ESTUDO LINGÜÍSTCO E HISTÓRICO EM RIO VERDE

CABRAL XIMENES, Luzia de Fatima *

Faculdade de Letras

E-mail (autora): lfatima@cefetrv.edu.br

E-mail (orientadora): aguiar@letras.ufg.br

PALAVRAS-CHAVE: síncope; proparoxítonas; diacronia; fonologia.

INTRODUÇÃO

Propomos, neste artigo, descrever e analisar lingüisticamente o fenômeno da síncope da vogal postônica não-final em proparoxítonas, a partir dos dados referentes à pesquisa em desenvolvimento em Rio Verde - GO. Para tanto, partimos da hipótese de que tal fenômeno nos remete a fases anteriores da nossa língua.

Este trabalho está vinculado ao Projeto "A lingüística e a história da colonização de Goiás", o qual, por sua vez, é parte de um outro maior: "Projeto Filologia Bandeirante". O estudo compõe também uma pesquisa em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Goiás.

Os trabalhos voltados para variação e mudança lingüísticas no estado de Goiás ainda são escassos, poucas são as localidades contempladas. Destacamos aqui os trabalhos de Calaça (1999) em Anápolis, Silva (1992) em Abadia de Goiás, Mendonça (1991) em Santa Cruz de Goiás, Paula (2000) e Fonseca (2000) em Catalão e Pádua (2001) em Niquelândia. Contamos ainda com outros trabalhos em desenvolvimento referentes aos municípios de Goiás, Porangatu, Rio Verde, Caiapônia, Corumbá, Porto Leocárdio e Pilar de Goiás. Contudo, a respeito do tema em estudo neste artigo, não há nenhum trabalho no estado, que seja do nosso conhecimento.

Os dados diacrônicos desse trabalho foram coletados em livros sobre a constituição e evolução do latim, como também das línguas românicas, com ênfase especial na língua portuguesa. Para a descrição e análise do fenômeno lingüístico em estudo, fundamentamo-nos em Amaral (In: Bisol; Brescancini, 2002), Quednau (In: Bisol; Brescancini, 2002), Head (1986) e Selkirk (1982).

MATERIAL E MÉTODO

O corpus dessa pesquisa representa os falares de pessoas idosas, acima de 70 anos de idade, com pouca ou nenhuma escolaridade e de origem rural do município de Rio Verde.

O método utilizado nesse estudo foi a entrevista, realizada através de conversa espontânea, no período de maio de 2003 a setembro de 2004. O tema básico da conversa foi a história do lugar e experiências pessoais e familiares do informante, como por exemplo, o tipo de trabalho que já realizou e a vinda de seus antecessores para a região. A entrevista foi gravada em fita cassete e, posteriormente, transcrita fonograficamente.

Além da gravação das entrevistas, também foram tiradas fotografias do local da pesquisa e dos informantes, a fim de se compor um álbum que constituirá o trabalho final de Mestrado da entrevistadora. Foram feitas ainda, gravações em câmera de vídeo, as quais comporão uma fita, posteriormente editada, que também fará parte do trabalho em questão.

Este trabalho segue as orientações teórico-metodológias da Lingüística Histórica, uma vez que se baseia na história sociocultural da região e busca confrontar o fenômeno lingüístico em estudo com registros observados em fases anteriores da língua. Porém, vale ressaltar que fundamenta-se também em bases geolingüísticas, uma vez que delimita um determinado território para estudo. E ainda, segue princípios sociolingüísticos, pois considera elementos sociais na análise, ou seja, as variáveis idade, escolaridade, origem, dentre outras.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Assumimos que a síncope é a supressão de um ou mais segmentos em sílaba(s) átona(s) de uma palavra. Segundo Amaral (In: Bisol; Brescancini, 2002), quando ela ocorre, o grupo consonantal resultante deve constituir um ataque bem-formado (a.bó.bo.ra > a.bo.bra, re.lâm.pa.go > re.lam.po) ou uma rima bem formada (pé.ro.la > per.la).

