ELABORAÇÃO DE JOGOS E ATIVIDADES LÚDICAS PARA ENSINAR O CONCEITO DE LEI DE LAVOISIER

 

Bazílio, H. O. e Soares, M. H. F. B

hugobazilio@hotmail.com e marlon@quimica.ufg.br

 

Instituto de Química – Universidade Federal de Goiás

 

Palavras-chave: Lavoisier; jogos didáticos

 

Introdução

 

A lei da conservação da massa (ou Lei de Lavoisier), embora tenha grande importância no aprimoramento de diversos conceitos químicos para os alunos, como sua relação com o desenvolvimento das primeiras teorias atômicas (relação importante não só no campo histórico, mas com enormes potencialidades na didática)1 e em toda a compreensão de transformações químicas e da própria química como um todo (“a química se fundamenta enquanto ciência a partir da sua primeira lei científica: a Lei da Conservação da Massa ou Lei de Lavoisier”2), é enormemente negligenciada por professores e livros didáticos. Além da discussão química do conceito de tal lei, ela pode fornecer importante campo de desenvolvimento cognitivo em crianças em idade de iniciar o ensino médio.

A idéia de conservação de massa só é concebida pela criança após o seu desenvolvimento no período das operações concretas (estágio de operações concretas)3. De acordo com trabalho de NUNES et. al.2, “a realidade social de uma grande parte das crianças brasileiras não é diferente daquelas crianças testadas por MONTOYA”2, onde percebe-se “um déficit cognitivo em função das condições de vida que não permitem o avanço da coordenação das ações dos indivíduos...". De acordo com o mesmo trabalho, grande parte das crianças de oito até treze anos não apresentou nenhuma noção de conservação de massa, o que pode ser um fator preocupante, pois o ensino fundamental e médio engloba alunos nessa faixa etária. Por outro lado, pode-se deparar com pessoas mais velhas em tal condição de aprendizado. Temos, então uma variedade enorme do público alvo de um possível remanejamento das atividades e filosofias na educação em química, de acordo com os PCN e propostas pedagógicas atuais.

Como alternativa para o ensino da lei de Lavoisier, com vistas a contornar a problemática exposta acima, optamos por trabalhar com o lúdico.  Segundo CHATEAU4,

“O jogo dá origem a inúmeras atividades superiores, senão a todas, arte, ciência, trabalho, etc. Ele constitui, portanto, como vestíbulo natural dessas atividades; é por seu intermédio que a criança pode chegar até elas. Sabe-se assim que se pode buscar no jogo um meio de educação”.

            Sendo a química uma ciência com exigências eminentemente abstratas (trabalha-se, na química com noções não muito acessíveis ao mundo palpável da criança), o jogo demonstra ser um ótimo instrumento para fazer abstrair conceitos químicos através de substitutos imaginários4.

Crianças no estágio de operações concretas já demonstram alto nível de sociabilização, e começam a lidar com a quebra de regras impostas anteriormente, até sua terceira infância. Para CHATEAU4, “a cooperação ativa aparece aos poucos e só se desenvolve plenamente com a adolescência, nos seres imbuídos de personalidade”. Temos, portanto, alunos com capacidade de cooperação, o que favorece o uso de jogos cooperativos na aquisição de conhecimentos. Para o adulto, o jogo pode ser empreendido por puro prazer. “esse jogo adulto se anima e reencontramos nele a alegria de nossa infância 4.

 CHATEAU4 afirma ainda que a maior parte das atividades novas podem ser como jogo para nós. Pretende-se, com o jogo, fornecer meios de questionamento para que o aluno possa avaliar seu posicionamento frente às questões sugeridas. Assim, pode-se trabalhar com conflitos de idéias, que possibilita aos alunos decidir qual idéia acreditar e assimilar5. O conceito “lei de Lavoisier” é um tema muito fértil para o conflito de idéias, pois sua aparente fragilidade e simplicidade desmoronam frente a questões complicadas que podem ser levantadas. Teremos, então uma situação extremamente favorável à aquisição de conhecimentos baseada no encontro do aluno com o novo e na resolução de situações problema que o jogo traz.

