PENSANDO A SALA DE AULA:DA EDUCAÇÃO INFANTIL ÀS SÉRIES INICIAIS

 

 MENDONÇA, J. C.; MOURA, J. G.;NASCIMENTO,L. A.;ROSSI,M. A. L.;TARTUCI, D.

CAMPUS DE CATALÃO /UFG

 

JUSTIFICATIVA- A preocupação em discutir aspectos teóricos e práticos do processo ensino-aprendizagem  com professores da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental foi que motivou a elaboração desse projeto. O objetivo é contribuir para que os professores, ao refletirem sobre suas ações educativas, construam novos conhecimentos e implementem práticas que visem a formação global do aluno. O projeto foi encaminhado a partir de solicitação  da escola feita  à coordenação do Curso de pedagogia do CAC/UFG, com o objetivo de promover a formação continuada dos professores e desenvolver projetos de ensino voltados para as necessidades dos alunos.

Para as professoras coordenadoras  do projeto, o momento de discussão com professoras da escola-campo, surgiu como oportunidade para um estreitamento das relações e estudos efetuados no decorrer do curso. Além disso, por a escola estar situada em um bairro que atende famílias de baixa renda que apresentam  um quadro de problemas sociais e econômicos, o projeto está  contribuindo para a implementação de programas educacionais voltados para o acesso da sociedade aos recursos culturais relevantes para a intervenção e participação na vida social.

Paralelamente às atividades de encontro com os professores, foi pensada também uma atividade a ser realizada  por uma aluna do curso de pedagogia com os alunos de uma sala de alfabetização da mesma escola visando trabalhar com as crianças atividades voltadas para as práticas sociais de leitura e escrita.E, ao mesmo tempo, promover a atuação da aluna professora, contribuindo para sua formação. Assim,surgiu a opção de utilizar  o jornal na sala de aula,  como possibilidade de tornar acessível aos alunos os gêneros jornalísticos, diferentes dos textos que geralmente circulam no âmbito escolar.

Nosso objetivo é levar os alunos a usufruírem momentos e condições para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Para isso, estamos desenvolvendo um programa de atividades utilizando jornal como instrumento de aprendizagem numa turma constituída de 17 crianças, em processo de alfabetização. O jornal oferece muitas possibilidades didáticas, contendo uma diversidade de textos com diferentes conteúdos, amplo repertório de informações e notícias com questões da atualidade. Portanto, é um rico material para ser explorado em sala de aula, podendo contribuir para que esses alunos sejam leitores e também produtores de textos variados. Queremos com esta proposta levar essa turma a conhecer os vários gêneros textuais que constituem o jornal e com base nestes produzirem outros.

Acreditamos que ao desenvolver esse trabalho estamos contribuindo para que os alunos nele envolvidos tenham experiências significativas com o manuseio do jornal, despertando-os para o prazer de ler e de se informar, bem como para os textos que circulam fora da escola, não apenas decodificando, mas entendendo o sentido dos textos e o seu valor para a comunicação. Preocupação esta presente nas discussões e nas propostas desenvolvidas com as professoras da escola.

Dessa maneira, trabalhamos com o texto de jornal buscando todos os aspectos deste dentro do contexto. Levando o aluno a perceber o gênero em que o texto se manifesta, a função, a estrutura, a intertextualidade, a intencionalidade do autor etc.

O jornal oferece essas e outras tantas possibilidades, o seu uso favorece o aprendizado não só das aulas de Português, mas também das outras disciplinas, pois traz informações que viabilizam a produção de conhecimento nas diversas áreas.   Optamos pela utilização do jornal como material didático porque sabemos que o mesmo, bem como outros meios de comunicação, são instrumentos valiosos que ao serem utilizados como recursos didáticos, facilitam e enriquecem a prática da sala de aula. Nesse sentido, o material utilizado contribui de forma eficaz para o desenvolvimento da leitura e da escrita.

Para nortear nosso trabalho buscamos a discussão realizada por Faria(1992). Segundo esta autora, com o pressuposto de que a leitura prepara os alunos para a escrita, o professor deve desenvolver atividades de língua portuguesa que associem a leitura e a escrita numa relação dialética. A partir da leitura de jornal em sala de aula pode-se chegar à produção de textos jornalísticos, numa atividade prática de língua, pragmática, sem interferência direta de treinamento gramatical ou da sistematização da língua. (Faria, 1992,p.12) Utilizaremos jornal como instrumento de aprendizagem, por ser o mesmo portador de gêneros textuais diversificados que serão utilizados para a prática de produção textual.

Segundo Marcuschi (2002, p. 35), o trabalho com a diversidade de gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Na escola o livro didático é comumente o único portador de textos utilizados para o ensino de língua portuguesa, embora tal material traga uma relativa variedade de gêneros textuais, estudos mais aprofundados revelam que estes são sempre os mesmos. Podendo ser o trabalho com jornal uma possibilidade de levar os alunos a conhecerem e produzirem gêneros textuais diferentes dos que circulam apenas no universo escolar.

