INTERVENÇÃO ATRAVÉS DE OFICINAS CORPORAIS JUNTO A CRIANÇAS E JOVENS EM SITUAÇÃO DE RISCO

 

FONSECA NETO, Augusto César da

Médico e Coordenador da Morada da Criança “Leonides Bardal”

GONZAGA, Thyago

Acadêmico do Curso de Educação Física CAC/UFG

MATTAR, Ana Mary de Resende

Acadêmica do Curso de Educação Física CAC/UFG

PAULA, Maristela Vicente de

Profa. Ms. do Curso de Educação Física CAC/UFG

 

augusto.cesar.fonseca@bol.com.br

 

Palavras-chave: criança e jovens em situação de risco; oficinas corporais.

 

Situação de risco caracteriza por circunstâncias onde o contexto social exponha a criança e o jovens à delinqüência, ao afastamento da escola e ou da família, a ambientes insalubres e de violência familiar e exploração sexual. Segundo Neiva-Silva e Koller (2002) existem cinco aspectos necessários a serem observados para identificar a criança e jovem em situação de risco: o vínculo da mesma com a família, a atividade exercida pelo menor, a aparência pessoal que indique abandono, o local em que se encontra e a ausência de um adulto, agente cuidador.

 Inicialmente foram denominados de crianças e jovens em situação de risco aqueles que abandonaram seus lares ou foram abandonados. Posteriormente surge subcategorias denominadas “meninos na rua”, crianças e jovens que vinham para a rua, mas mantinham laços familiares, retornando no final do dia ou finais de semana para casa e  “meninos de rua”, jovens que romperam os laços familiares e possuem total permanência nas ruas.

Deve ser objetivo de qualquer intervenção identificar o tipo de ligação com a família (se é possível retomar estes vínculos) e qual atividade desempenhada pelo jovem neste contexto de relacionamento social. Tais atividades podem ser descritas como lícitas: esmolar (dinheiro ou produtos), perambular, brincar, dormir e trabalhar e, ilícitas: roubo, furtos, drogas, atividades rentáveis, exploração sexual entre outra.  Ao se estabelecer os laços do jovem com a família, é claro que se for viável a criança e ao jovem, torna-se um desafio reestruturar outros vínculos juntamente com a participação da família, a sua rede de apoio que entendida como a base de sustentação social do indivíduo, pode ser compreendida como sendo o conjunto interligado de recursos pessoais, profissionais e institucionais que venham a oferecer algum tipo de apoio que contribua com a construção de um alicerce social para os mesmos.

O estabelecimento da rede de apoio deve segundo Brito & Koller, (1999) considerar os diversos contextos nos quais estão inseridos as crianças e jovens, desde um nível micro, onde se estabelecem as relações interpessoais imediatas, até um nível macro no âmbito das instituições. Assim entendemos ser imprescindível que sejam sistematizadas formas de estabelecimento de vínculo com os mesmos. As atividades lúdicas são as mais freqüentemente indicadas para construir aproximação, que se constitui em conquistar a confiança mútua para o estabelecimento do vínculo. Entendemos assim que o ato de brincar possui papel importante no desenvolvimento das crianças e jovens, independente do contexto onde esteja inserido, possibilitando ao profissional uma proximidade nas intervenções junto aos mesmos, onde os jovens podem trazer elementos do cotidiano real ou imaginário que servirão às intervenções. Encontramos dentro da capoeira, da música, teatro entre outros, símbolos que  podem demarcar um espaço de denúncia social. Podemos verificar que os jovens utilizam à representação de personagens do seu cotidiano (real, imaginário). Assim conforme Neiva-Silva e Koller (2002), os jovens se apropriam de personagens como:

 

[...] o bêbado que anda cambaleando, o traficante que tem muito dinheiro, o policial agressivo, a criança de rua, o filho, o pai, a mãe e a criança com alto poder aquisitivo. Enfim, surgem em cena inúmeros símbolos do imaginário social, que representam concepções e conflitos vividos no contexto da rua. (p.113)

 

Com vistas à sistematização do atendimento das crianças e jovens em situação de risco da Cidade de Catalão-GO a Prefeitura Municipal criou uma instituição denominada Morada da Criança “Leonides Bardal” que acolhe, abriga (se for o caso) e propõe ações conforme as especificidades de cada caso que se lhe apresentam. A referida instituição conta com uma equipe multiprofissional que tem a função de identificar os problemas comórbidos e as encaminha para um dos programas seguintes, todos desenvolvidos pela própria equipe:

a)     Programa “Dificuldade escolar”: constituído por oficinas pedagógicas de cultura corporal, leitura e de matemática ou de reforço, com o objetivo de melhorar a auto-estima e desenvolver as habilidades necessárias para a criança voltar para a escola compreendendo-a como seu espaço por excelência;

