Título: "Memória e história: algumas reflexões"
Nome do autor: SILVA, K. B. A.
Orientador: Noé Freire Sandes
Unidade acadêmica: FCHF
E-mail do aluno:
kbabreu@hotmail.comE-mail do orientador:
noesandes@yahoo.com.brPalavras-chave: história, memória, transdisciplinaridade
Introdução:
Apesar da relevância e da atualidade da discussão sobre memória dentro da historiografia, parece haver uma fragilidade ou um descaso teórico instigantes. Ao mesmo tempo que "perseguimos" a memória, parecemos sentir "vergonha" dela, e essa vergonha parece ilustrar-se pela negação de problematizá-la, refletir sobre ela em sua especificidade, ampliá-la em sua virtual caixa de ressonância. E essa ausência de reflexão parece servir de contraponto à multiplicação mesma das práticas e usos indiscriminados da memória.
Objetivos:
Considerar a memória no(s) campo(s) em que se move (atentando para o significado do esquecimento contido em todo ato de memória) talvez possibilite resgatar seu vínculo com a percepção situada no tempo presente e com a ação voltada para o futuro, criando sentido para a experiência humana, trazendo à tona sua dimensão afetiva e descontínua, criativa, revestida da carga comumente atribuída às utopias e mitos.
Tomar a memória dessa forma ajuda-nos também a reaprender, reapreender, compreender o diálogo sempre instigante entre memória e história e o suporte que uma dá à outra no trabalho sempre renovado de constituição de sentido para a vida prática e para nossa disciplina.
Material e método (metodologia):
O trabalho propõe a transdisciplinaridade como meio de repensar as relações tecidas entre memória e história e ao mesmo tempo considerá-la per se, buscando estabelecer com outros campos do saber e da sensibilidade humana que a tematizaram_especialmente com a literatura (na obra de Proust) e com a filosofia (em autores como Bergson, Bachelard e Nietzsche)_ um diálogo que possa informar a história sobre os procedimentos próprios da memória (nem sempre redutíveis aos métodos historiográficos).
Resultados e discussão:
A escolha de "Memórias do Cárcere" justifica-se não só porque o depoimento de Graciliano Ramos pode ser visto como documento capaz de revelar uma época, na perspectiva dos que atuaram nela, mas especialmente porque há preocupações relativas à memória em sua obra. A dimensão da denúncia das arbitrariedades do "fascismo tupinambá" já conferiria ao livro uma importância singular: deveria desempenhar um papel relevante junto à opinião pública na luta contra ele. Mas, na justificativa inicial, o leitor percebe que, embora sem negar essa dimensão, discussões sobre a natureza e significado da memória, sobre as técnicas de narrar, sobre a verossimilhança, sobre a objetividade, sobre a importância do dado empírico e sua reordenação pelo escritor prenunciam uma ampliação da perspectiva inicial. Ademais, parece-nos que na obra de Graciliano as diversas facetas da memória expostas pelos autores citados estão todas presentes, em maior ou menor grau. As "Memórias" de Graciliano são concomitantemente voluntárias e involuntárias, racionais e afetivas, coletivas e individuais... Elas aparecem imbricadas, mas harmonizadas pela escrita, o que pode trazer luz à relação da memória com a história e a literatura.
Conclusões:
Interessa-nos estudar as várias visões e concepções de memória, justamente para abarcar a complexidade do problema _ dos limites, entrecruzamentos, aproximações, oposições _ e da forma como se " resolvem" na obra literária. Não nos parece haver contradições. Nela, há liberdade para conjugar diversos modos de lembrar, porque a escrita pode resolver possíveis incongruências através da referência a elas. O autor pode referir-se dentro do texto, sem prejuízo para a obra, aos próprios procedimentos narrativos, de organização das memórias. Aqui a memória, qualquer que seja, desvenda-se na e pela escrita.
Referências bibliográficas:
Bastos, Hermenegildo. Memórias do Cárcere - literatura e testemunho. Brasília, UNB, 1998.
Gondar, Jô. "Lembrar e esquecer: desejo de memória". IN: COSTA, Icléia e GONDAR, Jô. Memória e espaço. Rio de Janeiro, 7 Letras, 2000.
RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere. Rio de Janeiro, Record, 1989.
SEIXAS, Jacy Alves de. "Comemorar entre memória e esquecimento: reflexões sobre a memória histórica". IN: História – questões e debates, ano 17, n.32, janeiro/junho 2000.
---------------------------------"Os tempos da memória: (des) continuidade e projeção.Uma reflexão (in) atual para a história?". IN: Projeto História, n.24, junho/2002.
---------------------------------"Percursos de memórias em terras de história: Problemáticas atuais". IN: BRESCIANI, Maria Stella e NAXARA, Márcia. Memória e (res)sentimento: indagações sobre uma questão sensível.Campinas, UNICAMP.
Fonte de financiamento:
Bolsa da CAPES.