Música eletroacústica para intérpretes e processamentos de
áudio em tempo-real. Criação, análise e reflexões estéticas.
Paulo
César Guicheney Nunes
Escola
de Música e Artes Cênicas – UFG
palavras-chave:
música eletroacústica, live-eletronics, score following.
INTRODUÇÃO
A música
eletroacústica nasceu com as primeiras experiências de Pierre Schaeffer em
1948, que ele veio a chamar de musique concrète, e com as obras de
Beyer, Eimert e Stockhausen compostas no início dos anos 50, que se tornaram
conhecidas pelo nome de elektronische Musik (STUCKENSCHMIDT, 1969).
Apesar
de todas as diferenças entre os grupos de Paris e Colônia, eles tiveram em
comum um fato de grande importância para a música do século XX: a exclusão do performer no fazer musical.
O
material utilizado por esta nova música não era mais obtido pela ação de mãos e
vozes humanas, e quando assim acontecia, ele havia sido radicalmente alterado,
perdendo suas características originais que poderiam tornar sua fonte
reconhecível.
A música
eletroacústica surgiu ao mesmo tempo em que suprimiu o intérprete ou, mais
precisamente, surgiu justamente por suprimi-lo.
Estamos
aqui diante de uma música composta de sons e ruídos que não são mais
provenientes de um determinado instrumento musical tocado por um homem, mas sim
de qualquer som existente e ainda de sons inauditos, sintetizados em
laboratório.
Esta é
uma das principais características da música eletroacústica: o material sobre o
qual ela se fundamenta não pode ser produzido por um gesto humano, como, por
exemplo, acontece com a música para instrumentos tradicionais.
Assim, a
música eletroacústica se colocou em um novo lugar em relação ao intérprete.”O
compositor torna-se ao mesmo tempo executante, enquanto a execução, a
realização, adquirem uma importância capital. O músico vira, de certa maneira,
pintor: tem uma ação direta sobre a qualidade de sua realização” (BOULEZ, 1995, p.188).
Esta
nova maneira de produção de um fenômeno sonoro resultou em alguns problemas
quando os compositores decidiram integrar o intérprete a um discurso que nasceu justamente por ser
extrínseco a ele.
A
presente pesquisa visa discutir estas questões e outras mais que virão, através
da composição de uma obra eletroacústica para intérpretes e processamentos de
áudio em tempo-real feitos no ambiente de programação MAX-MSP. Para tal, serão criados
novos programas para o ambiente acima referido, além de experimentações
destinadas à interatividade homem-máquina. O processo composicional da obra, a
criação desses programas e os experimentos serão documentados em artigo
científico, bem como as demais dúvidas e respostas encontradas durante esta pesquisa.
METODOLOGIA
·
Levantamento
bibliográfico
·
Análise
de composições que unem o intérprete às novas tecnologias e documentação das
soluções encontradas;
·
Estudos
de síntese sonora e métodos de processamento em tempo real através do ambiente
de programação MAX-MSP, para posterior elaboração dos programas;
·
Pesquisa
voltada à experimentação de diferentes modos de tratamento em tempo real de voz
e instrumentos e interação intérprete-máquina;
·
Documentação
dos procedimentos utilizados durante a composição da obra e dos problemas e
soluções encontradas a respeito da interação do intérprete com os meios
eletrônicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Até o presente estágio de nossa pesquisa constatamos,
através de experimentação em laboratório com intérpretes e computadores, que os
meios de interação homem-máquina que permitem maior maleabilidade sonora e resposta
aos gestos do executante são:
1.
Processamento em tempo
real dos sons produzidos pelos intérpretes.
2.
Score following (PUCKETTE,
2004).
Verificou-se que os processamentos em tempo real são
particularmente eficazes em ambiente de programação MAX-MSP, sendo possíveis
respostas imediatas aos gestos dos intérpretes.
No que diz respeito ao score following é importante
dizer que suas limitações devem-se ainda pelo “próprio estado-da-arte das
ciências da computação, no sentido de compreender e modelar comportamentos
humanos” (ALMEIDA, 1997, p.227).
CONCLUSÃO
Se, num primeiro momento, a música eletroacústica se
caracterizou pela ausência do intérprete, ausência esta que determinou o novo
gênero, logo os compositores perceberam a importância do performer e o
modo como a música eletroacústica teria suas possibilidades multiplicadas com a
inclusão deste ao seu discurso. A partir de então, várias pesquisas foram
feitas com o intuito de integrá-lo à música eletroacústica: desde a utilização
da fita magnética como suporte fixo que o acompanha até as modificações em
tempo real dos sons produzidos pelos instrumentistas. Atualmente, como a mais
nova contribuição ao gênero, tem-se a interação musical proporcionada pelo
sistema score following.
Apesar
do empenho dos compositores a fita magnética sempre se caracterizou por deixar
pouco espaço para a ação do intérprete, não sendo possível um diálogo entre o performer
e o tape. Assim, este gênero sempre se caracterizou por uma coação do
gesto do intérprete, pois este é obrigado a responder a uma máquina que,
obviamente, é surda, não reage às suas inflexões e não percebe as diferenças
sutis de interpretação que caracterizam o “maravilhoso da música” ao qual se
refere Boulez (1995, p.189).
A
presente pesquisa, ainda em seu estágio inicial, tem dado ênfase a
experimentações voltadas à integração homem-máquina. Dado o estágio em que ela
se encontra, uma conclusão enquanto tal não é exeqüível. Por conseguinte, nos é
possível apenas formular alguns apontamentos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Anselmo Guerra de. A reintegração
do elemento humano na música computacional. In: Encontro Nacional da ANPPOM,
10, 1997, Goiânia: UFG, 1997. p. 223-228.
BOULEZ, Pierre. Apontamentos de
Aprendiz. São Paulo: Perspectiva,
1995.
PUCKETTE,
Miller. Score
following in practice. Disponível em: www.music.buffalo.edu/lippe/pdfs/sanjose.pdf+%22score+follower%22+max&hl=pt-BR.
Acesso em 19 jun 2004.
STUCKENSCHMIDT,
H.H. Twentieth Century Music. New York: World University Library. 1969
FONTE DE FINANCIAMENTO
Universidade
Federal de Goiás