b)     Programa de alojamento: para casos aonde não haja ambiente familiar (abandono) ou este seja inadequado, ficando a criança alojada na Morada da Criança, inclusa nas oficinas pertinentes, sendo objetivo deste programa identificar e trabalhar as questões envolvidas para (re)construir um ambiente familiar mais estruturado e adequado;

c)      Programa de Vínculo: oficina para menores com transtornos de comportamento, com atividades várias com o objetivo de criar um vínculo que permita sua inserção nos outros programas;

d)     Programa “Estadia de Emergência”: alojamento temporário para menores que precisem aguardar até o encaminhamento para sua cidade de origem.

Inserido nos Programas, “Dificuldade Escolar” e “Vínculo” encontra-se o Projeto de Extensão Oficinas Corporais, que visa proporcionar a criança, sem distinção de gênero, o contado com uma variedade de atividades envolvendo a expressão corporal através de jogos, ginástica, dança, lutas e representação cênicas.

A dinâmica do projeto esta organizada em reuniões de estudo, como a equipe do projeto e com os profissionais da Morada da Criança, nessa última são também discutidos individualmente cada um dos casos, os procedimentos e a avaliação tanto do processo de desenvolvimento, quanto da intervenção; planejamento das aulas; o desenvolvimento das atividades propostas; o registro individual na ficha da criança, relatando sua presença ou não e aspectos de sua participação que pode servir de subsidio para as discussões com a equipe. 

            Dentre as atividades desenvolvidas na oficina até o momento, que compreenderam jogos recreativos, ginástica e atletismo, houve um destaque para o ultimo que demonstrou ser de grande aceitação para a maioria. No caso dos jogos, os mesmos estão sendo utilizados prioritariamente para proporcionar vivências lúdicas e possibilitar conhecer o grupo e tratar de aspectos de relacionamento pessoal e humano. No caso da ginástica e do atletismo, buscamos garantir além do gesto, elementos históricos e artísticos. Consideramos que no caso do atletismo, o mesmo possibilitou uma significativa melhoria na auto-estima de algumas crianças e jovens ao conseguirem realizar os movimentos propostos, como conseqüência, tal experiência nos indica ter colaborado com a melhora do relacionamento dos sujeitos como o grupo.

            A oficina tem demonstrado possuir um significativo papel junto a “Morada da Criança” segundo a avaliação da própria equipe de profissionais da instituição, que relatam a necessidade de manutenção do projeto tanto pela contribuição direta junto as crianças e jovens, quanto da possibilidade de dialogo como a Universidade sobre o projeto da Instituição que encontra-se em construção. E reconhecem a necessidade de um professor de Educação Física vinculado a instituição, solicitação que já foi protocolada junto a Administração Pública Municipal.

            Mediante a tudo que foi exposto, consideramos que a Morada da Criança “Leonides Bardal” atualmente representa uma política publica de grande significado para as crianças e jovens em situação de risco da cidade de Catalão-GO e toda a comunidade, uma vez que busca estar em consonância com perspectiva de evitar a institucionalização dos casos que atende e se entendendo como uma instância de passagem, no sentido de dar o suporte necessário para que seus atendidos possam restabelecer-se em sua rede de apoio, família, escola, perspectiva profissional e não apenas ocupá-los e distanciá-los dos olhos incomodados da população.

Nesse sentido entendemos que o projeto Oficinas Corporais tem garantido sua colaboração junto a esta entidade e destacado a importância da atividade física e lúdica para formação do sujeito.

  

BIBLIOGRAFIA

 

BRITO & KOLLER, S.H. Desenvolvimento Humano e redes de apoio social e afetivo. Em A. M. Carvalho (Org.), O mundo social da criança: Natureza e cultura em ação. São Paulo: Caso do Psicólogo, 1999.

 

FONSECA NETO, Augusto César da. Morada da Criança “Leonides Bardal”: uma proposta de atendimento à criança em situação de risco. Anais do I Simpósio de Infância e Educação. 2004. 1 CD-ROM. 

 

NEIVA-SILVA, L., & KOLLER, S. H. (2002). Adolescentes em situação de rua. Em M. L. J. Contini, S. H. Koller & M. N. S. Barros (Orgs), Adolescência e psicologia: Concepções, práticas e reflexões críticas (pp. 110-119). Brasília, DF: CFP & Ministério da Saúde.

   

PINTO, F. M. Pequenos trabalhadores: sobre a Educação Física, a infância empobrecida e o lúdico numa perspectiva histórica e social. Fábio Machado Pinto. Florianópolis: [s.n.], 1995, 95 pp. ( Florianópolis: Gráfica da UFSC)