BRINCANDO O BASQUETEBOL NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO UNIVERSITÁRIA
Nº de cadastro: CAC – 151
Palavras chaves: Extensão universitária; prática pedagógica; sistematização do ensino; divulgação do basquetebol
Área de conhecimento: Ciências humanas
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Desde a antiguidade o homem se expressa através das mais variadas manifestações culturais, dentre elas destacam-se a música, a poesia e a pintura. Permeando neste contexto está o jogo que segundo Retondar (1997) traduz-se em divertimento e se caracteriza de acordo com o grupo que o pratica.
“É no jogo e em jogo que o jogador desafia o destino inadiável, o outro e a si mesmo (...) daí seu afã entusiasmado quando vence, se supera ou experimenta esteticamente o momento mágico do jogo: ele grita, vibra, treme, se arrepia, rompe momentaneamente com as normas sociais de conduta, entra em transe, homem beija homem, os indivíduos se tocam sem pudor, se abraçam sem preconceito: é a suspensão momentânea da realidade promovida pelo jogo”. (219).
O que instiga e impulsiona o homem a jogar é o acaso, ou seja, é a possibilidade de desafiar o imprevisível, pois “o acaso é o elemento fundante do jogo. Força misteriosa que leva o homem sempre a jogar mais uma vez, a perseguir o seu misterioso objeto que nunca será atingido”. Retondar (1997:218). Sendo superado o acaso, o jogo tornar-se-á previsível, desmotivante, a ponto de se tornar repetição excessiva, não despertando no jogador, o mesmo interesse ocorrido anteriormente.
Uma das representações do jogo na contemporaneidade transfigura-se no esporte, uma manifestação que leva multidões aos inúmeros campos ou ginásios esportivos, seja como expectadores ou praticantes. É notório, também, o incontável número de adeptos nas várias modalidades esportivas.
Em meio a tamanha manifestação social a escola não passa desapercebida, nem mesmo assume papel de neutralidade, pois, o esporte se faz presente nesse contexto como o principal conteúdo a ser ensinado. Segundo Vago (1996: 16), é necessário problematizar esse esporte que se apresenta no ambiente escolar, buscando aspectos “que privilegiam a participação, o respeito, a corporeidade, o coletivo e o lúdico”. Então, cabe a escola decidir de que maneira irá apropriar-se do esporte, propiciando a inclusão ou a exclusão social, proporcionando aprendizado aos alunos ou buscando unicamente vencer as competições escolares.
Uma grande curiosidade atiçou-nos a trabalhar com o esporte na escola, depois de participarmos, no ano de 2003 de uma pesquisa para a disciplina Desporto Coletivo II-Metodologia do Basquetebol, intitulada Investigando a realidade do basquetebol nas escolas de Catalão-GO que teve como principal objetivo o de verificar se havia o conteúdo basquetebol encontra-se presente nas aulas de Educação Física das escolas públicas da cidade.
Nesta pesquisa, observamos que a maioria das escolas (três municipais, dezoito estaduais), num total de apenas nove, trabalham com o conteúdo basquetebol, sendo que três delas priorizam a transmissão dos conteúdos técnicos e táticos do jogo; e o restante (seis) utiliza o improviso, desenvolvendo o jogo num caráter livre.
A alegação da ausência desse conteúdo nas aulas, para a maioria das escolas, está na alegação da carência de materiais didáticos/esportivos (bolas) bem como espaços físicos (aro e tabela de basquetebol, quadra com marcações) específicos da modalidade em questão. Contudo, observamos junto aos planos de ensino das escolas que o basquetebol se faz presente, ou seja, teoricamente observa-se a sua inserção na aula de Educação Física, o que na realidade, não vem acontecendo na prática.
Quantitativamente, a pesquisa mostrou que a maioria das escolas pesquisadas não trabalha com o conteúdo basquetebol. Esse fato tem contribuído negativamente na formação dos alunos das referidas escolas, pois, esta modalidade esportiva apresenta-se como um importante elemento para a aprendizagem humana, pois, através das vivências sugeridas, os alunos poderão vivenciar atividades que contribuirão para o desenvolvimento de suas potencialidades cognitivas (raciocínio lógico, criatividade e concentração), físicas (aspectos fisiológicos, condicionamento físico aeróbico e anaeróbico) e afetivas (coletividade, socialização, competitividade e auto-estima). (Coutinho 2003).
Por contribuir com a formação humana, e na tentativa de ampliar a prática desta modalidade na escola, propusemo-nos a desenvolver um projeto de extensão brincando o basquetebol na escola: uma proposta de intervenção universitária que desenvolvesse os aspectos técnicos e táticos do basquetebol e resgatasse a prática dessa modalidade esportiva no meio escolar. Contudo, alertados por Andrade (1996: 09) através da obra Metodologia de ensino da Educação Física, ao propormos este projeto atentamos para o fato de que “não é interessante para a coletividade que a Educação Física escolar seja apenas uma prática esportiva, mas que ela possa contribuir na formação de consciências críticas e ativas”.