Todos os textos sejam eles orais ou escritos, manifestam-se num ou noutro gênero textual. Para Douglas Biber (apud Marcuschi, 2002, p.34), os gêneros são geralmente determinados com base nos objetivos dos falantes e na natureza do tópico tratado, sendo assim uma questão de uso e não de forma. Os gêneros textuais fundamentam-se, portanto, em critérios sócio-comunicativos e discursivos, não em critérios lingüísticos e formais como é o caso dos tipos textuais.

 Para os PCNs (Parâmetros Curriculares da Língua Portuguesa)  é importante o aluno ter contato com uma grande variedade de material impresso para que leiam textos do mundo e não apenas do livro didático.(PCN, 1997, p.55).

O  trabalho  de leitura e escrita na escola não deve ficar restrito ao livro didático, é necessário propiciar às crianças o acesso aos diversos materiais lingüísticos.Assim as atividades com o jornal se inserem nesta perspectiva, visto ser este, portador de textos diversificados, repleto de informações e de modelos que podem ajudar o aluno a criar textos de aplicação prática como os que circulam na sociedade.

Pretendemos valorizar neste trabalho, assim como nas discussões com os professores, o caráter interativo, dialógico e social da linguagem, bem como seus usos e funções. Para isso, buscamos a contribuição na teoria de aprendizagem de Vygotsky e na enunciativa de Bakhtin.

OBJETIVOS-Os objetivos do trabalho são auxiliar no desenvolvimento da leitura e da escrita das crianças a partir dos gêneros textuais que constituem o jornal, proporcionar momentos de leitura e escrita significativas, além de letrar o aluno, levando-o a perceber os textos que circulam socialmente.Com os professores o trabalho visa a realização de discussões teóricas sobre o trabalho docente, e a partir daí abrir caminhos para a construção de práticas educativas voltadas para um ensino mais significativo, além de elaboração de projetos que promovam a formação global do aluno.

METODOLOGIA- As ações do projeto vêm sendo desenvolvido através de encontros semanais com os alunos de uma sala de alfabetização que conta com 17 crianças, com duração de duas horas. E encontros quinzenais com as professoras da escola.O trabalho com os alunos vem sendo desenvolvido pela aluna/bolsista do projeto.Em cada encontro procuramos explorar  um aspecto do jornal com os alunos, como as cartas do leitor, primeira página do jornal, manchete,  reportagens, seção de brincadeiras e outras. Os jornais utilizados  até agora são os suplementos infantis dos jornais O popular e Folha de São Paulo. A cada encontro é explorada com os alunos a leitura dos textos e produção textual dos diferentes gêneros. Com os professores da escola  estão sendo discutidos aspectos teóricos do processo ensino-aprendizagem que são selecionados a partir das demandas colocadas pela escola campo e de acordo com as áreas de formação  das professores participantes do projeto.

RESULTADOS PARCIAIS-O que se percebe até agora no que diz respeito ao trabalho com os alunos é que as atividades vêm chamando a atenção dos alunos para os diferentes gêneros de textos, e levando-os a uma leitura mais significativa, que vai além da mera decodificação da palavra. Nas produções dos alunos também já se percebe uma tentativa de construir textos com uma função comunicativa  e não apenas palavras ou frases isoladas.Com as professoras observa-se que estas vêm percebendo uma necessidade maior de planejar suas atividades de sala de aula, no sentido de destacar não só metodologias de ensino, mas, principalmente os conhecimentos construídos com as atividades. Atualmente as professoras estão envolvidas  com a elaboração de um projeto interdisciplinar que envolve todos os alunos da escola. A elaboração do projeto tem levado-as a perceber que para a implementação de transformações nas suas práticas educativas, faz-se necessário o estudo teórico, que muitas vezes fica esquecido nos planejamentos da escola.

O projeto está sendo desenvolvido na escola Allan Kardec, no município de Catalão-Go.Trata-se de uma instituição particular  de ensino de caráter filantrópico, que oferece ensino gratuito. Os funcionários e professores são remunerados pela prefeitura e programas sociais. A escola atende 170 alunos de jardim I à quarta série do ensino fundamental.

BIBLIOGRAFIA-

FARIA,Maria Alice de Oliveira. O jornal na sala de aula.4ª ed.São Paulo: Contexto,1992.

KLEIMAN, Ângela & MORAES, Silvia. Leitura e Interdisciplinaridade:tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Mercado de Letras,1999.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros textuais : definições e funcionalidade.In.Dionísio,Ângela  Paiva, MACHADO, Anna Raquel e BEZERRA, Maria Auxiliadora. Gêneros Textuais & Ensino. Rio de Janeiro.Lucerna,2002.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DESPORTOS –Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa. Brasília, DF. 1997.