Métodos

Neste trabalho propõe-se um jogo semelhante ao “CARMEN SANDIEGO” onde o aluno é um detetive que percorre um caminho de pistas elaboradas com o intuito de que solucione a problemática com conhecimentos a respeito do pensamento químico do século XVIII em contraste com o atual.

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica com o intuito de conhecer os fatores históricos e filosóficos em que se encontrava a França durante a Revolução Francesa (principalmente no que se referia à química) e apresentar os personagens que conviveram e se relacionaram com Lavoisier no período da revolução francesa. O contexto do jogo é permeado pelo conflito científico da época, relacionado com a validade ou não do flogístico.

A execução do jogo em quatro grupos de no máximo 4 alunos, cada grupo tem por objetivo percorrer vários caminhos e pistas, resolver problemas e elaborar respostas para que possa caminhar durante o jogo. O jogador é um detetive que tem a missão de impedir o assassinato de Lavoisier.

São oferecidas ao jogador informações a respeito da situação geral da época, das personalidades e das concepções (científicas e políticas) de cada suspeito; além de uma suposta carta de ameaça a Lavoisier. Para suas investigações, o aluno começa a percorrer um caminho que pode começar, por sua escolha, pelas bibliotecas científica, histórica ou mística ou pela sala de interrogatório. A cada etapa esses locais apresentam novas pistas. Depois de ter visitado um dos locais da investigação é apresentado ao aluno uma pergunta que lhe indicará o próximo local a visitar.

A pontuação do jogo é medida através do êxito de cada jogador (grupo) durante o andamento do jogo. Ao final do jogo, cada jogador terá colhido pistas e respostas suficientes para elaborar o seu parecer quanto ao suspeito de assassinato, embasado no conceito de conservação das massas.

 

Todas as pistas fazem menção aos suspeitos, à carta de ameaça ou a alguma pista anterior pela qual o aluno passou; os caminhos conduzem à resolução do jogo e estão interligados, mas a seqüência correta utiliza a mesma linha de raciocínio e é, portanto, mais eficiente na elaboração dos resultados.

Ao percorrer todo o caminho (correto ou não, dependendo da resposta do jogador ao jogo) os alunos devem discutir quais são os suspeitos reais e apresentar seus motivos (que são conflitos científicos), além de revelar suas pistas. Após essa discussão cada grupo estará em condições de apontar ou não o verdadeiro criminoso.

 

Resultados e Discussão

 

O jogo proposto apresenta-se ainda em situação de construção e aprimoramento. Os resultados esperados são fundamentados em conceitos teóricos. Para construção desses conceitos são necessárias várias informações que permitam ao aluno conceber e elaborar suas conclusões de forma simples e construindo seu conhecimento através da junção de suas informações preliminares e as informações fornecidas pelo jogo.

O jogo está em estado de finalização com o direcionamento das informações e sua reelaboração de acordo com as falhas de fornecimento de informação ao jogador durante o jogo detectadas ao final do protótipo.

A próxima fase deste trabalho é sua aplicação em sala de aula e posterior recolhimento de resultados.

Referências Bibliográficas

1. Leal, M. C.; “Como a química funciona.”; Química Nova na Escola, 14, 2001.

 

2. Nunes, M.; Santos, L. M. P. M. e Soares, E. C.; “Noções de conservação das quantidades físicas em alunos do ensino fundamental: diagnóstico preliminar.” www.ufmt.br/revista/arquivo/rev/s/nunes.html; Consultado em 31/05/2004.

 

3. Piaget, J.  O desenvolvimento das quantidades físicas na criança 

 

4. Chateau, J. O Jogo e a Criança. Summus Editorial, São Paulo, 1987.

 

5. Soares, M. H. F. B. Tese de Doutorado. Universidade Federal de São Carlos, 2004.