Livro: fragmentos, cotidianidade e interstícios. Vanessa Tavares da Silva.
Orientadora: Profa. Dra
Dulcimira Capisani. Co-orientador: Prof. Dr. José César T. Clímaco. Faculdade
de Artes Visuais – UFG.
Orientada:
vanessatavares@bol.com.br
Orientadora:
dmira@terra.com.br
Palavras chave: livro, desenho, fragmentos, memória.
Introdução
A pesquisa que desenvolvo no
Mestrado em Cultura Visual na FAV / UFG está na seguinte linha de pesquisa,
“Processos contemporâneos de produção de Imagens Visuais”. Trata-se, portanto
de um projeto teórico-prático.
Tenho como objetivo realizar uma
instalação intitulada Livro. Nela,
utilizo o termo (livro) como conceito, ressemantizando-o.
Tendo a idéia de livro como chave
para a produção, de maneira objetiva e subjetiva, pretendo levantar questões
como precariedade e tempo (interstícios), e os vejo dentro de um terceiro
conceito, que é o de cotidianidade.
No primeiro capítulo desta
dissertação apresento os autores com os quais trabalho de maneira mais central.
Assim, delimito o campo onde está situada a produção artística e qual direção
tomará a reflexão proposta em torno desta.
A proposta para a presente pesquisa
é a de uma instalação, ou seja, um trabalho prático em Artes Visuais e que de
alguma maneira tem conexões com aspectos literários como texto e narrativa, que é como intitulo o segundo capítulo, onde
estabelecerei um diálogo com a obra de Clarice Lispector e Jorge Luis Borges.
No terceiro capítulo estão
referências e precedentes dentro da História da Arte. Também serão feitas
algumas conexões e discussões de aspectos referentes, presentes nas obras da
artista plástica Mira Schendel e do artista luso-brasileiro Artur Barrio.
Metodologia e materiais
O quarto capítulo destina-se à
metodologia, onde serão descritos os procedimentos e à medida do possível, o
conteúdo literário presente nas partes da instalação e a descrição de cada
série que a compõe, sendo na totalidade, a produção visual que é fruto de toda
a pesquisa.
Dentro das ‘modalidades’ das Artes
Visuais, como se trata de criar um ambiente, um espaço, uso o termo
‘instalação’, no entanto uma das principais vias de acesso à poética é o
desenho, mais precisamente a linha.
A instalação divide-se (ou é formada por) em três
‘momentos’, três séries de trabalhos. São eles: objetos; peças feitas de
variados tipos de materiais sejam reaproveitados ou não, como, por exemplo:
tecidos bordados e com colagens; post its,
que são papéis de pequenas dimensões usados habitualmente para recados e
lembretes, que neste trabalho, assumem as funções de suporte para desenho e
para anotações sobre o processo e
reflexão; e os livros – objeto, ou livro de artista, onde estão os fragmentos
de texto mais longos, imagens, desenhos.
Resultados e discussão
A linha ‘vacila’ entre desenho e
palavra. São textos, mais precisamente fragmentos de texto. Partindo da linha
como unidade, os fragmentos formam palavras, que induzem idéias, impressões,
manchas. Em determinados trabalhos se materializam em objetos, os livros. Mas,
a idéia de livro está potencializada como um todo, em toda a instalação, e
assim, cada parte dela está para uma página.
Para os textos, fragmentários, sem
precisão de um início e também de um fim, estabelecerei um diálogo com
escritores como Jorge Luis Borges, Clarice Lispector e Ítalo Calvino.
Para pensar e materializar a idéia
de ‘livro de artista’ e ‘livro objeto’ articulando-o com textos poéticos,
imagens e fragmentos de texto, utilizo o estudo feito por Paulo Silveira, em “A
página Violada”, onde encontro afinidade com artistas que utilizaram os mesmos
meios que pretendo, e a análise de Silveira a respeito destes.
Expansão e transbordamento da idéia
de livro como conceito, está amparada pelo ideal de Mallarmé[1],
comentado por Maurice Blanchot e Arlindo Machado.
A idéia de livro surge a partir do resgate de alguns conceitos, que,
inclusive, precedem nossa idéia ‘atual’ de livro e deste, como meio e fim.
Subjás, entretanto os matizes cotidianidade (fragmento, interstícios) e a
própria idéia de tempo, que cerceia toda a poética.
Neste trabalho, assim como no estudo
de Paulo Silveira, “A página é matéria plasmável por
sua interação positiva com o texto e a imagem, e também porque é rasgada,
furada, colada, feita, desfeita ou refeita, por mutilação ou reciclagem”. (SILVEIRA, 2001: 23).
Assim, nessas partes que são as páginas têm-se os
fragmentos, sejam de textos, desenho ou de ‘materiais’ que são ‘partes’, como
as pétalas de rosas ou post-its.
Conclusões
A articulação dos elementos
utilizados nos remete a reflexões em torno do tempo, memória e da própria
existência.
As três séries articulam as idéias
que geram a pesquisa, de maneira que parta do objeto livro em sua unidade
mínima, que pode ser a linha ou a página para o todo, que é a instalação Livro, que contém todas essas partes,
podendo ser cada uma delas entendida como página, por exemplo.
Livro, em seu aspecto formal, nos
remete primeiramente a palavra. Esta, junto a outras, um assunto. O objeto em
si, contendedor de tal assunto, tem um princípio, meio e fim. No objeto
proposto para esta pesquisa, nesse livro, existem páginas e palavras que, no
entanto, não se encontram em ordem (determinada), pelo menos não ‘naquela’,
“página a página”. As palavras funcionam como objeto, desenho. Os materiais são
diversos, orgânicos, num esforço de remeter-nos à existência, perenidade das
coisas, tempo e memória.
Referências Bibliográficas
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Relógio d’Água, 1984.
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Eni Puccinelli. As formas do silêncio – No Movimento dos Sentidos. Campinas: Ed
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artista. Porto Alegre: Ed da UFRGS, 2001.
Fonte de financiamento: Vanessa Tavares da Silva é bolsista da UFG.
[1] Stephane Mallarmé (1842-1898). Um dos fundadores da modernidade nas artes (poesia). Dessacralizando a linguagem romântica, explora a multiplicidade da linguagem e fragmenta, moldando e lapidando-a, sempre buscando novas formas.