ÍNDICE DE EROSIVIDADE DA CHUVA NO SETOR SUL DA ALTA BACIA DO RIO ARAGUAIA (GO/MT).

 

OLIVEIRA, V.C.V., CASTRO, S.S.de.

Instituto de Estudos Sócio-Ambientais -IESA

victoriaufg@yahoo.com.br ,selma@iesa.ufg.br

 

Palavras-chave: precipitação pluviométrica, erosividade, EUPS

 

INTRODUÇÃO

A Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS) proposta por Wischmeier & Smith (1978) é um modelo empírico matemático que estima as perdas anuais de solo em um determinado local, abrangendo todos os fatores que influenciam a erosão pelo impacto das gotas de chuva e pelo seu escoamento. A USLE é representada pelo produto de seis variáveis, sendo (R) o fator erosividade da chuva, (K) o fator erodibilidade do solo, (LS) o fator comprimento e grau do declive, (C) o fator uso, manejo e cobertura vegetal e (P) o fator práticas conservacionistas. 

Na EUPS a erosividade é o índice que determina a capacidade da chuva em provocar a erosão e se baseia na energia cinética da chuva. O índice originalmente proposto para esse cálculo é o EI30, que é o produto da energia cinética da chuva pela sua intensidade máxima ocorrida num período qualquer de 30 minutos. Para obtenção desses valores são necessários dados diários de chuva, coletados por meio de pluviógrafos, para que se possa calcular sua intensidade. Devido a falta desse tipo de dado em muitas localidades, já que o que se dispõe geralmente são registros de pluviômetros, que fornecem apenas o total de chuva, vários autores tentaram correlacionar o índice de erosão com este fator climático. Desta forma, Lombardi Neto (1977) citado em D. Moreti et al (2003) estimou o índice de erosividade médio mensal do município de Campinas (SP) utilizando, exclusivamente, registros pluviométricos e a seguinte equação:

 

          Rc = Pm2/Pa                                                                    (1)

sendo Rc o coeficiente de chuva, Pm a precipitação pluviométrica média mensal e Pa a precipitação pluviométrica média anual, em mm, resultando na seguinte expressão, que possui coeficiente de correlação (r) de 0,091.

 

    EI30 = 67,414 Rc0,850                                                           (2)

Posteriormente inúmeras equações foram desenvolvidas com esse mesmo objetivo, sendo que para este trabalho, optou-se pela equação desenvolvida por Carvalho (1987) para o município de Mococa (SP), pelas semelhanças nas características pluviométricas entre esse município e a área de pesquisa, o que resultou num alto coeficiente de correlação: 0,9585.

 

    EI30 = 111,173 Rc0,691                                                        (3)

sendo que EI30 representa o índice de erosividade médio mensal em MJ mm ha-1h-1, obtido mês a mês,  e Rc o coeficiente de chuva, obtido pelo quociente entre o quadrado da precipitação pluviométrica média anual (equação 1).

Na área de pesquisa uma série de estudos foram desenvolvidos com vistas a um melhor entendimento dos fatores que influenciam a erosão tanto linear quanto a laminar. Dentro desse enfoque, o objetivo desse trabalho foi o de determinar o fator EI30 para a área da pesquisa.

MATERIAL E MÉTODOS

Os dados de chuva registrados em pluviômetro, foram levantados junto à ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) por Ramos (2003), referentes a um período de vinte anos de registros para a Estação Pluviométrica Fazenda Taquari, localizada a 17º40’42” e 53º15’05”.

Os dados de quantidade de chuva diária foram agrupados e somados por mês e ano, de forma a se obter os totais de chuva anuais e mensais, e posteriormente calcular a média de chuva em cada mês, bem como a média anual da precipitação.

Para o cálculo da erosividade média mensal EI30 foi utilizada a equação 3, sendo que para uma localidade que possua uma distribuição de chuva semelhante a do município para onde foi desenvolvida (Mococa-SP), e com uma série pluviométrica de no mínimo 20 anos, essa equação pode estimar com boa aproximação esses valores, usando apenas dados de quantidade total de chuva, conforme o colocado e aplicado por D. Moreti et al (2003). Tanto em relação à precipitação média anual das duas áreas quanto a sua distribuição anual, foram observadas semelhanças muito próximas. A validade da sua aplicação na Estação Fazenda Taquari foi ainda verificada por meio de regressão linear entre os dados de precipitação anual das duas localidades, bem como pelo cálculo do intervalo de confiança entre suas respectivas precipitações médias mensais, visando à extrapolação do uso da referida equação.

