BALANÇO DE TAXAS DE EROSÃO E SEDIMENTAÇÃO EM UM GRANDE RIO ALUVIAL: O CASO DO RIO ARAGUAIA - BRASIL

 

                       

Autores: MORAIS, R. P. e LATRUBESSE, E. M.

 

Unidade Acadêmica onde o trabalho foi desenvolvido: Doutorado em Ciências Ambientais (CIAMB) e Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA).

 

E-mails: rpmorais@hotmail.com e latrubes@terra.com.br

 

Palavras-chave: Rio Araguaia, erosão, sedimentação, balanço de taxas.

 

 

Introdução              

 

O rio Araguaia é um grande rio tropical com uma extensão de 2.110 km até desaguar no rio Tocantins, ocupando uma área de 379.836 km2, sua vazão média é de 6.420 m3/s. A área abrange grandes extensões de cerrado, áreas inundáveis e de transição para a floresta tropical úmida da Amazônia (Latrubesse e Stevaux, 2002).

Localizada no Médio Araguaia a área deste estudo compreende o trecho entre a confluência do rio das Garças e o rio Araguaia na cidade de Aragarças (GO) e a confluência do rio Cristalino com o Araguaia na altura da Ilha do Bananal. O trecho tem uma extensão de 580 km aproximadamente e foi dividido em 10 segmentos de canal para facilitar a análise e comparações entre diferentes períodos temporais.

Mudanças no uso da terra ocorridos com o desmatamento do Cerrado para ceder lugar às atividades agrícolas deixaram mais susceptíveis os solos na área da bacia aos processos erosivos aumentando a produção e fornecimento de sedimentos para o sistema fluvial. Este tipo de alteração tem provocado desde o final da década de 70 do século XX mudanças morfológicas no canal em ilhas e bancos de areia devido a processos de erosão e sedimentação.

O objetivo principal deste estudo é estimar o balanço sedimentar (massa e volume) armazenado no canal e na planície de inundação e quantificar o ritmo dos processos de erosão e sedimentação anual que modifica a morfologia do canal e conseqüentemente obter taxas dos processos que envolvem o material remobilizado da planície através de erosão e sedimentação das margens (barrancos), canais secundários e ilhas.

 

 

Materiais e Métodos

 

Utilizou-se cartas topográficas do IBGE/DSG escalas 1:250000 e 1:100000, os quais são produtos de restituição aerofotogramétrica de fotografias aéreas (USAF, 1965), imagens de radar (SLAR) escala 1:250000 do ano de 1976 e imagens de satélite Landsat 5 TM  escalas de 1:250000 e 1:100000 de 1997. As fotografias aéreas (USAF, 1965), escala de 1:60000 serviram pra controle das geoformas fluviais do canal e auxiliar na sua quantificação.

A divisão do canal do rio Araguaia foi feita de acordo com padrões tectônicos que controlam sua direção. Este método consiste em marcar as inflexões do canal, ou seja, o ponto que marca o início e o fim de um segmento é condicionado por uma mudança no sentido azimutal geral do canal que é S – N. O trecho de estudo com aproximadamente 580 km de extensão foi dividido em dez segmentos.

            Utilizando a metodologia de Morais (2002) para mapear áreas de erosão e sedimentação e aplicando equações matemáticas para quantificar estes processos será feito o mesmo para o canal de 1998 (após obter as imagens de satélite) já que entre os anos de 1965 e 1997 já estão prontos. Através deste resultado será estimado o balanço anual das taxas de erosão e sedimentação.

Foram obtidos em campo perfis sedimentológicos descritos em localidades distribuídas pela planície, margens de canal, ilhas e bancos de areia para quantificação do balanço sedimentar. Utilizando métodos tradagem (Trado mecânico) e sondagem (Sonda Vibracore) foram extraídas amostras de sedimentos na planície de inundação e margem do canal em profundidades que variam de 2,0 a 3,0 metros a partir do topo do barranco e feitas datações por C14 destas amostras num total de cinco. Pretende-se com estes dados através do cálculo de volume estimar a quantidade de material depositado e armazenado na planície em função do tempo.

