Resumo
expandido:
Título: O tema
da morte em José J. Veiga - uma proposta de leitura de Os Cavalinhos de Platiplanto.
Nome
dos autores: RIBEIRO, R.D.B.; FARIA, Z.
D. (orientadora)
Instituição:
UFG
Endereço
eletrônico: celiniribeiro@ig.com.br
;
Palavras-chave:
literatura brasileira, conto contemporâneo, temática da morte, espaços e
imagens simbólicas.
Na obra Os
cavalinhos de Platiplanto, do escritor goiano, José J. Veiga, percebe-se a
freqüência de diferentes situações de morte. Não só a recorrência deste tema,
mas os espaços onde ocorrem as ações nesta obra possuem uma importância
fundamental para a construção das narrativas desta coletânea. Alfredo Bosi
(1995, p.20) comenta que as narrativas de Veiga reúnem “situações de estranheza
em um contexto familiar que evoca discretamente costumes e cenas regionais”.
Portanto, podemos observar nesta coletânea, um jeito especialmente particular
do autor de revelar o mundo, através da construção de uma realidade ficcional,
em que é inserida, na maioria dos casos, a figura de uma criança, quase sempre
como vítima da condição opressora do adulto. Alguns estudos como o de Vânia
Rezende (1998) apontam a constante presença da perspectiva infantil nesta obra.
Vânia (1998, p.55) afirma que, dos doze contos, “seis têm a criança como centro
da narração”, em outros, “o narrador é o adulto que se debruça no passado, para
trazer, para a narrativa, lembranças”. Regularmente, essas personagens são
colocadas diante de diferentes situações de morte. Aliás, esses aspectos em Os cavalinhos de Platiplanto foram
ressaltados por Maria Zaíra Turchi, em um artigo sobre a obra de José J. Veiga,
em que ela tece os seguintes comentários:
(...) a
presença do mundo infantil em confronto com a realidade exterior – não a
infância feliz, mas meninos sérios, tristes ou perplexos; a sociedade arcaica e
opressora – os homens têm poder de decisão, as mulheres são passivas, as
crianças não têm voz; a iniciação para o
luto e não para o amor; as relações de parentesco nas tramas; a morte da
mãe ou do pai (...) e a morte definitiva e poderosa. (TURCHI, 2003, p.94, grifo
nosso).
A nosso ver, o tema da morte, recorrente
nas narrativas que compõem a coletânea citada, além de se associar aos demais
elementos narrativos da obra, funciona como um elo entre os contos.
Essas razões explicam a escolha do tema da morte como
objeto principal deste estudo. Por isso, de grande importância para a pesquisa
que nos propusemos a realizar é a análise tanto dos espaços onde ocorrem as
ações como de certas imagens simbólicas que entremeiam os contos. A nosso ver,
esses componentes mantêm uma estreita ligação com as situações de morte. A
presença de espaços como o da ilha, o córrego, o poço, o rio – locais em que
predominam o elemento água – ou ainda, o atravessar de lugares com significado
metafórico, como a estrada, a ponte, a montanha sugere um ritual de passagem,
seja pela indignação do narrador-personagem com a morte absurda, seja pela
compreensão da morte de um ente querido, ou seja, ainda, pelo que a morte
representa como contribuição para seu próprio amadurecimento. Os espaços acima
citados apresentam-se freqüentemente como componentes do ambiente em que se
passam as ações das narrativas. Contudo, esses espaços do cotidiano, mais do
que simplesmente comporem um cenário, colaboram para a configuração das
diferentes facetas da morte. Eliade (2001, p.147) nos assegura “que a
existência humana chega à plenitude ao longo de uma série de ritos de passagem,
em suma, de iniciações sucessivas”. Para o autor de O sagrado e o profano (2001, p.150), os ritos de passagem podem
ocorrer tanto no nascimento, no casamento, como na morte, e, em cada uma dessas
situações ocorre uma iniciação, pois “envolve sempre uma mudança radical de
regime ontológico e estatuto social”. O referido autor nos chama ainda a
atenção para o simbolismo de imagens e situações que podem equivaler à passagem
de um modo de ser a outro, como acontece com a morte.
Esta pesquisa
se propõe a fazer um estudo sobre a temática da morte em Os Cavalinhos de Platiplanto, tendo como enfoque central o exame
dos espaços e das imagens simbólicas e sua ligação com essa temática. Isso
pressupõe verificar e examinar não só a recorrência da morte, mas a maneira
como ela se manifesta, bem como também analisar alguns outros aspectos da
estrutura narrativa na obra citada.
Este estudo consiste, pois em uma análise crítica da
obra Os cavalinhos de Platiplanto, do
escritor goiano José J. Veiga. Para realizá-lo, pretendemos nos apoiar em
diferentes estudos como a obra crítica sobre o autor, alguns aspectos do
instrumental teórico sobre a crítica temática e sobre a narratologia, além de
outros relacionados ao tema da morte e ao problema do simbolismo dos espaços
que serão analisados.
Nossa pesquisa encontra-se ainda em uma fase muito
inicial, centrada particularmente na releitura da obra de José J. Veiga, na
leitura da crítica de sua obra e na pesquisa bibliográfica, necessária à
fundamentação de nosso estudo. Por isso, no momento, não temos dados concretos
a apresentar, a não ser, por um lado, a confirmação trazida por nossas
leituras, da importância da temática da morte em Os cavalinhos de Platiplanto. Por outro lado, a confirmação que
embora, alguns estudos tenham apontado o problema da morte na obra de J. Veiga,
em questão, este aspecto ainda não foi estudado sistematicamente pela crítica.
Portanto, acreditamos que nossa pesquisa consistirá em uma contribuição
importante para um conhecimento mais amplo da obra do autor. A análise dos espaços
e das imagens simbólicas e sua relação com a temática da morte nos permitirá,
com certeza, apreender a dimensão desses aspectos na criação literária de José
J. Veiga.
Referências bibliográficas:
BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
BOSI, Alfredo. “Situações e
Formas no Conto Brasileiro Contemporâneo”. In:____. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1995.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o
profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
REZENDE, Vânia Maria. “Fantástico e maravilhoso na obra de José J.
Veiga”. In: O menino na literatura
brasileira. São Paulo: Perspectiva, 1998.
TURCHI, Maria Zaíra. As fronteiras do conto de José J. Veiga. Ciências e Letras, Porto Alegre, nº 34,
p.93-104, jul./dez., 2003.
VEIGA, José J. Os cavalinhos de platiplanto. 20.ed. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.