- Título: ‘A teoria e a reflexão como estratégias de supervisão na formação de professores de inglês’.

- Autora: Julma Dalva Vilarinho Pereira Borelli

- Faculdade de Letras – Universidade Federal de Goiás

- email: julmavilarinho@msn.com

- email da orientadora: rosane@realizanet.com.br

- Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar de que forma algumas estratégias de supervisão podem interferir no processo de formação/ desenvolvimento de professores de inglês. Ao falarmos em estratégias de supervisão estamos referindo-nos especificamente à leitura de textos teóricos e à reflexão por meio de sessões de visionamento. Um outro intuito deste trabalho é despertar a reflexão acerca dos papéis desempenhados pelo supervisor e professores nesse processo. Por fim, esperamos que este trabalho abra caminhos para que esses profissionais repensem seus papéis e que isso lhes possibilite uma atuação mais consciente e crítica.

- Palavras-chave: supervisão, reflexão, teoria, formação.

- Introdução: Ao analisarmos o contexto educacional brasileiro nas últimas décadas, vemos que, a exemplo países como Portugal, Espanha, França, Estados Unidos e Inglaterra, é possível acompanhar mudanças que culminam na verificação da necessidade de ressignificação do papel exercido pelo professor. A partir dos estudos de Schön (1983; 1987) que, entre outros autores, teve como base algumas idéias de Dewey, inicia-se a discussão acerca do modelo de profissional reflexivo.

Segundo Schön (1987) é preciso que haja uma mudança na maneira de formar os profissionais. Aquele modelo curricular normativo que pressupõe que primeiro se apresente a ciência, depois suas aplicações e, por último, que os alunos apliquem seus conhecimentos técnicos, não é suficiente para instrumentalizar o profissional com o conhecimento que ele necessitará em seu dia-a-dia, para lidar com as situações inesperadas. Portanto, Schön (1987) esclarece que o que os futuros profissionais precisam aprender é justamente aquilo que as escolas de formação profissional se mostram menos capacitadas a ensinar.

Pensando na problemática da formação profissional, neste caso na formação específica do professor de inglês, o presente trabalho terá como objetivo geral analisar de que forma algumas estratégias de supervisão podem interferir no processo de formação/desenvolvimento de professores de inglês. Ao falarmos em estratégias de supervisão estamos referindo-nos especificamente à leitura de textos teóricos e à reflexão por meio de sessões de visionamento.

Ao tratarmos de supervisão pedagógica, Alarcão (2003) esclarece que, apesar de ter usado o termo para tratar principalmente da formação inicial de professores, ele não se restringe a esta fase, podendo estender-se também à formação continuada. Ao comentar, porém, sobre o uso do termo feito em Portugal, a autora acrescenta que existem países como o Brasil e os Estados Unidos que fazem um uso diferenciado do termo. Nesses países, diz Alarcão (2003, p.64) o termo é utilizado para designar o "acompanhamento de professores no exercício da profissão, na monitorização da escola e na difusão da inovação".

Apesar de já encontrarmos no Brasil estudos que atribuem ao supervisor papéis diferenciados daqueles citados por Alarcão (2003), como os de Liberali (1996) e Pimenta (2002), acreditamos que será a partir da ampliação das pesquisas nesta área que poderemos caminhar para um redirecionamento dessas questões, assim como para uma maior conscientização desses profissionais de seu verdadeiro papel.

Ao caracterizarmos a supervisão com base em conceitos recentes como os oferecidos por Alarcão ou aqueles que se originam com a chamada supervisão clínica, é importante mencionar que, historicamente, supervisão nem sempre teve este caráter que nos é apresentado atualmente.

Como temos em Smyth (1991), estas tendências atuais representam um rompimento com outras práticas de supervisão que visavam ao tratamento de certas categorias de professores – o inexperiente, o fraco ou o incompetente. Como resultado dessas experiências de supervisão Smyth cita Withall e Wood (1979), que resumem que tais conseqüências incluem a consideração da supervisão como uma situação desagradável, psicologicamente ameaçadora, e que geralmente resulta em conseqüências não recompensadoras.

Ainda segundo Smyth (1991, p .2),

"o maior problema das formas tradicionais de supervisão é que estas são conceituadas como a entrega de um serviço a aqueles que são julgados como necessitados de tal serviço. Não importa quão benevolentemente isto seja feito . (...) tais formas de supervisão criam dependência ao invés de independência".

