FANTASIAS E FACHADAS: UM ESTUDO DE ESPAÇOS ESCOLARES REAIS E IMAGINADOS

Lílian Ucker e Raimundo Martins

Mestrado em Cultura Visual

lilianucker@hotmail.com e rmts@terra.com.br

Palavras-chave: espaço escolar, visualidades, imaginação

Bolsista: CNPq

Introdução

Os impactos da globalização têm alcançado grande parte da população mundial em escala e velocidade espantosas, transformando e reorganizando os sistemas, práticas e espaços culturais. Neste cenário, fronteiras tornam-se mais flexíveis e fluxos migratórios ocorrem com maior freqüência, provocando um continuo movimento de trocas culturais.

Nessa dinâmica de mudanças velozes onde se configuram novas e velhas identidades, a adolescência se mostra como um período de contradições. A escola produz-se como espaço de acesso não só de direitos, de aprendizagens, mas também de silenciamentos, homogeneizações e preconceitos que povoam o tempo da adolescência com grandes interrogações.

Em meio a este contexto pós-moderno o espaço escolar continua sendo vivido com grande intensidade, apresentando mais do que marcas das regras gerais de organização social e curricular, mostrando marcas de experiências e saberes cotidianos que são construídos e compartilhados nas realidades dos espaços escolares.

Considerando o espaço escolar como socializador dos significados cotidianos, este projeto visa investigar como jovens da rede pública de Goiânia fantasiam e imaginam suas escolas. Através de desenhos feitos por alunos, serão analisados as escolas ou espaços por eles representados e as visualidades que compõem a construção da escola imaginada.

O estudo tem como objetivos levantar discussões sobre a escola real x escola imaginada e organizar evidências de visualidades que configuram estas escolas. A pesquisa tem como eixo as seguintes questões: Que elementos visuais aparecem nessas representações? De que maneira esses elementos recriam espaços? Como é representada a escola imaginada desses adolescentes? Como esse espaço incorpora vivências? Duas turmas de 1° ano do Ensino Médio de duas escolas localizadas na região central de Goiânia participam do projeto.

 

Metodologia

Os procedimentos metodológicos que orientam esta pesquisa caracterizam uma investigação qualitativa. Questões ou focos de interesses aparentemente amplos são delineados e definidos no decorrer do estudo a partir do levantamento de dados descritivos sobre as escolas, seus espaços e processos interativos bem como pelo contato direto dos pesquisadores com a situação estudada.

Nesta pesquisa os espaços escolares são fonte direta de dados e informações que incluem imagens, registros fotográficos, representações espaciais realizadas através de desenhos, textos e anotações feitas durante visitas às escolas.

Três tipos de coleta de dados serão utilizados: 1) um diário de campo, que registra e constrói a história do grupo e dos momentos investigados tornando-se assim a memória da pesquisa; 2) desenhos e representações dos alunos de espaços da escola real e da escola imaginada, e 3) grupos focais (entrevistas) que serão realizados com grupos de estudantes.

Tanto o diário de campo como os desenhos e os grupos focais fornecerão importantes dados, questões e pontos de problematização à pesquisa. Nenhum instrumento pode ser privilegiado, já que a pesquisa se constitui da ajuda mútua de todos.

Trabalhar dentro desta configuração que parece ser bastante ampla exige avaliar as relações de poder que acontecem entre os alunos e nos espaços de convivência e, também, o lugar dos pesquisadores na construção e desenvolvimento da pesquisa.

 

Resultados e Discussões

Os primeiros encontros nas escolas escolhidas para a realização da pesquisa aconteceram de forma espontânea e aberta. Não houve um roteiro previamente estabelecido para estes encontros. Pode-se dizer que a entrada na escola se deu primeiramente para a visualização do espaço, familiarização com diretora, professores e alunos e, portanto, visando conhecer estas escolas em seus aspectos particulares.

Conhecer as escolas, a área administrativa, salas de aula, seus espaços coletivos de convivência e lazer, foi o passo inicial que desencadeou a aproximação com os processos presentes nesses espaços e com os movimentos do cotidiano que ali atravessam e se cruzam. Um período de três meses, a partir do contato inicial com a direção das escolas, foi necessário para definir as turmas, turnos e horários para realização da pesquisa. Estão planejados cinco encontros (aulas de 40 minutos) com duas turmas do 1° ano do Ensino Médio, sendo dois encontros a cada semana.

A Escola A é construída em terreno amplo, com espaços de convivência diferenciados. Além de muitas salas de aula possui, também, um pátio com quadra esportiva onde os alunos se encontram para conversar durante o recreio. Nesta escola já foram realizados dois encontros com os alunos. A turma tem 35 (trinta e cinco) alunos e é composta predominantemente por alunas mulheres oriundas da cidade de Goiânia. Os primeiros contatos tiveram como objetivo a familiarização com os alunos, seus interesses e preferências referentes ao cotidiano escolar. Fotografias dos espaços da escola sem a presença dos alunos foram apresentadas ensejando curiosidade e comentários sobre as mesmas. As representações - desenhos - dos alunos e alunas sobre estes espaços ainda não foram realizadas.

Na escola B, foram feitas fotografias do espaço escolar, registros e descrições das primeiras impressões no diário de campo. A estrutura física é bastante diferente da escola A. A escola B é menor, tem menos salas de aula e dispõe de apenas um espaço para lazer e convivência. Situada numa importante avenida da cidade de Goiânia, está protegida por árvores que impedem seu reconhecimento ou identificação.

 

 

Conclusões

Estamos iniciando uma pesquisa que como cito anteriormente é bastante ampla. Na medida que a entrada no campo da pesquisa acontece, vão surgindo novas questões, contradições e afirmações que ampliam o campo das visualidades que constroem a pesquisa.

São múltiplas as tensões e os desafios que envolvem a pesquisadora. Compreender a escola em seus diferentes movimentos e observar suas redes de significação através de seus espaços são dois dos desafios que o estudo deve enfrentar. Entendemos que é um longo processo de muitas buscas, expectativas e, talvez, de algumas frustrações que também serão foco da investigação.

Dessa forma a pesquisa inicia-se tentando buscar compreensões destes espaços sócio-culturais tensionados por cotidianos ricos, escorregadios e invisíveis, tentando manter uma percepção sensível e crítica da realidade que está sendo pesquisada.

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

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