1. TÍTULO: ENTRE HISTÓRIA E MEMÓRIA: Os manuais escolares e os projetos de formação nacional (1900-1930)

2.- AUTORES: Karina Ribeiro Caldas

Orientador: Dr. Noé Freire Sandes

3.- UNIDADE ACADÊMICA: Programa de Pós-Graduação em História - Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia

4.- E-mail: karinakaua@yahoo.com.br

noesandes@yahoo.com.br

5.- PALAVRAS-CHAVES: Manuais escolares, História e Memória

I- INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa é um estudo sobre as relações entre História e Memória tecidas pela narrativa dos livros escolares de História do Brasil no período de 1900 a 1930.Trata-se de uma análise que privilegia dois temas principais: a Independência do Brasil e a Proclamação da República. Nossa perspectiva gravita em torno das representações produzidas por este tipo de literatura, e sua relação na compreensão da nação como artefato cultural. Desta forma não se pretende discutir a suposta dominação ideológica exercida pelas elites políticas, nem tampouco denunciar os heróis como falseadores da História.

Neste trabalho, em específico, apresentaremos os resultados parciais da análise do manual escolar História do Brasil, publicado em 1900 por João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes. Trata-se de uma obra que tem sido considerado como referência para os demais livros escolares até 1930 e da qual se tem notícias de seu uso até meados da década de 60.

  1. MATERIAL E MÉTODOS:

A principal fonte utilizada nesta pesquisa consiste em livros escolares de História do Brasil do período considerado, artigos publicados na Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro a respeito dos autores de didáticos, os quais na maioria pertenciam a este Instituto. Utilizamos também o livro publicado por Guy de Hollanda Um quarto de século de programas e compêndios de história para o ensino secundário brasileiro 1931-1956. Atualmente adquirimos 9 Mil dias com João Ribeiro, uma obra publicada por Joaquim Ribeiro na qual pode-se encontrar detalhes da vida de João Ribeiro, um dos autores de livros escolares mais lidos pela comunidade escolar brasileira cuja influência extrapolou o meio escolar tornando-se uma das fontes de estudos para intelectuais como Gilberto Freyre e Euclides da Cunha.

A pesquisa iniciou-se com a localização dos livros escolares, seguidos por um levantamento de teses, dissertações e livros que se dedicavam tanto à análise de livros escolares como a reflexão sobre o processo de construção da nação brasileira. Para a leitura dos manuais criou-se uma tabela interpretativa no qual considerou-se relevantes os seguintes aspectos: Enredo sobre o processo de formação nacional, estrutura dos capítulos e dos exercícios apresentados, a concepção acadêmica e escolar da História como disciplina, a utilização do recurso iconográfico e o lugar de escrita do autor. Por este último aspecto compreendemos tanto a contextualização histórico-social no qual o escritor e obra se inscrevem, bem como as problemáticas que envolvem na produção do conhecimento escolar. O uso de obras de referência como o Dicionário Literário Brasileiro tem sido fundamental na realização deste item da pesquisa.

III- RESULTADOS E DISCUSSÕES

DA FIDELIDADE À SAUDADE: João Ribeiro e a História do Brasil

João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes nasceu na cidade de Laranjeiras, Província de Sergipe, em 24 de junho de 1860. Vinte anos depois se mudou para o Rio de Janeiro com o objetivo de concluir seus estudos. Ali se diplomou em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade do Rio de Janeiro. A maior parte de sua vida, passou na capital do Império exercendo funções, como a de jornalista, filólogo, folclorista, poeta e historiador. Escreveu intensamente e publicou nas diversas áreas do conhecimento citadas. Seus livros alcançaram grandes sucessos editorias e circularam por o Brasil. Participou como membro efetivo da Academia Brasileira de Letras e do Instituto Geográfico Brasileiro. Foi comissionado pelo governo brasileiro para estudar o sistema educacional germânico e desta experiência européia resultou a influência determinante na escrita de História do Brasil. Este livro foi publicado em 1900 e seguiu a orientação curricular do Colégio Pedro II, que até a década de 30 fora responsável pelos programas escolares brasileiros além de atuar como centro de difusão do conhecimento, a nível escolar. Nesta instituição o autor trabalhava desde 1887.

