970 a 2000 e buscando fora desse período, quando necessário, a conjuntura que possibilitou/levou ao processo de esportivização.

Entendemos que a contribuição desse estudo se encontra no sentido de municiar os professores para o trabalho do Taekwondo enquanto conteúdo, da Educação Física.

Percebemos uma estreita relação entre a esportivização do Taekwondo e a relação entre a Coréia do Sul com os EUA. Hoje a Coréia do Sul é quase um espelho dos EUA, característica construída desde o final da Segunda Guerra Mundial, quando dos EUA tomam esse território para evitar o avanço comunista, que durante a Guerra da Coréia foi representado pela Coréia do Norte. A rápida industrialização da Coréia do Sul e a tentativa de se firmar como uma potência capitalista em muito pode ter contribuído para o processo de esportivização – já que o esporte moderno é uma expressão típica da cultura burguesa – na tentativa de mostrar ao mundo uma manifestação cultural nacional adequada à sociedade capitalista.

Percebemos, também, uma estreita relação entre o período ditatorial vivido pelo mundo nas décadas de 60 e 70, financiado pelos Estados Unidos, no qual o Brasil e a Coréia do Sul foram países que adotaram tal regime, e a chegada do Taekwondo no Brasil; já que o Taekwondo chega ao Brasil a pedido do presidente Médici, para instrumentalizar os soldados da Delegacia de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo com técnicas que podem ter sido usadas para “qualificar” as torturas dos contrários ao governo.

No Brasil, o Taekwondo passa a demonstrar elementos característicos do esporte moderno no mesmo ano que o Movimento Esporte Para Todos começa a influenciar o país, isso pode ter favorecido a sua disseminação.

Em Goiás, o Taekwondo sempre foi trabalhado com característica do esporte moderno, pois quando o Mestre Sobrinho chega ao Estado já havia adaptado ao estilo Kuk Ki Won, da federação mundial de Taekwondo (WTF), que simplificou o currículo exigido em cada graduação; mas que nem por isso perdeu completamente elementos que caracterizavam tal modalidade como arte marcial.

A dificuldade de acesso a fontes escritas pode ter dificultado na exposição das exatidões das datas, mas acreditamos, pela forma que analisamos os dados, que a fidedignidade dos fatos ocorridos foram alcançadas.

Conclusões

O trabalho consegue demonstrar a necessidade da reconstrução de alguns elementos que se perderam com o processo de esportivização, para que o Taekwondo não deixe de ser uma Arte Marcial e passe a ser uma simples luta-esportiva.

Bibliografia

CASTELLANI FILHO, Lino. Política educacional e educação física. Campinas, SP: Autores Associados, 1998.

SAVIANI, Demerval. PEDAGOGIA Histórico-Crítica: Primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados, 1995.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. (Coleção magistério 2º grau. Série formação do professor).

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de história Oral. São Paulo: Loyola, 1998.

HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

 

Órgão De Fomento: PROLICEN