Culturas de trabalho e ação coletiva:
Caminhos para se pensar a classe trabalhadora no Brasil
PEREIRA, Alìrio Mendes- aliriocv@hotmail.com
Departamento do mestrado de sociologia - UFG
Palavras-chave: centralidade do trabalho; ação coletiva; culturas de trabalho; homogeneidade; heterogeneidade e a dualidade pessimismo/otimismo.
Introdução.
O meu objetivo neste trabalho, é procurar demonstrar como determinadas categorias de análise e de explicação social que expressam formas determinadas de representações sociais, são difundidas e reproduzidas entre nós como se fossem únicas, imutáveis e, sobretudo, negativas. A intenção é demonstrar que apesar de expressarem faces dessa realidade sociocultural, são insuficientes, pois, existem outros ângulos e nuanças, ou seja, outras representações que podem reforçá-las ou negá-las.
Objetivos.
Através de uma relação conceitual e analítica entre - culturas de trabalho e ação coletiva - objetivo traçar coordenadas e caminhos diferentes para se pensar a classe trabalhadora no Brasil. Na verdade, pretendo, por um lado, demonstrar como se deu a construção de determinadas representações sistemáticas e substantivas da classe trabalhadora no Brasil e, de uma certa forma, da sociedade brasileira e suas implicações enquanto perspectiva de análise e compreensão da mesma e, por outro, expressar uma perspectiva diferente e não monolítica de análise e compreensão da realidade social.
Metodologia.
A intenção é tentar alcançar esses objetivos através de uma "reconstrução metodológica" e, também, através de uma pesquisa empírica, junto a um grupo de trabalhadores de diversos segmentos. Metodologicamente falando, a intenção é questionar, ou melhor, problematizar uma determinada postura ou, até mesmo, um paradigma que tende a analisar a classe trabalhadora brasileira como uma "categoria" ou um "corpo". Mais do que isso, emular com determinadas teorias, como as econômicas e estruturalistas que tendem a analisar e compreender a realidade social unicamente através dos seus aspectos técnico-estatíticos e individualistas. Nelas, a maximização dos interesses individuais, a relação custo-benefício e, sobretudo o mecanismo de "livre" coordenação das ações sociais aparecem como as variáveis a serem medidas. Na verdade, são carentes de explicações que visam analisar e compreender as atitudes dos sujeitos sociais, sejam eles indivíduos ou grupos, a partir do sentido comum e intersubjetivo pertencente a uma determinada realidade social.
A crítica a esse paradigma deve começar com a questão de como uma sociedade plural e diversa como o Brasil pode gerar transformações históricas em direção à liberdade e à democracia?, o que significa abrir um lugar autônomo para se pensar o Brasil; colocá-lo em perspectiva com outros países e realidades sociocultural.
A ruptura com essa figura ou imagem instituída pode-se dar por diversas vias ou caminho; neste trabalho procurei mais um viés sociológico amparado no simbólico. Nele destaco a idéia de que a referência fundamental é o simbólico (a cultura), onde a relação de trabalho e conflito pode ser pensada, concebida e engendrada no próprio vivido dos trabalhadores como classe. Só assim poderemos elaborar uma análise que perpassa a estrutura e a liga ao cotidiano, resgatando assim, a face dinamizadora da classe trabalhadora e a capacidade ontológica de ação e transformação que ela possui enquanto sujeito social. Portanto, o jogo aqui delineado, procura colocar no centro da discussão a dimensão societária da vida e a idéia de que os grupos ou sujeitos sociais representam demandas societárias ao invés de ações individuais isoladas.
Resultados e discussão.
Os resultados são parciais, mas nem por isso deixam de ser sugestivos, pois, para os propósitos deste trabalho ainda não são suficientes, mas já apontam de forma decisiva determinados elementos que possibilitam algumas afirmações. A minha intenção foi demonstrar e discutir as transformações no mundo do trabalho, de forma processual, e caracterizá-las conforme uma determinada cultura de trabalho. Entretanto, convém salientar, que a finalidade é demonstrar que existe uma cultura de trabalho brasileira que por muito tempo foi considerada nefasta ao desenvolvimento social, mas que doravante passa a ser o caminho mais viável e perseguido pelos tais chamados: "gestores de pessoas".
O menosprezo, antes especificado, deve-se a aquela perspectiva de análise que, neste trabalho, me propus a criticar e problematizar. Perspectiva essa que, munida de um ideal economicista, age com base na crença em um modelo racional de trabalho e na descrença em padrões morais dos trabalhadores, o que conduz a uma visão mutilada da classe trabalhadora e a uma certa dificuldade de enxergar o lado humano do e no trabalho. A representação da classe trabalhadora no Brasil como "personificação" decorre dessa visão que tende a vê-la como um grupo de indivíduos destinados a manter uma relação de dependência com o capital. Essa visão reduz a classe trabalhadora ás suas funções reprodutivas e de caráter meramente econômico.
Elementos culturais como "familismo", "paternalismo e patriarcalismo" e outros, aparecem representados, em trabalhos acadêmicos e legitimados por determinadas teorias já instituídas, como sendo negativos. Este trabalho teve a ingrata tarefa de analisar, na contramão dessas teorias, outras possibilidades e representações e, graças a um esforço desmedido, consegui apresentar alguns dados que apontam, atualmente, para a gestação e desenvolvimento de uma nova cultura de trabalho mundial que tem como características principais estes elementos que acabei de citar. Creio não ser essa a oportunidade de ilustrar essas idéias com dados empíricos já colhidos, mas posso adiantar que entrevistei alguns profissionais da área de recursos humanos de diversos segmentos de trabalho, e que nessas entrevistas, apesar das suas especificidades e diferenças, elas apontam de forma decisiva para essa nova cultura de trabalho.
Resultados parciais.
O ponto comum, dessas entrevistas, reside no fato delas apontarem para uma preocupação muito grande, por parte dos "gerenciadores de pessoas" e também dos empresários, com a questão subjetiva no trabalho. Estão conscientes que o grau ou nível de satisfação dos trabalhadores numa empresa ou fábrica, em fim, nos locais de trabalho, não depende unicamente de fatores econômicos e individuais, como por exemplo, salário. A questão fundamental, atualmente, é motivação. Aquela forma autoritária e, muitas vezes violenta, de administração vem perdendo apoio e cedendo lugar a uma outra mais consensual e diplomática. Neste espaço, elementos como a criatividade, relatividade e flexibilidade ganham notoriedade e passam a ser reconhecidos como importantes na relação capital/trabalho. Num cômputo geral, o esforço foi no sentido de mostrar que a heteronomia da experiência brasileira com relação à sua modernidade, dá lugar a uma experiência "pós-moderna" exemplar.
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