Exclusão e Representação Social das
Crianças/Adolescentes de Rua em Goiânia
Autores: Neves Luiz da Silva e
Custódia Selma Sena do Amaral – FCHF – UFG
palavras-chave: Exclusão Social,
Meninos de Rua, Representação.
1. Introdução
2. Metodologia
Nosso
objeto ou fenômeno, que será tratado no projeto em tela, será abordado com base
num conjunto de autores, bem como, com seus arcabouços conceituais, teóricos e
metodológicos. Vamos tentar articular a metodologia qualitativa, através da
observação participante, com técnicas quantitativas, sobretudo na coleta de
dados. Numa perspectiva antropológica e
sociológica, serviremos de construções teóricas de Da Matta, como os
riquíssimos conceitos de oposição e complementaridade entre “a casa e a rua”.
Também serviremos das experiências, técnicas e reflexões sobre o trabalho de
campo, através das contribuições de Cardoso de Oliveira (1996) e Gilberto Velho
(1997). Os quais trabalham brilhantemente os exercícios do “olhar”, “ouvir” e o
“escrever” antropológicos, os três momentos essências que formam o trabalho
antropológico, os quais denominou-os de atos cognitivos.
Falando
sobre meninos (as) de rua estamos-nos remetendo o tempo todo às idéias de
família, casa, lar, vida, rua, mundo e sociabilidade, em suma, são idéias
morais, que revelam nosso modo de “ser” e de sentir a vida em sociedade. Para
Da Matta (1991), há uma divisão clara entre dois espaços sociais fundamentais
que dividem a vida social brasileira: o mundo da casa e o mundo da rua – onde
estão, teoricamente, o trabalho, o movimento, a surpresa e a tentação. A “Rua”
também é o espaço do lazer, do sexo, mas sobretudo do movimento, do perigo, em
contraste com a calma e a tranqüilidade da “Casa”, do lar, da morada. Nesta
temos um sentimento de destino em conjunto e de objetos, relações e valores, as
“tradições de família”, a idéia de “honra” e de “vergonha”. A casa compõe uma
personalidade coletiva, uma pessoa moral, é um espaço não físico, mas de
convivialidade social profunda; aqui todos tem nome e, é como se fosse único no
mundo, somos especialíssimos.
Já
a rua é o mundo exterior que se mede pela “luta”, pela competição e pelo o
anonimato cruel de individualidades e individualismos – um mundo anônimo e no
“negro do asfalto” onde ninguém conhece ninguém – essa tenebrosa selva de
pedra. A rua, assim como o rio, é o local do “movimento”, movendo sempre num
fluxo de pessoas indiferenciadas e desconhecidas que chamamos de “povo” e de
“massa”; não por acaso, em casa temos as “pessoas”, e todos lá são “gente”:
“nossa gente”. Aqui somos marcados por um sentimento, por um supremo
reconhecimento pessoal: uma espécie de supercidadania, que contrasta
terrivelmente com a ausência total de reconhecimento que existe na rua.
Assim,
se a mulher é da rua, ela deve ser vista e tratada de um modo, são as chamadas
“mulheres da vida”, ao contrário da mulher caseira, que é “mulher ou moça de
família”; também falamos que comida de rua é ruim ou venenosa, enquanto a
“caseira” é boa (ou deve ser) por definição. Até mesmo os objetos e pessoas,
como crianças podem (e são mesmo) ser diferentemente interpretados caso sejam
da rua ou de casa – aqui temos o indicativo central, necessário para
interpretar o peso e a intensidade com que as crianças de rua são,
cotidianamente estigmatizadas e discriminadas pela “boa e grande” sociedade.
3. Resultados e Discussões.
É
proporcionalmente grande a quantidade de crianças e adolescentes em busca da
sobrevivência nas ruas da região metropolitana de Goiânia. Pesquisa realizada
no final de 2001[2],
revelou a existência de cerca de 2.200 crianças e adolescentes nas ruas de
Goiânia e do entorno da capital, compreendido por Senador Canedo, Trindade e
Aparecida de Goiânia. Deste total, cerca de 1700 eram do sexo masculino e 500
do sexo feminino. Do montante de 2.200 crianças, aproximadamente 150 eram
meninos e meninas vivendo nas ruas, nosso objeto específico e, mais ou menos
50, se encontravam em condições de prostituição ou no “comércio do sexo”, outro
grave problema social, que será enfocado em projeto de pesquisa futuro.
Como
se trata de projeto, não temos conclusões, mas apenas objetivos, os quais
perseguiremos: Buscar compreender os mecanismos e/ou condicionantes de exclusão
social de famílias brasileiras em geral e goianas em especial, que provocam a
expulsão e/ou fuga de crianças e adolescentes para as ruas, tornando-os,
vítimas de um processo perverso de insegurança física, alimentar, emocional,
educacional e social.
Tentar
entender as novas dinâmicas e estratégias de sobrevivência nesse novo contexto
de “liberdade” e aventura, mas também de incertezas, fome, frio e violência
etc.. Perceber como elas estão em condições extremamente desfavoráveis e
excludentes, afastadas e/ou expulsas da família, escola, moradia[3],
trabalho, saúde, segurança e de perspectivas futuras.
5. Referência
Bibliográfica
CAMPOS, F. Itami e
BERNARDES, Genilda D’Arc. Goiânia: Sociabilidade na Periferia. Goiânia:
Ciências Humanas em revista, n.2 (1/2). Jan./dez. 1991. pp. 13-46.
CARDOSO DE OLIVEIRA, R.
“O trabalho antropológico: olhar, ouvir e escrever”. Revista de Antropologia.
São Paulo: USP. 1996. v. 39, n. 1. pp. 13-37.
DA MATTA, R. A casa &
a rua. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 4 ed. 1991b.
NETO, Otávio Costa. et al. Rede
Familiar: a reconstrução pela desconstrução. Belo Horizonte: UFMG, 2 ed. 1993.
SENA, Custódia Selma.
Mapeamento e contagem de meninos e meninas de rua. Goiânia: Desktop, 1991.
VELHO, Gilberto.
Observando o familiar. In: individualismo e cultura. Rio de Janeiro: Zahar,
1997.
ZALUAR, Alba. Cidadãos não vão
ao paraíso: juventude e política social. Campinas, SP: Escuta. 1994.
[1] ‘Sociedade Jovem Cidadão 2000’, órgão criado em 1992, ligado à Prefeitura de Goiânia, que mantém interligada e conveniada com outras instituições estatais, Ongs e empresarias, seus próprios organismos. Em Goiânia, essas crianças de rua são assistidas pela Coordenação de Proteção Integral (CPI) do Cidadão 2000’.
[2] Pela Sociedade Cidadão 2000 – e publicada no Jornal O Popular em 5 de abril de 2002 –, efetivada por 150 técnicos, educadores sociais e conselheiros tutelares sob a coordenação de Custódia Selma Sena, doutora em Antropologia e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Universidade Nacional de Brasília (UNB).
[3] Essas crianças, quando não dormem em algum abrigo (casa de apoio), ou no relento das ruas mesmo, criam espaços para repouso e socialização denominados mocós, que em geral são em barracos velhos abandonadas, de baixo de pontes, viadutos, marquises e nas praças da cidade. Esses lugares não os livram de perigos intensos: de aliciadores, violência policial e de grupos de extermino, que voltou a moda, com assassinatos a população de rua.