EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – UMA ALTERNATIVA DE ENFRENTAMENTO DO ANALFABETISMO EM GOIÂNIA
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos – Formação Continuada – Educação Popular Analfabetismo
- Área de conhecimento: Educação -
A questão do analfabetismo no Município de Goiânia, como em todo país, é um problema que precisa ser enfrentado por toda a sociedade. Segundo os dados do Censo de 2000, existem em torno de 45.000 pessoas, acima de 15 anos em Goiânia, não alfabetizadas. A Secretaria Municipal de Goiânia (SME), desde 1993, vem atuando de forma intensa numa política de ampliação quantitativa e qualitativa da Educação de Jovens e Adultos(EJA). Um dos projetos da SME que representa esta preocupação com o analfabetismo entre jovens e adultos é o Projeto AJA, que vem passando desde 2001, por uma expansão, envolvendo uma ampla parceria com órgãos públicos, associações de moradores, igrejas, organizações não-governamentais, empresas e outros. Desta parceria resultam em 2004, a participação de 184 educadores populares, que iniciam o processo de escolarização de 2069 educandos adolescentes, jovens e adultos, em grupos constituídos por todo o município de Goiânia.
A Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (FE/UFG) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia(SME), Universidade Católica de Goiás e outras instituições da sociedade civil, vem buscando enfrentar o desafio do analfabetismo através do Projeto AJA-Expansão. Trata-se de um Projeto que oportuniza o início do processo de alfabetização a adolescentes, jovens e adultos que ainda não foram alfabetizados. Através desse projeto a SME garantiu, no período de 2001 a 2004 o acesso ao ensino fundamental a sete mil e quinhentos educandos residentes em Goiânia, acima de 15 anos. Esse projeto configura-se, portanto, na concretização de uma bandeira de luta contra o analfabetismo em Goiânia, fazendo parte, hoje, de uma política pública municipal integrada de combate emergencial e estrutural às situações de exclusão social.
Em função do compromisso social da Universidade com a Educação Pública e de qualidade, o Projeto de Extensão “Educação de Jovens e Adultos – Uma alternativa de enfrentamento do analfabetismo em Goiânia” tem por objetivos: otimizar as relações entre sociedade e universidade; democratizar o acesso ao conhecimento produzido na Universidade que se relaciona com a temática da Educação de Jovens e Adultos, aos educadores populares e professores da Secretaria Municipal da Educação; contribuir na articulação do ensino, pesquisa e extensão na FE, através do envolvimento dos alunos da graduação e pós-graduação com as demandas sociais e culturais da população.
O Projeto de Extensão tem sido implementado, desde 2001, através de três ações básicas: a assessoria à equipe de coordenadores do Projeto AJA-Expansão e à equipe da Divisão de Educação Fundamental de Adolescentes, Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (DEF-AJA); a formação inicial e continuada dos educadores populares/alfabetizadores do Projeto AJA Expansão; e a coordenação de Grupo de Estudo de Educação de Jovens e Adultos (GEAJA).
A assessoria à equipe de coordenadores do Projeto AJA-Expansão ocorre semanalmente com encontros às terças-feiras na Faculdade de Educação, quando, a partir do relato das/os Coordenadoras/es Pedagógicos sobre o acompanhamento realizado nas turmas do Projeto AJA-Expansão, elaboramos – coordenadoras/es, assesssoras da UFG e UCG e equipe Pedagógica da DEF-AJA – o planejamento das atividades semanais de formação continuada. Mensalmente temos, também, um encontro com as/os coordenadores para estudo e aprofundamento de temáticas relacionadas à EJA.
No que diz respeito à equipe da Divisão de Educação Fundamental de Adolescentes, Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia, tal assessoria tem ocorrido em função da Construção da Proposta Curricular da Educação de Adolescentes, Jovens e Adultos (EAJA), de 1ª a 8ª séries, participando das discussões, estudos, produções de textos, formação continuada da equipe pedagógica do DEF-AJA e de professores/coordenadores/ gestores e demais funcionários nas escolas, dentre outras atividades.
A formação de educadores populares que atuam como alfabetizadores do Projeto AJA-Expansão, sujeitos co-participantes do ato de ler e escrever, numa parceria entre universidades (UFG e UCG) – que têm desenvolvido pesquisas e estudos sobre a alfabetização/educação de jovens e adultos nos espaços do ensino, da pesquisa e da extensão, fornecendo subsídios para ações e projetos de alfabetização/educação dos jovens e adultos – e a SME de Goiânia representa um avanço na área de EJA.
Estes educadores atuam como motivadores no processo inicial de escolarização e são, preferencialmente, pessoas da própria comunidade e indicados pelos parceiros (universidades, igrejas, associações de moradores, Organizações não governamentais – ONGs, empresas e sindicatos). Podem ser graduados ou graduandos em Pedagogia ou em outros cursos de licenciatura; pessoas com formação em curso de magistério de nível médio ou outros, que tenham comprovada experiência em alfabetização/educação de jovens e adultos e/ou participação em movimentos populares. Sua carga horária semanal de trabalho no projeto é de 12 horas de atividades, sendo 10 horas de trabalho com os alunos, distribuídas de segunda a quinta-feira e 2 horas de formação na sexta-feira, na Faculdade de Educação da UFG.