            O cálculo de volume (V) será obtido por V = Área x Espessura do pacote sedimentar. Conhecido o volume será calculado a Massa dos materiais sedimentares como areia, silte e argila. Sabendo-se os valores referentes ao peso específico/densidade (d) destes materiais o valor é obtido através da seguinte equação M = Densidade x Volume.

            Para o calculo do índice de braided utilizou-se o método proposto por Friend e Sinha (1993) que consiste na soma de todas as extensões dos canais (principal e secundários) ao longo do trecho (lCTOT) pela soma extensão do canal principal (lCMAX), ficando definido como B = lCTOT / lCMAX.

            Foram calculados dados quantitativos nos diversos períodos temporais como numero de ilhas, banco de areia, canais assoreados e em fase de assoreamento, sinuosidade do canal, largura mínima, máxima e média.

 

Resultados e Discussões (parciais)

 

Entre o período de 1965 e 1997 identificou-se em todos os segmentos do Araguaia variações na quantidade de ilhas (erodidas e ilhas novas), mudanças morfológicas dos bancos de areia, variações na largura média do canal, assoreamento de canais secundários e anexação de ilhas à planície de inundação. Neste período o número de ilhas reduziu 24,38%, e do total de ilhas no canal em 1997 62,50% são ilhas novas. As barras laterais diminuíram 32,12% e as barras centrais aumentaram 89,38% ao longo do período. A largura média do canal também reduziu 8,64%. A variação dos índices de sinuosidade e braided foi pequena, mas também diminuíram.

Até o momento foram calculados todos os dados morfométricos/morfológicos nos diferentes períodos temporais mas devido a grande quantidade de variáveis envolvidas torna-se difícil de serem explicitadas aqui. Os dados sobre volume e massa ainda não foram obtidos na sua totalidade.

 

 

Conclusão

 

A dinâmica morfológica do rio Araguaia entre os anos de 1965, 1976 e 1997 é marcada por dois períodos distintos. Entre 1965 e 1976 as variações morfológicas são tênues. Praticamente não se nota mobilidade lateral do canal e as ilhas estão bem estabilizadas. O canal principal encontra-se num estado praticamente conservativo com poucas mudanças. Entre 1965 e 1997 o canal apresenta grandes alterações devido a processos acelerados de erosão e sedimentação afetando ilhas, barras arenosas e o ritmo de deslocamento lateral do canal. Os processos de erosão e sedimentação mudaram a configuração do canal em poucas décadas. No intervalo de 32 anos (1965-1997) o canal passou por uma transição de padrão morfológico e acelerou a ação erosiva e sedimentar no médio curso onde o rio desenvolve uma ampla planície aluvial, levando o rio a uma incipiente metamorfose do seu canal com tendência a agradação. Há uma tendência nítida do aumento dos processos de sedimentação em relação à erosão no canal.

Os resultados que este estudo levanta sugere discussões sobre o tempo de resposta do canal para reagir às mudanças indiretas como as alterações da carga de sedimentos devido ao tipo de uso da terra na área da bacia hidrográfica. O alto grau de destruição do Cerrado é hoje um dos maiores do mundo em larga escala e é sabido que as modificações que atingem o sistema fluvial não manifestam respostas imediatas, mas iniciam mudanças que se estendem ao longo do tempo.

 

 

Referências Bibliográficas       

                                                                                                                

FRIEND, P. F.; SINHA, R. Braided and meandering parameters. In: BEST, J. L A.; BRISTOW, C. S (Ed.). Braided Rivers. Geological Society Special Publication, 75: 105-111, 1993.

 

LATRUBESSE, E. M.; STEVAUX, J.C. Geomorphology and environmental aspects of the Araguaia fluvial basin, Brazil. Zeischrift fur Geomorphologie. Berlin, Struttgard. 129: 109-127, 2002.

 

MORAIS, R. P. Mudanças históricas na morfologia do canal do rio Araguaia no trecho entre a cidade de Barra do Garças (Mt) e a foz do rio Cristalino na Ilha do Bananal no período das décadas de 60 e 90. 2002. 176 p. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia,  2002.

 

 

Fonte de Financiamento: Programa Centro-Oeste do CNPq, processo nº 520812/99-9 através do projeto “Morfodinâmica atual e evolução quaternária da planície aluvial do rio Araguaia: suas implicações ambientais. E também a Capes pela concessão de Bolsa de demanda social”.