A obtenção dos índices de erosividade mês a mês, dentro de cada ano foi estimada por meio de regra de três simples e da seguinte forma:

 

        Ei = (PM x IE)/PA                                                           (4)

sendo ei o valor do índice de erosividade EI30 de um mês i contido num ano j da série de dados, PM é o total precipitado num mês i contido num ano j da série de dados, IE é o valor do índice de erosividade EI30 médio mensal, no qual o mês i está contido na série de dados, e PA o valor da precipitação média mensal no qual o mês i está contido na série de dados.

O índice de erosividade de cada ano é dado pela soma dos índices de erosividade de cada mês, dentro de cada ano, e por último, o fator R para determinada localidade é obtido pela média dos índices anuais de erosividade para o período estudado (20 anos).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A precipitação média anual da área de estudo foi de 1691mm sendo que a erosividade média anual (fator R) foi de 8339 MJ mm (ha h ano)-1, conforme pode ser observado no quadro 1.

 As maiores erosividades são encontradas nos meses de outubro a março, que é o período das chuvas na região, que se concentram nesses meses. Desta forma, o período chuvoso responde por 87% do total de erosividade da área, indicando que neste período são esperadas as maiores perdas de solo por erosão, enquanto que os meses secos (abril a setembro) correspondem a apenas 13%. A  amplitude da erosividade mensal variou de 0 a 2583 MJ mm (ha h)-1, sendo que estes valores, bem como o fator R encontrado estão de acordo com o que vem sendo pesquisado no país, em regiões tropicais.

 

 

 

Quadro 1: Valores médios mensais e anuais do índice de erosividade EI30 na Estação Fazenda Taquari, no período 1970 a 1993.

 

Índice de erosividade EI30

 

Mensal  - MJ mm (ha h)-1

Anual*

Ano

jan.

fev.

mar.

abr.

maio

jun.

jul.

ago.

set.

out.

nov.

dez.

1970

559

1421

586

32

115

6

8

0

285

698

936

687

5333

1971

705

582

1311

266

346

16

65

16

132

826

395

706

5367

1973

1119

569

1272

534

424

46

2

0

127

1052

1817

1044

8005

1974

1582

1121

2073

989

173

42

0

88

44

420

639

1420

8591

1975

1240

1118

1485

543

331

9

0

0

150

506

1333

998

7713

1976

939

1743

1421

344

181

0

0

76

475

700

1013

1583

8475

1978

1811

1480

614

229

339

2

40

0

312

282

1100

2583

8790

1979

3304

909

1050

439

136

0

44

99

909

484

1079

1949

10402

1980

1255

1378

738

419

131

52

0

2

636

208

1325

2018

8162

1981

1565

1801

1396

367

90

63

1

6

308

592

1867

1784

9839

1982

2103

1110

1694

530

224

58

13

78

609

591

1073

1863

9945

1983

1790

1465

1081

434

114

2

59

0

294

674

1233

2396

9543

1984

1203

1288

1213

508

106

0

0

409

211

726

1667

1963

9294

1985

2224

872

1229

722

81

4

3

0

302

448

1067

906

7858

1986

900

1216

1348

276

314

1

14

189

200

684

1203

2284

8627

1987

1633

1466

976

580

115

35

0

0

163

237

1387

1892

8484

1988

1398

2010

1881

891

9

0

0

0

109

431

1035

1995

9760

1989

1404

1534

1372

691

102

84

25

122

23

1156

878

2113

9503

1990

1408

1362

1095

717

333

19

16

192

561

572

617

1114

8006

1993

980

901

0

0

0

0

0

29

353

659

418

1744

5085

Média

1456

1267

1192

476

183

22

14

65

310

597

1104

1652

8339

* MJ mm (ha h ano)-1

 

CONCLUSÕES

A aplicação da fórmula desenvolvida para Mococa mostrou-se adequada para aplicação na área de estudo, apresentando um alto coeficiente de correlação (r=0,9585).

Por último foi observado uma concentração de 87% das chuvas erosivas no período de outubro a março, indicando que, nesse período, são esperadas as maiores perdas anuais de solo por erosão.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, M. P. Erosividade da chuva: distribuição e correlação com as perdas de solo de Mococa (SP). 1987. Dissertação de mestrado. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba.

D. MORETI , M. P. CARVALHO, A. R. MANNIGEL, L. R. MEDEIROS. Importantes características da chuva para a conservação do solo e da água no município de São Manuel (SP). R. Bras. Ci. Solo, 27:713-725, 2003.

RAMOS, D. R. de M. Análise da distribuição temporal das precipitações na Alta Bacia do Rio Araguaia e suas relações com os processos erosivos lineares (GO/MT). 2003. Monografia (Bacharelado em Geografia) - Instituto de Estudos Sócio – Ambientais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

WISCHMEIER, W. H., SMITH, D. D. Predicting rainfall erosion losses: a guide to conservation planning. Washington, USDA, 1978. (Agricultural handbook, 537).

 

 

FONTE DE FINANCIAMENTO: CAPES