Título:  Aspectos Morfossintáticos da Língua  Akwe)-Xerente (Jê)

Autor: Sinval Martins de Sousa Filho (sinvalfilho@uol.com.br)

Orientadora:  Profa.  Dra.  Silvia Lucia Bigonjal Braggio (silvialbb@terra.com.br)

 

Unidade Acadêmica: Faculdade de Letras/UFG

 

Lingüística Descritiva;  Descrição Gramatical;  Língua Indígena.

 

Sumário

 

 Este projeto tem o objetivo de descrever e analisar aspectos da morfossintaxe da Língua Akwe)-Xerente (± 3.100 falantes, TO). Juntamente com o Xavante, o Xerente compõe o ramo central da família lingüística Jê,  existente ainda hoje. Há vários dicionários, gramáticas pedagógicas e estudos lingüísticos especializados da língua Xavante. A língua Xerente é pouco pesquisada. No projeto aqui proposto, contamos com um corpus de dados coletado com a ajuda de auxiliares de pesquisa que são falantes nativos da língua. A análise dos dados será direcionada pelos estudos em língua indígenas brasileiras, particularmente os que seguem a orientação de modelos tipológicos-funcionais. Uma abordagem descritiva será usada na análise e na apresentação dos dados. Modelos lingüísticos específicos serão usados na análise de certos problemas, por exemplo, na análise do caso genitivo e na classificação de palavras.

 

2. Metodologia

 

            Na análise e descrição da morfossintaxe da língua Xerente adotaremos a orientação de modelos tipológicos-funcionais (Givón 1984, 1990, Dixon 1979, 1994, Comrie 1974, 1981 1989, Li & Thompson 1976, 1981 , Mithun 1984, entre outros) sem excluir, contudo, a consideração de outros modelos reconhecidos como mais adequados para o tratamento de fenômenos da língua. O trabalho terá como eixo às relações entre forma e função. Com este objetivo, priorizamos o estudo do sistema de funções argumentais e dos papéis semânticos, bem como do sistema morfossintático, procurando descobrir quais os elementos que constituem cada um desses sistemas, suas propriedades contrastivas e combinatórias e como esses sistemas interagem.

            Para proceder à análise e descrição do Xerente tomaremos como ponto de partida os trabalhos já realizados sobre fonologia e gramática da língua. A partir da observação e seleção dos dados, hipóteses serão levantadas e operacionalmente testadas. No levantamento das hipóteses, levaremos em conta dados elicitados, uma vez que não há trabalhos sobre a língua Xerente que tenham o texto como eixo de análise.

 

3. Avaliação de trabalhos sobre a língua Xerente

 

Como afirmamos anteriormente, Xerente e Xavante  são as únicas línguas existentes do ramo central da família lingüística Jê (Rodrigues, 1986). Existem vários dicionários, gramáticas pedagógicas e estudos lingüísticos especializados da língua Xavante. Entretanto, apesar do intenso contato com a população não-indígena há mais de  dois séculos, a língua Xerente conta com poucos estudos de descrição lingüística. Mattos (1973),  Fonologia Xerente, apresenta uma descrição dos fonemas e sílabas Xerente, baseada no modelo fonêmico de Pike. O Dicionário Escolar: Xerente-Português, Português-Xerente (Krieger e Krieger 1994) contém aproximadamente 3500 verbetes em cada uma das duas seções, as quais se destinam a ajudar falantes nativos da língua Xerente nas atividades de escolarização.  Já Siqueira (2003), Aspectos do Substantivo na Língua Xerente, e Santos (2001), Morfologia do Substantivo Xerente, descrevem os marcadores de posse, sufixos de grau (diminutivo e aumentativo) e sufixos de nominalização que estruturam o nome Xerente.  Nota-se que estudos descritivos sobre a língua Xerente ainda são incipientes. Conseqüentemente, descrever a referida língua é uma tarefa árdua e urgente.