Apresentamos, na seqüência, a análise de alguns dados selecionados na pesquisa realizada em Rio Verde, os quais foram divididos em três grupos distintos e distribuídos em colunas. Na primeira, aparece a forma estabelecida pela língua padrão, na segunda, demonstra os segmentos sincopados e na terceira, as realizações empregadas pelos informantes, ou seja, a forma paroxítona.

    1. contexto fonológico seguinte (sílaba postônica final), constituído por líquida ou nasal. Nesse caso, obtivemos dois resultados distintos:

a.bó.bo.ra > a.bo.bØ.ra > a.bo.bra

ár.vo.re > ar.vØ.Øe > ar.ve

    1. o ataque da postônica não-final é uma líquida ou nasal. Nesse caso, houve apagamento da rima postônica não-final, ficando o ataque flutuante, que passou a integrar a sílaba anterior, formando uma rima ramificada, a qual constitui uma sílaba pesada.
    2. cór.re.go > cor. rØ.go > cor.go

    3. sílaba postônica não-final, cujo ataque é uma labial e a rima é a vogal /o/.
    4. Nesse caso, a presença da labilidade no contexto fonológico favoreceu a síncope.

      é.po.ca > e.pØ.ca > ep.ca

    5. a rima da postônica não-final é /i/ e o ataque é uma oclusiva . Observamos que nesse caso há uma resistência maior à síncope, tendo em vista que a consoante flutuante, juntando-se à sílaba seguinte, não constitui um ataque permitido na língua portuguesa, como também, caso integre à sílaba anterior, não constituiria uma rima permitida.

mé.di.co

Conforme verificamos na análise dos dados, a síncope em proparoxítonas é previsível e suas realizações permitem sistematização.

CONCLUSÕES

Sintetizando o exposto nessa análise, podemos dizer, em primeiro lugar, que a síncope é um processo lingüístico que nos remete a fases anteriores da língua portuguesa.

Dentre os fatores lingüísticos analisados, o ambiente que mostrou mais significativo para a ocorrência da síncope foi o contexto fonológico constituído por líquida, conforme apresentamos em a), na análise lingüística. Dessa forma, as proparoxítonas mais propícias ao apagamento da vogal postônica não final foram as que apresentaram /r/ ou /l/ para a ressilabação, emergindo um grupo consonantal licenciado pelo sistema.

Outra confirmação importante foi a de que a síncope é favorecida quando se propicia uma sílaba bem-formada, constituída de acordo com os padrões da língua.

Com este estudo, comprovamos que o fenômeno da síncope se mantém vivo na fala de pessoas idosas, menos escolarizadas e de origem rural, do município de Rio Verde, assim como em outras localidades brasileiras. Propomos, porém, que outras pesquisas sejam realizadas nessa mesma comunidade, abrangendo variáveis extralingüísticas distintas, a fim de constatar tal fenômeno.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Marisa Porto do. A síncope em proparoxítonas: uma regra variável. In: BISOL, Leda; BRESCANCINI, Cláudia. Fonologia e variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 99- 126.

BISOL, Leda. O troqueu silábico no sistema fonológico. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada. SCIELO Brasil. São Paulo, v. 16, n. 2, 2000.

HEAD, Brian F. O destino das proparoxítonas na linguagem popular. In: IV Anais do Encontro de Variação e Bilingüismo no Rio Grande do Sul.. Porto Alegre: UFRGS, 1986.

QUEDNAU, Laura Rosane. A síncope e seus efeitos em latim e em português arcaico. In: BISOL, Leda; BRESCANCINI, Cláudia. Fonologia e variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 79-97.

SELKIRK, Elisabeth O. The syllable. HULST, Van Der, SMITH. The structure, of phonological representations (part. II). Foris, Dordrecht, p. 329-350, 1982.

 

*Este projeto não conta com financiamento.