Auto-estima e comportamento na sala de aula de literatura estrangeira
Autora: ASSIS, S.N.A.L.
Unidade Acadêmica:
Universidade Federal de Goiás – Letras
Endereço eletrônico da
aluna: neudalago@hotmail.com
Endereço eletrônico do
orientador: fquaresma@terra.com.br
Palavras-chave: auto-estima,
comportamento, literatura estrangeira
Utilizo o
termo auto-estima neste trabalho para tratar do valor que os alunos atribuem a
si mesmos e da imagem que têm da sua própria capacidade. Embora essa questão
seja explorada numa vasta gama de outras áreas (Daniel, 2002), as pesquisas a
seu respeito no campo de Aquisição de Segunda Língua (ASL) ainda estão em seu
estágio incipiente. Quanto à sua relevância na cultura da sala de aula, porém,
embora alguns resultados indiquem o contrário (Boyd, 2002), a maioria das
pesquisas indica que um ensino voltado para o fortalecimento da auto-estima dos
alunos pode aprimorar sua capacidade de aprendizagem (Grose, 2000).
A respeito
da relação entre a auto-estima dos alunos e seu comportamento em sala de aula,
várias pesquisas chegaram à conclusão de que aqueles cuja auto-estima era
elevada participavam mais. Templin
et al. (1999) verificaram que aprendizes de língua estrangeira com
um alto grau de auto-estima quanto à sua capacidade de aprendizagem daquela
língua têm muito maiores probabilidades de serem bem-sucedidos do que aqueles
que se consideram incapazes. Em sua pesquisa, os alunos com maior auto-estima
despenderam maior atenção, mais esforço, persistência e maior número de
estratégias do que os que se consideravam incapazes.
Neste
trabalho, estou focalizando a auto-estima e o comportamento dos alunos na sala
de aula de literatura estrangeira. Dentro do campo de ASL, essa sala é um lugar
de encontro dos alunos consigo mesmos e com outros, com sua própria língua e
com a língua estrangeira, com sua própria cultura e com a cultura estrangeira.
O confronto que emana das relações estabelecidas nessa sala de aula específica
nem sempre resulta na síntese de compreensão desejada (Rees, 2003). Ao tratar
de temas da literatura estrangeira, na língua-alvo, os alunos estão expostos às
mesmas apreensões da aula de língua estrangeira, com o agravante de que não
recebem, geralmente, apoio lingüístico estrutural para suas discussões, o que
torna essa situação potencialmente perigosa para sua auto-estima, especialmente
para aqueles que não dominam bem a língua-alvo.
Optei por métodos qualitativos, predominantemente,
por considerá-los mais apropriados para o estudo que estou realizando. Meu
trabalho se enquadra, também, dentro do que Cohen et al. (2000) denominam
paradigmas interpretativos, caracterizados pela preocupação com o indivíduo, buscando
compreender o mundo subjetivo da experiência humana.
Os participantes de minha pesquisa foram oito alunos
quinto-anistas do curso de Letras Português/Inglês, na Universidade Federal de
Goiás, no Campus Avançado de Jataí. Coletei os dados no decorrer de um semestre
de aulas do seu curso. A escolha dessa turma e universidade deveu-se ao fato de
eu ser sua professora das disciplinas Literatura Inglesa III e Literatura
Americana II, tendo assim trabalhado com minhas próprias aulas, que eram
ministradas em inglês.
Os documentos que utilizei na pesquisa, em que atuei como
observadora-participante, foram os seguintes: questionários, transcrições de
entrevistas feitas com os alunos, transcrições de aulas filmadas, tabelas
estruturadas de observação do comportamento, diários escritos pelos alunos
antes e após as aulas e relatos autobiográficos. O uso dessas fontes diferentes
tem possibilitado a triangulação dos dados e a validação dos resultados
(Erickson, 1986).
Resultados e discussão
A análise dos dados coletados me permitiu verificar que não houve
correspondência entre a auto-estima global (a imagem geral que os participantes
tinham de si mesmos) e específica (a imagem que tinham de si como alunos de
literatura), fato que aponta para o caráter especial da experiência de estudar
literaturas estrangeiras. Sua auto-estima passou por várias mudanças durante o
período observado, mas sem obedecer a nenhum padrão específico.
Os alunos listaram vários fatores que fortaleceram sua auto-estima como
alunos de literatura estrangeira, tais como: partilhar das idéias do grupo ao
analisar os textos, receber comentários positivos dos colegas e da professora,
realizar a leitura dos textos antes da aula, ter liberdade para expressar suas
idéias sem censura e compreender o texto em pauta. Como fatores que
enfraqueceram sua auto-estima, os alunos citaram: não dominar bem as estruturas
da língua-alvo para se expressar, ter de recorrer à crítica literária para
compreender o trabalho de um autor, não acompanhar o ritmo rápido da aula e
desconhecer o tópico em discussão.
Quanto ao comportamento em sala-de aula, os alunos que apresentavam
auto-estima mais elevada tinham uma participação mais ativa e voluntária.
Conclusões
Várias variáveis no ambiente de sala influíram nos sentimentos dos
alunos: vídeo-gravações e projeções das aulas filmadas, mudança de gênero
literário, de prosa e drama para poesia, apresentação oral de logs no início de cada aula e recebimento das
notas bimestrais. Apesar dessas variáveis partilhadas por todos, as reações de
cada aluno, e a variação na sua auto-estima, foram distintas. Não foi possível
criar categorias estanques nas quais encaixá-los, o que confirma a unicidade de
cada participante. Interpretações diferentes dos eventos relacionados à sala de
aula não podem ser tidas como a única fonte da variação na auto-estima dos
alunos. Outros fatores, internos e externos, presentes e passados certamente
influenciam.
A forma como os colegas e o professor vêem o aluno apresentaram uma
forte influência na sua auto-imagem, reforçando a força do elogio e incentivo.
Mais atenção deve ser dado, portanto, ao uso do feedback positivo em
sala. Os professores podem se beneficiar do conhecimento sobre a auto-estima de
seus alunos – isso os ajudará a entender melhor seu comportamento em sala e a
ficar menos frustrados quando esse comportamento é distinto do esperado. É
importante para o professor ter noção do grau de frustração dos alunos quando
seu próprio desempenho não os satisfaz – isso o ajudará a tomar decisões mais
acertadas quanto a sua forma de condução das aulas.
Referências bibliográficas
BOYD, M. Self-esteem not always linked to achievement. AtGuelph,
v. 46, n. 15 , outubro 2002.
COHEN, L.; MANION, L.
MORRISON, K. Research Methods in Education. London: Routledge/Falmer,
2000.
DANIEL, R. The Intelligent Body; The Non-Local Mind. Humanising
Language Teaching
ano 4; n.1; major article, janeiro, 2002.
ERICKSON, F. Qualitative Methods in Research on
Teaching. In: WITTROCK, M. C. (Ed.). Handbook
of research on teaching. New York: Macmillan, p. 119-161, 1986.
GROSE, M. Building Healthy Self-esteem. Quality Time Magazine, Telling Words Co., disponível em www.qualitytimemagazine.com, 2000. Acesso em
21 de março de 2003.
REES,
D.K. O Deslocar de Horizontes: um Estudo de Caso da Leitura de Textos
Literários em Língua Inglesa. Tese de Doutorado não publicada. Belo Horizonte:
POSLIN-UFMG, 2003.
TEMPLIN, S. A.;
SHIROKU, M; TAIRA, K. Self-Efficacy Syllabus. The Language Teacher Online: v. 23, n.
4, abril 1999.
Fonte financiadora: não
houve