MARCAS DO PORTUGUÊS HISTÓRICO EM PILAR DE GOIÁS

LEITE, M.G.S.D.

Faculdade de Letras/ UFG

mariagracas.simão@bol.com.br

 

PALAVRAS – CHAVE: palavra , sílaba, ressilabação, haplologia

INTRODUÇÃO

Essa será uma pesquisa que desenvolveremos sobre a fala das pessoas com idade acima de 70 anos de idade, sem escolaridade e que tenham nascido na cidade de Pilar de Goiás. Pesquisa esta que está inserida em um Projeto maior intitulado "A lingüística e a história da colonização de Goiás." Como toda língua oral está sujeita a alterações determinadas por diversos fatores: épocas, delimitações geográficas, nível cultural dos falantes, propomos identificar algumas delas e fazer um estudo comparativo com a oralidade mantida pelos mais jovens.

METODOLOGIA

Nenhuma língua se conserva idêntica a si mesma com o decorrer do tempo. Cada indivíduo se interessa naturalmente por fazer-se compreender sem maiores preocupações (Borba,1973). Trataremos, então nessa pesquisa das marcas do português arcaico (antigo) no período que compreende os séculos XVI e XVIII, tentando situar os dados obtidos no português histórico conhecendo – o diretamente pela fala gravada de alguns falantes pilarenses. Os dados sincrônicos serão obtidos através de entrevistas espontâneas, gravadas em fita k-7 com um número representativo de moradores da área urbana e rural, para isso propomos gravar a fala de 16 pessoas.

O incentivo inicial aconteceu por motivação de nossa orientadora, Maria Suelí de Aguiar, autora do Projeto intitulado " A lingüística e a história da colonização de Goiás ", cujo objetivo é resgatar e analisar as marcas do português falado nos séculos XVI e XVIII.

Os primeiros contatos com os colaboradores e autoridades da cidade foram feitos juntamente com a ajuda da nossa orientadora, os outros eu os organizei, sempre visitando o local em média a cada três ou quatro meses. Tivemos uma conversa informal com cada um dos informantes para depois lhes pedir permissão para gravar a fala deles e fotografá-los. Conseqüentemente, eles concordaram e aceitaram contribuir na realização do nosso trabalho. Para cada um deles preenchemos uma ficha com dados sobre idade, escolaridade, local de nascimento, estado civil e profissão. No decorrer das gravações solicitamos que eles falassem sobre a história da cidade, desde a sua fundação e, alguns deles sobre o seu dia-a- dia no relacionamento familiar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa será relevante para o meio acadêmico porque apontará traços das formas hoje consideradas não-padrão, mas que sobrevivem na oralidade dos moradores mais idosos da região em estudo.

Numa análise das vogais em língua portuguesa, baseada na pesquisa de Câmara Jr.(1953), constatamos que ao contrário de outras línguas do mundo, o português apresenta uma distinção nítida entre vogais e consoantes no seu sistema de fonemas. Uma característica fonológica das vogais, segundo Ilari (2002) e outros é que elas podem ser pronunciadas com duração longa ou breve. Ao observar o processo de transição do latim clássico para o latim vulgar, vimos que houve redução das mesmas em sete vogais tônicas / i,e,ε,a,o,,u/, segundo Tarallo (1990: 95). Quanto às átonas, no dialeto de Goiás temos as pretônicas / i,e, a o ,u/.

Além desses fenômenos descritos sobre as vogais, temos os processos citados por Bisol (1996), os quais tratam da ressilabação vocálica destacando os casos de elisão, ditongação e degeminação, no nosso estudo trataremos dos constituintes prosódicos que envolvem a junção das palavras tal como os processos apresentados por Bisol. Observamos o que ocorre na seqüência de duas palavras como dentro e dessa quando se unem formando uma única palavra fonológica (w ) dendessa. O apagamento da silaba fraca (fr) tro é um caso de síncope, a qual é previsível porque o falante tem consciência das regras fonotáticas da língua, quando reduz sílabas,apaga segmentos ou insere outros.

A tendência é a silaba mais forte atrair a mais fraca, apagar uma outra e, no caso acima, a silaba den foi enfraquecida e superpôs a silaba tro para juntar-se à palavra dessa, formando /dendessa/. É um caso que estaremos analisando-o segundo o fenômeno da haplologia, pois há perda de uma sílaba e de seus segmentos, na seqüência de duas sílabas iguais ou semelhantes.

Outro exemplo que encontramos nos nossos dados é /denda/ , dentro+da, percebe-se que essas palavras mantêm uma forte relação sintática entre si , que permite uma combinação adequada, na qual os dois elementos de um grupo clítico provocam a reestruturação silábica, convertendo-os numa só palavra fonológica, ocorrendo entre os componentes fonológico e morfológico.

CONCLUSÃO

Interessante observar que o fenômeno linguagem se caracteriza por um conjunto de oposições e de contrastes que se manifestam dentro do sistema da mesma língua. Isso nos permite aproveitar desse momento de fala, para explicar porque a escolha lexical, os processos de ressilabação soam do jeito que são, compreendidos sem referência ao uso na fala sem que o falante utilize um argumento diferente para manipular toda a comunicação. Podemos dizer que são fenômenos da língua que o individuo evidencia e até mesmo desconhece, enquanto composição estrutural, sintática, pois para ele falar dessa maneira é natural. Em se tratando dos casos e processos aqui levantados, comprovaremos seu caráter conservador e anticlássico.

Esperamos assim, contribuir mesmo de forma sucinta nas particularidades do processo de ressilabação e estudo dos itens lexicais, pois segundo Tarallo (1990),as descrições que as gramáticas históricas nos dão, são estáticas e não retratam o dinamismo que inevitavelmente, marcam o sistema em períodos anteriores.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BISOL, L. Introdução a estudos de fonologia do Português Brasileiro. Porto Alegre: Edipurcs, 1996.

BORBA, F. da S. Introdução aos estudos lingüísticos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973.

CÂMARA Jr. J.M. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953.

DUBOIS, J. Dicionário de Lingüística. São Paulo: Cultrix, 1997.

ILARI, R. Lingüística Românica. 3 ed. São Paulo: Ática, 1999.

TARALLO, F. Tempos Lingüísticos- itinerário histórico da língua portuguesa. São Paulo: Ática, 1990.