Quem lê um conto... Abre uma janela para a história. Utilização de conto nas aulas de história.

Prof. Dr. Getulio Nascentes da Cunha

Bolsista: Eva Rodrigues da silva

Campus de Catalão- GO

End. Eletrônico getulioncunha@bol.com.br

Palavras- chave: Ensino de História; contos; literatura; interdisciplinaridade.

 

           

          No âmbito escolar uma problemática tem-se apresentado constante no que se refere ao aluno, professores e demais pessoas envolvidas nas áreas educacionais se deparam com a falta de interesse de uma maioria em ler textos escritos. Buscar aprofundar reflexões e procurar alternativas para isso é o que pensamos estar desenvolvendo ao utilizar o conto nas aulas de história, levando em conta as propostas dos pensadores das relações existentes entre história e literatura, ambas áreas do conhecimento. Esperamos que isso venha contribuir para o hábito da leitura escrita, tendo em vista as inúmeras imagens e opções nas mais distintas formas de informação que lhes são muitas das vezes acessíveis e vêm ocupando espaços em suas vidas. Apesar da importância dessas novas formas de comunicação, a escrita deve ser privilegiada, pois possui características  e especificidades próprias, nesse sentido qualquer tentativa que possa contribuir no sentido de aprendizagem se torna válido.

Esse trabalho interdisciplinar constitui para a história algo interessante, ao aproximar-se de outra área do conhecimento no caso específico a literatura  e, dentro do gênero literário, o conto, acredita-se  ser um instrumento de aprendizagem em que ao utilizá-lo o aluno não possa apenas ler um texto mais aproximado aos seus interesses, mas observar o tipo de linguagem histórica presente, e a partir daí criar suas próprias reflexões.

Diante de tais propostas, esse trabalho se desenvolve a partir de uma metodologia que busca levar em conta a “revolução documental” que permite usar o conto como um documento na produção do conhecimento histórico, num modelo desenvolvido numa perspectiva da denominada Nova História Cultural, contando com pensamentos de White, LaCapra  e Chartier, entre outros. Eles trazem para nossa reflexão o quanto torna-se importante esse dilatar das fronteiras entre a literatura e a história. Essas áreas do conhecimento possuem pontos em comuns. Tanto uma como a outra são narrativas, assim sendo elas precisam levar em conta aspectos imaginários em cada produção, a narrativa ficcional pode transitar pela história como esta última pode fazer o mesmo.  Sandra Pesavento  chama a atenção dentro dessa proposta de análise para a idéia de representação. Segundo ela, isso tem possibilitado aos homens verem a si mesmo e a diversidade coletiva ao seu redor, sendo a representação construída historicamente. Esses pensamentos vêm somar-se à nossa proposta de estarmos atentos a todas essas perspectivas que são relevantes para as relações entre  literatura e história.

No decorrer dos nossos estudos pudemos notar que o autor não está alheio à sociedade na qual ele vive. Como nos elucida Ria Lemaire, as preocupações dos autores estão no processo histórico do presente e isso ela passa a observar nos estudos feitos na obra “Casa-grande e Senzala” de Gilberto Freire. Assim também é o conto, na sua produção ele apresenta característica que lhe é peculiar e passa ser escrito pelos seus autores no seu presente  como um acontecimento passível de acontecer. Ele tem sido no decorrer dos anos motivo de análise de vários teóricos, muitas concepções foram e são formuladas a seu respeito, no entanto, parece ser consenso o tratar-se de uma narrativa não comprometida com o que de fato aconteceu. Como nos mostra Nádia Batella, ficção e realidade estão atrelados sem que haja um limite próprio para cada um, mas se pode observar na escolha dos mesmos, como no caso dos que já foram escolhidos por nós (“O homem que sabia javanês” de Lima Barreto, “A maior ponte do mundo” Domingos Pellegrini e “15 cenas de descobrimento de Brasis” Fernando Bonassi) como esses contos trazem em si conflitos vividos pela sociedade ou por aspectos que são inerentes ao ser humano, como política, trabalho, namoro, desilusões ao seu redor, enfim tudo que de certa forma afeta o meio no qual se vive. O leitor de posse do conto, ao observar as vivências dos personagens se envolvem atingindo  seu clímax, pois no momento que lêem  deixam de ser meros leitores e passam a sentir-se parte integrante do mesmo, absorvendo para si um dos seus personagens.

Porém, é preciso levar em conta que ao estar utilizando o conto nas aulas de história termos em mente não ser ele um relato histórico tal qual  o jornal nos apresenta. Ele vai nos mostrar uma estética do autor, mas podemos encontrar no mesmo um momento histórico ou mudanças de comportamento de uma dada sociedade, ou seja, é uma obra ficcional que tem sua estética sua parte ficcional, mas que trás também uma representação da realidade vivida pelo autor.

Discuti-se até que ponto a História age de forma diferente. O historiador fundamenta-se em documentos que ele não tem como provar se seu objeto lhe traz uma verdade absoluta ou não, nesse sentido ao analisar esse documento falando de coisas criadas por ele, a história se aproxima da ficção, daí a preocupação de muitos pensadores de que a história não seja uma área de conhecimento que venha competir com a ficção. No entanto, é relevante salientar que a história não é uma ficção de sentido literário, pois a literatura se vale da ficção para construir seu pensamento, e a história ao produzir conhecimento com o fato acontecido acaba por deparar com possibilidades dentre várias outras possibilidades.  Por conseguinte, é importante estar transitando em outras áreas do conhecimento que venham contribuir para um melhor desempenho dos alunos ao mesmo tempo isso nos permita interpretar o real, contudo, delimitando nossos questionamentos e interpretações dentro de uma perspectiva histórica. Entre os diferentes discursos literários e históricos, ambos possuem características que lhes são peculiares.

Reunindo  com os professores do ensino de história numa determinada escola apresentamos estas propostas, agora partiremos para colocá-las em prática. Para isso usaremos os seguintes recursos: aulas expositivas, interpretativas com discussões feitas pelos alunos, construção de mural e avaliações individual e coletiva, essas aulas serão em duas etapas ou mais se necessário. O conto “o homem que sabia javanês” de Lima Barreto será apresentado aos alunos da 7ª série do ensino fundamental, “A maior ponte do mundo”, Domingos Pelligrini para a 8ª série e “15 cenas de descobrimento de Brasis”, Fernando Bonassi, 6ª série, este porém, devido diversos temas que o traz irá ser preciso fazer um recorte. Esses contos foram escolhidos por trabalharem aspectos relevantes na sociedade,  as alterações comportamentais tais como repressões, preconceitos, política e trazer no seu contexto formas visíveis do período histórico vivenciado por muitos.

 Intentamos assim, fazer um trabalho que venha contribuir ao prazer de leitura, e seja uma  alternativa  em que professores de outras disciplinas possam perceber  que é possível trabalhar textos diferentes dos didáticos, para que suas aulas se tornem atraentes aos  alunos, e com isso venham produzir suas próprias reflexões dentro de cada área do conhecimento.

 

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