Barragem Serra do Facão – Rio São Marcos, “o outro lado da moeda”

CAC 196

 

Palavras chaves: barragem, migrações compulsórias, atingidos por barragens, crise de energia.

 

Área do conhecimento: Ciências Humanas

 

 

Justificativa:

Há mais de 30 anos se fala sobre a construção de uma Barragem no Rio São Marcos bacia do Alto Paraná e, com a crise de energia em 2000, a questão foi retomada e um grupo de empreendedores, denominado GEFAC (Grupo de Empresas Associadas Serra do Facão) formado por um conglomerado das empresas Votorantin Cimentos, Alcoa Alumínios, DME energética e Companhia de Alumínio Ltda, ganhou a concessão da barragem, ou seja, ganhou a concessão para explorar o rio São Marcos por 35 anos.

Desde então o GEFAC realizou um forte de esquema de propaganda em favor do empreendimento, como se o mesmo fosse algo imprescindível que geraria inúmeros benefícios a todos. O que não se mostrou e não se mostra é que este modelo de geração de energia é altamente predatório para o ambiente, e para a sociedade. Destrói ecossistemas inteiros, desloca compulsoriamente milhares de famílias e privatiza as águas doces do país. A barragem Serra do Facão se insere nesse contexto.  É uma proposta de barragem em um rio da cabeceira do Paraná e afeta um território imenso que vai além do território brasileiro.

O vale do rio São Marcos é ocupado por centenas de pequenos produtores que tiram da terra seu sustento e ainda contribuem para a economia do município ao colocar no mercado arroz, feijão, milho, laranja, queijos e outros produtos para cesta básica. Se estas famílias deixarem de produzir e passarem a meros consumidores isso vai gerar um transtorno social e econômico na cidade, e isso não é mostrado pelas empresas, pelos políticos e menos ainda pela mídia. Para pesquisar estas questões está sendo utilizado o projeto de pesquisa intitulado “Expropriados da AHE Serra do Facão – rio São Marcos: uma trajetória de incertezas” desse projeto de pesquisa se originaram vários sub-projetos de pesquisa e projetos de extensão. Dentre eles, destaca-se o projeto de extensão “Barragem Serra do Facão – rio São Marcos, o outro lado da moeda”, que é desenvolvido em forma de um programa de rádio.

O projeto se constitui em mídia alternativa na qual os ameaçados pela barragem têm oportunidade de se manifestar. E ainda discute com a sociedade as questões que são omitidas pelos empreendedores e pelos políticos locais. A sociedade precisa tomar conhecimento do outro lado da questão, do lado dos atingidos que são tratados como obstáculos a serem removidos, mesmo que custe a vida, a cultura, a dignidade e a terra de trabalho de milhares de pessoas. A sociedade catalana falta conhecer os dois lados da moeda e este projeto de extensão, tem possibilitado estabelecer o debate acerca do assunto.

 

Objetivos:

  1. Discutir com a sociedade catalana e região a questão da construção de barragens, o modelo energético brasileiro, e especialmente o processo de implantação da Barragem Serra do Facão;
  2. Garantir a memória de um segmento social em processo de transformação;
  3. Socializar as informações levantadas pelo projeto de pesquisa: “Expropriados da AHE Serra do Facão – Rio São Marcos: uma trajetória de incertezas”;
  4. Proporcionar aos atingidos pela barragem de mostrar a sua opinião acerca da mesma;
  5. Fortalecer o movimento popular contra a barragem Serra do Facão e a luta pela preservação do rio São Marcos.

 

Metodologia/Procedimentos

 

O projeto é desenvolvido através de um programa de rádio diário, com o mesmo nome e vai ao ar ás 8h 15min, tendo duração de 5 minutos de segunda à quinta e nas sextas o programa é ao vivo com duração de 10 minutos.

O programa tem como coordenadora a bolsista do PROBEC que se encarrega de fazer a programação de cada dia, definir o tema e convidar os participantes. As participações estão assim distribuídas: na segunda-feira o programa fica na responsabilidade da bolsista do projeto, na terça da CPT (Comissão Pastoral da Terra), quarta-feira da Diocese de Ipameri, quinta-feira do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e na sexta-feira o programa fica na responsabilidade do curso de Geografia e tem a participação de vários segmentos organizados da sociedade. O programa de 6º feira é aberto ao público para participação ao vivo, enquanto os programas dos outros dias da semana podem ser gravados antecipadamente.

Nos programas estão sendo abordados temas relacionados: à crise de energia, fé e política, questão de terra de trabalho, questões ambientais – impactos ambientais causados por barramentos de rios, migrações compulsórias, movimentos populares, direitos dos atingidos e ameaçados pela construção de barragens e, por fim, trabalho e cultura.

 

População-Alvo: População de Catalão e região

 

Local de realização: O projeto é desenvolvido em Catalão, na Rádio Cultura AM

 

Resultados (finais ou parciais)

 

O presente projeto de extensão vem cumprindo todas suas propostas, fazendo com que toda a população de Catalão e região repense a questão de construção de barragens, especialmente a AHE Serra do Facão. O projeto teve uma grande aceitação pela população, pelo fato de mostrar o outro lado da moeda, ou seja, o lado da questão que é omitido pelos empreendedores da obra e pelos políticos. O lado da população atingida, seu cotidiano, suas expectativas, fortalece o movimento popular de resistência que cresce e ganha adeptos a cada dia e a cada programa. Discute os impactos sociais e ambientais do atual modelo energético brasileiro, e assim começa a instalar a dúvida acerca da questão e mostra as possibilidades que o Brasil têm em energias alternativas, menos devastadoras.

Hoje é comum, na cidade, nas feiras, nas ruas, nas escolas, nas empresas, as pessoas questionarem a construção da barragem, pois o presente projeto põe em xeque o modelo energético unimodal, a privatização da água e da energia e, sobretudo, a destruição da vida nas suas várias manifestações, que o rio garante, inclusive a vida de centenas de camponeses. O rio São Marcos correndo em seu leito, sem barramentos é o último grande rio da bacia do Alto Paraná, preservar este rio é preservar a vida.  

O projeto já é desenvolvido desde junho de 2003 e estava previsto para se encerrar em 28 de novembro de 2003, mas devido à repercussão que tem alcançado, houve solicitação para que se continuasse pelo menos até que a situação dos atingidos seja definida, seja suspensão da licença de Implantação ou a negociação com todos os atingidos, se não conseguir impedir a construção da barragem.

É mais uma contribuição da Universidade Federal de Goiás e do curso de Geografia no sentido de efetivar o seu papel na transformação da sociedade.