Título: A decadência em Cornélio Penna
Autora: CUNHA, A.F.M.
Orientador: Prof. Dr. Mário L. Frungillo
Órgão financiador: CAPS
Unidade Acadêmica: Faculdade de Letras – UFG (pós-graduação)
Endereço eletrônico:
afeme26@hotmail.comPalavras-chave: Cornélio Penna, decadência, Repouso, A menina morta.
Cornélio Penna (Petrópolis, 1896 - Rio de Janeiro, 1958) é um escritor diferente. Vários foram os termos utilizados ao longo do tempo para tentar sintetizar sua obra, mas nenhum parece suficiente para abarcar suas idiossincrasias. Alfredo Bosi (2000, 389) coloca sua produção entre as de Lúcio Cardoso, Otávio de Faria e Jorge de Lima, autores cujas obras se construíram no esteio da psicanálise. Para Schmidt (1997, p.205), Cornélio Penna "era um dos escritores de maior riqueza e melhor qualidade que em nossa língua se exprimiram". É um autor que merece ser estudado mais detidamente, ainda mais se considerarmos que poucos trabalhos têm sido desenvolvidos sobre ele.
Dos quatro romances escritos pelo autor, apenas Repouso (1948) e A menina morta (1954) interessam a este trabalho. A leitura das duas obras aponta para um elo comum entre elas: a decadência das famílias dos protagonistas. Em virtude disso, minha dissertação inicia-se com um estudo sobre o conceito de decadência, traçando um panorama do que se entende pelo termo e as implicações que ele traz consigo. Este estudo inicial serve de base para compreender o que se passa em Repouso e A menina morta, romances em que o conceito de decadência se reveste de contornos peculiares, ligados não só à trajetória econômica descendente dos meios de produção, mas também a um comportamento "inadequado" das personagens, incapazes de realizar uma conexão com a vida, ligadas por uma profunda e incurável melancolia.
Obras basilares sobre decadência foram lidas, como Declínio e queda do império romano, de Edward Gibbon; A decadência do ocidente, de Oswald Spengler e A idéia de decadência na história universal, de Arthur Herman. Tais leituras ajudaram a perceber a decadência como um conceito que sofre intensa flutuação, já que sempre envolve critérios de valor. O literato, porém, não precisa ser muito objetivo. A noção de decadência é muito importante e frutífera em literatura. Embora a palavra muitas vezes nem apareça, ela impregna a obra literária e dá-lhe o tom dominante. É assim com Cornélio Penna.
Impossível ler-se um livro de Penna sem pensar em decadência. Esta palavra define perfeitamente a trajetória de suas personagens, em particular das obras Repouso e A menina morta. Nos dois casos, a decadência financeira das famílias é algo concreto e facilmente constatado, como é sempre a crise financeira. Este aspecto nos interessa de perto, mas acima dele interessa a decadência pessoal das personagens Dodôte e Urbano em Repouso e Mariana e Carlota em A menina morta. As personagens nem de longe lembram seus antepassados, vigorosos e vivazes, são todos sorumbáticos e tristonhos, locomovendo-se como fantasmas em um sonho. Os estudos até agora realizados apontam para um vínculo muito forte entre decadência e melancolia porque o declínio social e financeiro reflete sobre o estado de espírito e não raras vezes domina a conjuntura emocional de um grupo, uma época e até mesmo um lugar. Os seres de Penna, filhos de uma elite opulenta que enfrenta o declínio, são consumidos pela culpa pelos erros de seus antepassados, uma culpa cuja causa ainda está por ser descoberta no decorrer deste trabalho.
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