João Ribeiro chegou ao Rio de Janeiro em um momento de grande agitação política.. Por esses idos a imprensa brasileira se configurava como principal setor de produção cultural. Homens como Quintino Bocaiúva, José do Patrocínio e Ferreira de Menezes, esboçavam suas posições abolicionistas e republicanas, através de jornais como O Globo, o Gazeta da Tarde e o País. Nestes (e outros) trabalhou João Ribeiro como colaborador e redator, publicando diversos artigos. Esta foi uma fase de envolvimento e mesmo militância que logo após a proclamação da República reverteu-se em desilusão e desencantamento.

A instauração de um novo regime requeria a criação e o ensino de História cuja temporalidade seria marcada pelas noções de progresso e desenvolvimento, demonstrando a existência contínua de focos do republicanismo. Nesta leitura era de se esperar uma negação ou mesmo desprezo por qualquer representação monárquica. Conquanto os primeiros anos da República tenham sido assinalados por um veto às referências do regime anterior, os anos antecedentes à comemoração do Centenário da Independência apontavam um movimento contrário. Olhava-se de forma positiva para o momento de criação nacional. Diante dos conflitos que a República atravessava nas décadas de 10 e 20 e na própria ausência de uma cultura republicana consolidada articulou-se, no campo historiográfico, uma fusão das representações imperiais e republicanas cuja característica principal fora a glorificação do império.

IV- CONCLUSÕES

1. João Ribeiro é herdeiro muito próximo de uma geração de intelectuais que se considerava tanto agentes transformadores da sociedade - definidos por Sevcenko, como mosqueteiros intelectuais – como entendiam que a sua função era primordial para o desencadeamento e realização da Regeneração Nacional. Por esta razão defendiam que a sociedade brasileira deveria atualizar-se tendo como referência o modo de vida europeu. O processo de modernização levaria a integração do Brasil na unidade internacional e por fim, à elevação do nível cultural e material da população. Estas questões estavam sintetizadas em três principais temas-alvos das propostas destes intelectuais: a abolição, a república e a democracia. Participaram desta geração: Tobias Barreto, Silvo Romero, Araripe Júnior (este escreveu o prefácio de uma das edições de História do Brasil), Capistrano de Abreu, Graça Aranha, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e outros

2. A admiração e saudade do imperador D. Pedro II que caracterizam a escrita João Ribeiro justifica-se pelas representações de unitarismo que o Império agregava e que contrapunha-se as propostas federalistas da República.

3. João Ribeiro constrói uma narrativa sobre a Independência do Brasil conferindo centralidade a outros personagens como Gonçalves Ledo, José Sampaio e outros. Esta estratégia tinha por objetivo assinalar outras referências que agiriam como republicanas em evento histórico cuja historiografia geralmente atribuía maior relevância a D. Pedro I.

V- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LEÃO, Múcio.O Pensamento de João Ribeiro. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Vol.248, Julho-setembro, Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1961

RIBEIRO, João. Historia do Brasil: Curso Superior Adoptado no Gymnasio Nacional, 4ª ed. Revista e Melhorada, Paris: Typ. Aillaud, Alves &Cia, 1912

HANSEN, Patrícia Santos. Feições e Fisionomia: A História do Brasil de João Ribeiro, Rio de Janeiro: Access, 2000

HOLLANDA, Guy de. Um quarto de século de programa e compêndios de história para o ensino secundário brasileiro, 1931-1956. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1957

GASPARELLO, Arlette Medeiros. Construtores de Identidades: Os compêndios de história do Brasil do Colégio Pedro II (1838-1920). 2002, 301f. Tese de Doutorado – Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002

LESSA,Renato. A Invenção Republica: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República Brasileira. 2ªed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999

MELO, Ciro Flávio de Castro Bandeira. Senhores da História: a construção do Brasil em dois manuais didáticos de História na segunda metade do século XIX, 1997,295f. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo,1997.

SANDES, Noé Freire, A Invenção da Nação: Entre a Monarquia e a República. Goiânia: Cegraf, 2000.

V-FONTE DE FINANCIAMENTO: CAPES