BALANÇO
DE TAXAS DE EROSÃO E SEDIMENTAÇÃO EM UM GRANDE RIO ALUVIAL: O CASO DO RIO
ARAGUAIA - BRASIL
Autores:
MORAIS, R. P. e LATRUBESSE, E. M.
Unidade
Acadêmica onde o trabalho foi desenvolvido: Doutorado em Ciências Ambientais
(CIAMB) e Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA).
E-mails: rpmorais@hotmail.com e latrubes@terra.com.br
Palavras-chave: Rio Araguaia, erosão, sedimentação, balanço de
taxas.
Localizada no Médio Araguaia a área deste estudo compreende o trecho entre a confluência do rio das Garças e o rio Araguaia na cidade de Aragarças (GO) e a confluência do rio Cristalino com o Araguaia na altura da Ilha do Bananal. O trecho tem uma extensão de 580 km aproximadamente e foi dividido em 10 segmentos de canal para facilitar a análise e comparações entre diferentes períodos temporais.
Mudanças no uso da terra ocorridos com o desmatamento do Cerrado para ceder lugar às atividades agrícolas deixaram mais susceptíveis os solos na área da bacia aos processos erosivos aumentando a produção e fornecimento de sedimentos para o sistema fluvial. Este tipo de alteração tem provocado desde o final da década de 70 do século XX mudanças morfológicas no canal em ilhas e bancos de areia devido a processos de erosão e sedimentação.
O objetivo principal deste estudo é estimar o balanço sedimentar (massa e volume) armazenado no canal e na planície de inundação e quantificar o ritmo dos processos de erosão e sedimentação anual que modifica a morfologia do canal e conseqüentemente obter taxas dos processos que envolvem o material remobilizado da planície através de erosão e sedimentação das margens (barrancos), canais secundários e ilhas.
Materiais
e Métodos
Utilizou-se cartas topográficas do IBGE/DSG escalas 1:250000 e 1:100000, os quais são produtos de restituição aerofotogramétrica de fotografias aéreas (USAF, 1965), imagens de radar (SLAR) escala 1:250000 do ano de 1976 e imagens de satélite Landsat 5 TM escalas de 1:250000 e 1:100000 de 1997. As fotografias aéreas (USAF, 1965), escala de 1:60000 serviram pra controle das geoformas fluviais do canal e auxiliar na sua quantificação.
A divisão do canal do rio Araguaia foi feita de
acordo com padrões tectônicos que controlam sua direção. Este método consiste
em marcar as inflexões do canal, ou seja, o ponto que marca o início e o fim de
um segmento é condicionado por uma mudança no sentido azimutal geral do canal
que é S – N. O trecho de estudo com aproximadamente 580 km de extensão foi
dividido em dez segmentos.
Utilizando a metodologia de Morais (2002) para mapear áreas de erosão e sedimentação e aplicando equações matemáticas para quantificar estes processos será feito o mesmo para o canal de 1998 (após obter as imagens de satélite) já que entre os anos de 1965 e 1997 já estão prontos. Através deste resultado será estimado o balanço anual das taxas de erosão e sedimentação.
Foram obtidos em campo perfis sedimentológicos descritos em localidades distribuídas pela planície, margens de canal, ilhas e bancos de areia para quantificação do balanço sedimentar. Utilizando métodos tradagem (Trado mecânico) e sondagem (Sonda Vibracore) foram extraídas amostras de sedimentos na planície de inundação e margem do canal em profundidades que variam de 2,0 a 3,0 metros a partir do topo do barranco e feitas datações por C14 destas amostras num total de cinco. Pretende-se com estes dados através do cálculo de volume estimar a quantidade de material depositado e armazenado na planície em função do tempo.
O cálculo de volume (V) será obtido por V = Área x Espessura do pacote sedimentar. Conhecido o volume será calculado a Massa dos materiais sedimentares como areia, silte e argila. Sabendo-se os valores referentes ao peso específico/densidade (d) destes materiais o valor é obtido através da seguinte equação M = Densidade x Volume.