Em geral é um educador comprometido política e eticamente com as classes populares, voltando sua atenção não apenas para a prática pedagógica em si, mas inclui nela as condições sócio-histórico-político-econômicas nas quais sua prática ocorre, trazendo da realidade questões sociais concretas relativas à classe social, ao grupo com o qual trabalha. É alguém que, num processo dialógico, apoia, sustenta e caminha com seus pares, aprendendo e ensinando, uns aos outros, numa relação ativa de vinculações recíprocas, onde há troca e partilha de saberes.
A formação envolve o curso inicial; encontros semanais para análise e reflexão sobre os pressupostos teórico-práticos, que sustentam o processo educativo, a partir de questões postas pela prática; e o acompanhamento às turmas do Projeto AJA-Expansão. Na formação são trabalhados conhecimentos articulados à realidade dos educadores e educandos que subsidiem o exercício permanente da cidadania, auxiliando-os a analisar a realidade e nela intervir para transformar.
O encontro inicial de formação perfaz 20 horas e configura-se em um momento de sensibilização para o trabalho voltado para o processo de alfabetização/educação de adolescentes, jovens e adultos, sendo pensado no sentido de refletir sobre quem é o aluno e o educador da EAJA, que educação é essa que almejamos empreender, para que tipo de sociedade queremos formar, além de responder a uma série de perguntas que se colocam aos educadores que estão prestes a iniciarem o trabalho educativo, especialmente considerando a realidade na qual estarão desenvolvendo suas atividades.
Os temas abordados na formação inicial dizem respeito à identidade da pessoa humana e do educador, enquanto seres em construção; cultura e educação, compreendendo a cultura como criação do homem nas relações que estabelece em sociedade; processo individual e social de construção da cidadania; características dos adolescentes, jovens e adultos, alunos do projeto; histórico de EJA no Brasil, Goiás e Goiânia; princípios teórico-metodológicos do Projeto AJA-Expansão; e a prática pedagógica a ser construída no âmbito do Projeto.
Nesse encontro inicial de formação dos educadores populares e nos demais que se seguem, enfatiza-se a necessidade do planejamento das aulas, considerando a identidade lingüística e cultural dos alunos da EAJA e a realidade em que estão inseridos; bem como há informes sobre o funcionamento do Projeto, a estrutura e carga horária de trabalho, com ênfase na participação nos encontros semanais - para planejamento, trocas de experiências, aprofundamento teórico - enquanto parte da carga horária de trabalho dos educadores populares.
A formação continuada ocorre em dois momentos distintos, porém articulados entre si: O encontro semanal dos educadores populares – no período matutino, vespertino e noturno, para que todos os educadores possam escolher o horário para participar – e o acompanhamento pedagógico nos núcleos de formação em que os coordenadores atuam como observadores e formadores, contribuindo com orientações a partir das práticas pedagógicas observadas in loco nos grupos de alfabetização.
O encontro semanal de formação continuada apresenta-se como um momento de reflexão coletiva da prática pedagógica, informes e estudos teóricos. Nele buscamos atender às demandas dos educadores, abordando temáticas sugeridas por eles ou aquelas temáticas percebidas, pelos coordenadores do Projeto como necessárias de serem trabalhadas, a partir das visitas de acompanhamento pedagógico aos núcleos de alfabetização. Realizam-se trocas de experiências entre os educadores do projeto; exercita-se a atitude investigativa e dialógica dos educadores enquanto sujeitos do processo ensino-aprendizagem, com espírito aberto, compromisso com o grupo social sob sua responsabilidade, tendo em vista a construção da prática de modo crítico, autônomo e reflexivo. O que demanda rodadas de reflexão, planejamentos, discussões, estudos e aprofundamentos teórico-práticos, pois educar exige renovação constante.
O enfoque no processo de leitura e escrita contextualizada e a partir do texto; o concentrar do trabalho na escrita significativa; a retomada do processo com a oralidade, a leitura e a escrita enquanto registro das discussões, a questão do planejamento a partir de temas geradores e o compromisso com as questões sociais têm constantemente estado presentes em nossas formações continuadas.
Os educadores populares avaliam a formação continuada como um espaço positivo e fundamental, afirmando que ela ajuda a pensar a organização do trabalho a ser desenvolvido em sala de aula, oferece suporte teórico-prático e ajuda a operacionalizar as idéias na prática; ajuda a superar formas tradicionais em que foram alfabetizados, saindo da prática corrente da silabação, das cópias e ditados sem sentido.
O Grupo de Estudo de Educação de Adolescentes, Jovens e Adultos (GEAJA)
O GEAJA conta com a participação de educadores populares, professores da rede municipal e estadual de educação, alunos de graduação e pós-graduação e demais interessados na temática da Educação de Jovens e Adultos. Os encontros são aos sábados, quinzenalmente, com leituras e discussões de temas eleitos pelo grupo.
Neste ano retomamos parte do histórico da EJA, discutimos sobre o tema quem é o aluno da EJA e atualmente estamos estudando sobre o processo de alfabetização de adolescentes, jovens e adultos. São utilizados textos, vídeos e relatos de experiências para suscitar o debate, troca de experiências e aprofundamento das temáticas.