Nessa perspectiva vimos o caráter opressor da supervisão, aquele que se baseia principalmente no estabelecimento de hierarquias e no exercício do poder. Uma supervisão que despreza as necessidades do professor para seguir sua própria agenda e atingir seus próprios interesses. Temos assim uma atividade que, como vimos anteriormente, não colabora para a emancipação do professor e para seu estabelecimento como profissional autônomo, critico e reflexivo.

Essa visão do supervisor é mudada com o conceito de supervisão clínica. Na supervisão clínica temos uma abordagem reflexiva da atividade de supervisão. Há, portanto, uma redefinição do papel do professor como participante na atividade de supervisão, da mesma forma que o supervisor também é visto sob uma perspectiva diferenciada. Os professores agora participam ativamente em seu desenvolvimento, refletindo e fazendo considerações sobre seus contextos e necessidades Tendo abordado brevemente a questão da supervisão, passamos às perguntas de pesquisa que procuraremos responder com o desenvolvimento deste trabalho:

  1. A reflexão interativa, estimulada por sessões de visionamento e leituras teóricas, interfere na relação entre professor e supervisor?
  2. A reflexão interativa, estimulada por sessões de visionamento e leituras teóricas, interfere no desenvolvimento profissional do professor?
  3. Quais os domínios de conteúdo, dentre os propostos por Richards (1998), são mobilizados?
  4. Quais as considerações dos participantes acerca do período de reflexão interativa?

Metodologia: A natureza do trabalho que iremos desenvolver se enquadra no modelo de uma pesquisa de intervenção. Recorrendo às palavras de Moita Lopes (1996, p. 86-87) temos que a pesquisa de intervenção é aquela cujo "foco é colocado na investigação de uma possibilidade de se modificar a situação existente...". O autor ressalta ainda que neste tipo de pesquisa há uma tendência para o uso de abordagens de pesquisa qualitativa.

Os principais instrumentos utilizados para coleta de dados serão dois questionários, um respondido inicialmente e o outro ao final do trabalho; gravação de duas aulas de cada professora participante; gravação em áudio das sessões de reflexão feitas após a observação das aulas e após a leitura de um texto teórico.

Participarão deste estudo quatro professoras de inglês, que lecionam na educação infantil e primeira fase do ensino fundamental (1ª a 4ª série). Todas as professoras são graduadas em Letras e trabalham na mesma escola, sendo esta uma escola da rede privada, localizada na cidade de Goiânia.

Resultados esperados: Esperamos que a realização deste trabalho colabore para um maior entendimento acerca do papel do supervisor na formação do professor de inglês. Por meio da reflexão, esperamos que também os professores se conscientizem de seus papéis nesse processo de desenvolvimento. Concluindo, esperamos que este trabalho abra caminhos para que esses profissionais repensem seus papéis e que isso lhes possibilite uma atuação mais consciente e crítica.

Referências

AMARAL, M. J.; MOREIRA, M. A; RIBEIRO, D. O papel do supervisor no desenvolvimento do professor reflexivo: estratégias de supervisão. In: ALARCÃO, I. (Org.). Formação reflexiva de professores: estratégias de supervisão. Porto: Porto, 1996, p. 89-122.

LIBERALI, F. C. O desenvolvimento reflexivo do professor.

MOITA LOPES, L.P.da; Oficina de Lingüística Aplicada. Campinas: Mercado de Letras, 1996.

OPRANDY, R. Exploring with a supervisor. In: GEBHARD, J. G.; OPRANDY, R. Language Teaching Awareness: a guide do exploring beliefs and practices. Cambridge: Cambridge University Press, 1999, p. 99-121.

PESSOA, R. R. A Reflexão Interativa Como Instrumento de Desenvolvimento Profissional: um estudo com professores de inglês da escola pública. Belo Horizonte, 2002. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Letras/Estudos Lingüísticos, Universidade Federal de Minas Gerais.

PIMENTA, S.G. Professor reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (Org.) Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002, p. 17-52.

RICHARDS, J. C. Beyond Training. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

SCHÖN, D. The Reflective Practitioner. New York: BasicBooks, 1983.

SCHÖN, D. Educating the Reflective Practitioner. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1987.

SMYTH, J. Teachers as Collaborative Learners: challenging dominants forms of supervision. Philadelphia: Open University Press, 1991.

WALLACE, M. J. Training Foreign Language Teachers: a reflective approach. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.