Para o calculo do índice de braided utilizou-se o método proposto por Friend e Sinha (1993) que consiste na soma de todas as extensões dos canais (principal e secundários) ao longo do trecho (lCTOT) pela soma extensão do canal principal (lCMAX), ficando definido como B = lCTOT / lCMAX.
Foram calculados dados quantitativos nos diversos períodos temporais como numero de ilhas, banco de areia, canais assoreados e em fase de assoreamento, sinuosidade do canal, largura mínima, máxima e média.
Entre o período de 1965 e 1997 identificou-se em
todos os segmentos do Araguaia variações na quantidade de ilhas (erodidas e
ilhas novas), mudanças morfológicas dos bancos de areia, variações na largura
média do canal, assoreamento de canais secundários e anexação de ilhas à
planície de inundação. Neste período o número de ilhas reduziu 24,38%, e do
total de ilhas no canal em 1997 62,50% são ilhas novas. As barras laterais
diminuíram 32,12% e as barras centrais aumentaram 89,38% ao longo do período. A
largura média do canal também reduziu 8,64%. A variação dos índices de
sinuosidade e braided foi pequena, mas também diminuíram.
Até o momento foram calculados todos os dados
morfométricos/morfológicos nos diferentes períodos temporais mas devido a
grande quantidade de variáveis envolvidas torna-se difícil de serem explicitadas
aqui. Os dados sobre volume e massa ainda não foram obtidos na sua totalidade.
Conclusão
A dinâmica morfológica do rio Araguaia entre os anos
de 1965, 1976 e 1997 é marcada por dois períodos distintos. Entre 1965 e 1976
as variações morfológicas são tênues. Praticamente não se nota mobilidade
lateral do canal e as ilhas estão bem estabilizadas. O canal principal
encontra-se num estado praticamente conservativo com poucas mudanças. Entre
1965 e 1997 o canal apresenta grandes alterações devido a processos acelerados
de erosão e sedimentação afetando ilhas, barras arenosas e o ritmo de
deslocamento lateral do canal. Os processos de erosão e sedimentação mudaram a
configuração do canal em poucas décadas. No intervalo de 32 anos (1965-1997) o
canal passou por uma transição de padrão morfológico e acelerou a ação erosiva
e sedimentar no médio curso onde o rio desenvolve uma ampla planície aluvial,
levando o rio a uma incipiente metamorfose do seu canal com tendência a
agradação. Há uma tendência nítida do aumento dos processos de sedimentação em
relação à erosão no canal.
Os resultados que este estudo levanta sugere
discussões sobre o tempo de resposta do canal para reagir às mudanças indiretas
como as alterações da carga de sedimentos devido ao tipo de uso da terra na
área da bacia hidrográfica. O alto grau de destruição do Cerrado é hoje um dos
maiores do mundo em larga escala e é sabido que as modificações que atingem o
sistema fluvial não manifestam respostas imediatas, mas iniciam mudanças que se
estendem ao longo do tempo.
Referências Bibliográficas
FRIEND, P. F.; SINHA, R. Braided and meandering
parameters. In: BEST, J. L A.; BRISTOW, C. S (Ed.). Braided Rivers. Geological
Society Special Publication, 75: 105-111, 1993.
LATRUBESSE, E. M.; STEVAUX,
J.C. Geomorphology and environmental aspects of the Araguaia fluvial basin,
Brazil. Zeischrift fur Geomorphologie. Berlin, Struttgard. 129: 109-127, 2002.
Fonte de Financiamento: Programa Centro-Oeste do
CNPq, processo nº 520812/99-9 através do projeto “Morfodinâmica atual e
evolução quaternária da planície aluvial do rio Araguaia: suas implicações
ambientais. E também a Capes pela concessão de Bolsa de demanda social”.