Dentre os objetivos pré-estabelecidos nesse projeto encontra-se o de proporcionar aos acadêmicos do curso de Educação Física da UFG/CAC experiências no campo pedagógico e aproximação dos mesmos com a realidade escolar; vivenciar práticas que auxiliem nas discussões propostas pela disciplina e melhor nos embasarmos para posterior planejamento dos conteúdos a serem ministrados nas aulas do referido projeto de extensão; possibilitar aos alunos do Colégio Estadual Polivalente "Dr. Tharsis Campos” (campo de intervenção), além da prática dos fundamentos técnicos e táticos, vivências de coletividade, ludicidade, criatividade e prazer dentro do jogo,
Visamos, contudo, transmitir a cultura esportiva enquanto um importante elemento da história humana, possibilitando ao aluno maior conhecimento das manifestações corporais, pois, o corpo é portador de significados, valores, cultura, leituras de mundo, concepções e ideologias, ou seja, através do corpo valores são transmitidos, bem como poderão ser adquiridos e a modalidade esportiva basquetebol propiciará manifestações cognitivas, físicas, motoras ou afetivas que somente através de sua prática o aluno poderá vivenciá-las, ou seja, o que o basquetebol proporciona, não poderá ser vivenciado em outras práticas.
Para garantirmos os objetivos propostos, pretendemos, nesse projeto, respeitar a maturação biológica e motora dos alunos, tendo o entendimento de que o mesmo se constitui de uma iniciação esportiva, e como afirma Coutinho (2003) “o basquetebol é um esporte que exige que seus praticantes possuam um razoável grau de capacidades motoras, pois a maioria dos movimentos necessários a sua prática não são movimentos naturais e deverão, portanto, ser ensinados pelos professores”. Para esse mesmo autor devemos estar atentos às fases de desenvolvimento infantil, pois “... é importante que sejam respeitadas algumas fases da aprendizagem motora inerentes ao basquetebol”, para ele, estas fases são divididas em três categorias que vai da coordenação rústica dos movimentos (iniciação esportiva), passa pela coordenação fina dos movimentos (aperfeiçoamento) e finaliza com a estabilização dos movimentos (treinamento). Assim, embasados nessas características individuais, mesmo sendo um projeto de iniciação esportiva, não objetivamos a técnica como o único fim a ser alcançado, pois, a mesma poderá ser conseguida com o desenvolvimento e andamento do trabalho.
O referido projeto atende a alunos (meninos e meninas), efetivos na escola, que tenham idade entre 13 e 17. As experiências práticas apresentam-se com aulas mistas (5ª e 6ª feira das 15:00 às 17:00), quaisquer alunos da escola poderá participar.
Os monitores do projeto se reúnem todas as sextas-feiras após a aula para discutirem a metodologia adotada e planejarem o conteúdo a ser ministrado nas próximas aulas.
Na perspectiva de avaliarmos o processo de ensino-aprendizagem dos fundamentos técnicos e táticos do basquetebol (arremessos, bloqueios, fintas, passes, rebotes; defesa, ataque; etc) bem como questões de socialização (convívio do aluno com os monitores e colegas), histórico/culturais (referente a facilidade ou não de realização das atividades), motivação (disponibilidade e comportamento do aluno referente as atividades propostas), e o jogo propriamente dito (o comportamento tático do aluno no jogo, bem como nos auto avaliarmos, propusemo-nos a realização de observações, procurando coletar os dados citados anteriormente.
Até o prezado momento o referido projeto, tem-se configurado como uma prática gratificante para seus integrantes, seja para os monitores durante as discussões propostas, no planejamento, na organização e durante as aulas, seja para os alunos na participação das mesmas, ou ainda, para a escola na condição de receptora do projeto, pois, observa-se empiricamente a relação de confiança e “entrosamento” que vem sendo construída por este tripé (monitores, alunos e escola) o que tem garantido a relevância na criação de um ambiente propício a execução e continuidade de projetos dessa natureza.
Mesmo não tendo ainda, a conclusão desse projeto, pois o mesmo encontra-se em andamento, e não tendo também sistematizado os dados até aqui obtidos, apresentamos algumas observações parciais, fontes de dados empíricos e também das observações colhidas através das fontes utilizadas, podemos constatar o crescimento por parte dos alunos a cerca dos objetivos propostos.
BIBLIOGRAFIA.
ASSIS DE OLIVEIRA, Sávio. Escola e Esporte: Campos para ocupar, resistir e produzir. In Revista Pensar a Prática, Julho/Junho. 1999-2000, pp. 19-35.
COLETIVO DE AUTORES. (1992). Metodologia de Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez.
COUTINHO, Niltom Ferreira. Basquetebol na Escola: da Iniciação ao Treinamento. Rio de Janeiro: 2ª Edição: Sprint, 2003.
GRECCO, Pablo Ruan. (et al). (1998). Iniciação esportiva universal: da aprendizagem motora aos fundamentos técnicos. Belo Horizonte: UFMG.
RETONDAR, Jéferson J. M.: Jogo: Diálogo do homem com o invisível. In Porta aberta. Revista Motrivivência, Dezembro, 1997, pp. 214-223.
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