 

4. Objetivos

 

            O objetivo deste trabalho é analisar e descrever aspectos fundamentais da morfossintaxe da língua Xerente que permitam um razoável conhecimento da sua gramática e possam propiciar as bases para trabalhos comparativos com línguas da mesma família lingüística. Também, pretende-se que esta análise possa fundamentar a abordagem de aspectos pontuais da gramática, ainda não contemplados em estudos sobre Xerente, e de tópicos que, embora aqui descritos, careçam de um maior aprofundamento. E para alcançar esse objetivo, de acordo com o nosso enfoque, necessitamos descrever  alguns processos morfofonológicos e semântico-pragmáticos que possivelmente atuam na formação das categorias lingüísticas que compõem a referida língua. Assim, esperamos alcançar, com  esse objetivo, parâmetros para  o estabelecimento dos limites do vocábulo mórfico e demonstrar como são expressas as formas e as categorias lingüísticas na língua Xerente.

            Para a Sociedade Lingüística da América (LSA), de acordo com Crystal (2000), a documentação e análise de línguas vivas, principalmente das que estão ameaçadas de extinção, é a maior prioridade da lingüística, pois a descrição delas representa uma  fundamental e permanente contribuição para a fundação da Lingüística. Por conseguinte,  temos como objetivo dar nossa parcela de contribuição para a consolidação da Lingüística como ciência.

Esperamos, ainda,  contribuir com um processo de vitalização da língua Xerente, o que pode ser desencadeado por vários fatores, entre eles, a documentação da língua e o processo de educação escolar.  Esperamos, finalmente, que os resultados obtidos com a pesquisa sirvam à sociedade Xerente, isto é, pretendemos que os professores indígenas se apropriem dos resultados da pesquisa, de modo a utilizá-los na preparação e execução do seu trabalho docente.

 

 

 

 

Bibliografia

 

BRAGGIO, S.L.B.  Aspectos Fonológicos e Morfológicos do Kadiwéu. Dissertação de Mestrado,UNICAMP:Campinas-SP, 1981.

BYBEE,  Joan. Morphology: a study of the relations between meaning and form.  Amsterdan: John Benjamns, 1985.

COMRIE, Bernard. Causatives and Universal Grammar. Transcription of the Philological Society, 1974. p. 1-32..

CRYSTAL, David.  Language death.  Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

DIXON, Robert .M.W.. Noun classes. Língua, 1968.  p.  21.104-25.

GIVÓN, Talmy.  Syntax: a Functional – Typologial Introduction, vol II. Amsterdam and Philadelphia: John Benjamins, 1984.

KRIEGER, W. B. e KRIEGER, G. C. Dicionário escolar: Xerente-Português-Xerente. Rio de Janeiro: Junta das Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, 1994.

LI, Charles & THOMPSON, Sandra. Subject and Topic: a new typology of language. In  LI, Charles (ed.). Subject and Topic. New York. Academic Press, 1976.

MATTOS, R. de. Fonêmica Xerente. Brasília: SIL, 1973. (Série Lingüística 1).

MITHUN, Marianne. The evolution of Noun Incorporation. Language v. 60,  1984, p. 847-95.

RODRIGUES, A. D. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola, 1986.

SANTOS, Jayme Célio Furtado dos. Morfologia do Substantivo Xerente. Revista Philologus. Rio de Janeiro: Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos. v.7, n.21, 2001. Online. URL: <http://www.filologia.org.br/revista/artigo/7(21)08.htm>.

SIQUIERA, Kênia M. de Frieitas. Aspectos do substantivo na língua Xerente. Goiânia: UFG, 2003. (Dissertação de Mestrado).

SOUSA FILHO, Sinval M. de. Aquisição do português oral pela criança Xerente. Dissertação (Mestrado) UFG, Goiânia, 2000.

 

 

Fonte de Financiamento: CNPq -  Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico