MARKETING POLÍTICO: UMA RELAÇÃO DE INSERÇÃO NO ESPAÇO PÚBLICO

JASENOVSKI, G. O; PEREIRA, P. P. G.

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

jasenovskion@zipmail.com.br pedropaulopereira@hotmail.com

Palavras-Chave: marketing; espaço público; política.

INTRODUÇÃO

O modelo democrático como forma de governo trouxe consigo a complexidade de momentos importantes para a vida em sociedade. As eleições se enquadram como um evento ímpar de nossa política. Essa instituição apresenta a oportunidade e o dever, por parte dos cidadãos, de escolher a quem de direito será delegada a tarefa de representação pública, referentes aos poderes executivo e legislativo do Estado Contemporâneo. As eleições nos grandes centros urbanos possuem como característica projetar campanhas eleitorais grandiosas que são calcadas na visibilidade da mídia eletrônica e amparadas por um modo profissional de se fazer campanha, denominado de marketing político.

Esse modo profissional tem suscitado um grande interesse da mídia eletrônica, chegando até, em alguns casos, de marketólogos serem mais assediados do que alguns candidatos menos expressivos. Não se faz mais política eleitoral sem a presença massiva do marketing político executado de forma profissional. As campanhas eleitorais brasileiras se apresentam como um evento emblemático para quem participa e assiste, além de atividade rendosa para quem nelas trabalha.

MATERIAL E MÉTODO (METODOLOGIA)

Este trabalho busca tentar compreender o próprio universo do marketing político, incluindo a atuação de seus profissionais no processo eleitoral. Especificamente, ele tenta esclarecer a dimensão que a inserção do marketing está exercendo no espaço público. Ou seja, o interesse depositado nesta pesquisa passa pelo desejo de conhecer as expectativas que essa nova forma de fazer política eleitoral está proporcionando na relação com os eleitores.

Para isso trabalhamos com a perspectiva de analisar o discurso político do processo eleitoral, isto é, o seu desenvolvimento, para, assim, compreender o que a inserção do marketing político está proporcionando no espaço público. Os métodos de abordagem serão tratados com a análise de discurso (Foucault, 1998) dos manuais de marketing político confeccionado pelos próprios profissionais da área.Também será efetuada uma pesquisa de campo nos moldes da observação participante que contemplará o contato do eleitor com a propaganda eleitoral gratuita. Isso se dará na campanha eleitoral da cidade de Goiânia no ano de 2004, tendo como foco os comerciais eleitorais propostos pelos candidatos ao cargo executivo. Desse modo, por meio da observação participante, assistiremos aos comerciais eleitorais veiculados no horário eleitoral gratuito em contato com o eleitor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o processo de redemocratização da sociedade brasileira, a política eleitoral se instaura, no tempo das escolhas, com a participação de indivíduos que expressam suas preferências pelo voto depositado na urna. É necessário ficarmos atentos à persuasão que o marketing político pode operar nos indivíduos, pois o direito da escolha é de caráter democrático, mas a imposição da escolha é algo distante dos princípios adotados pela democracia.

A idéia de fabricação ou construção presente nas campanhas demonstra o fato de que a política acontece em um campo já instituído de significações sociais e culturais. Nesse contexto, o marketing político projeta em sua campanha eleitoral os determinantes simbólicos que permeiam uma sociedade, na qual os símbolos utilizados em comerciais eleitorais serviriam de roteiro para analisar as campanhas. Os conflitos simbólicos presentes nas campanhas aparecem na tentativa de apropriação de patrimônios coletivos, ou seja, as candidaturas projetadas pelo marketing político têm a tarefa de transformar circunstâncias particulares em expressões emblemáticas que correspondam aos anseios da população. Dessa forma, é perceptível em tempos de eleição a inserção que é estabelecida no espaço público pelas propagandas que são lançadas, como uma espécie de bombardeio aos eleitores pertencentes a esse mesmo espaço.

A história do espaço público é a história da formação de opiniões. Fisicamente, a exemplo da civilização grega, era na praça que os cidadãos-livres tinham a oportunidade de debater os assuntos de interesse comum. O espaço público é a arena onde o homem tem a capacidade de agir e de se comunicar, compartilhando o ato de falar e de ser ouvido. É a esfera onde os homens possuem a oportunidade da liberdade de ação e expressão para estabelecerem debates a respeito de sua própria existência humana. Nele se expressa a pluralidade do agir humano.

O espaço público, segundo Hannah Arendt (2001), é composto pela ação humana na formação desse espaço. Ao falar do ser humano, Hannah Arendt (2001), aponta para três experiências básicas. A primeira é a do animal laborans, corresponderiam às necessidades biológicas, às necessidades físicas que todos nós compartilhamos. A segunda é a do homo faber, que cria coisas extraídas da natureza, convertendo o mundo no espaço de objetos partilhados pelos homens. A terceira, a da vita activa, se estabelece como sendo a instauração da ação humana com relação ao campo de atuação política.

Segundo Hannah Arendt,

"a ação, única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que homens, e não o Homem, vivem na terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição humana tem alguma relação com a política; mas esta pluralidade é especificamente a condição – não apenas a conditio sine qua non, mas a conditio per quam – de toda vida política". (Hannah Arendt, 2001 , pp.15).

É no espaço público da fala e da ação que os indivíduos estabelecem um equilíbrio entre as atuações humanas para se manter vivo o ideal de liberdade. Ou seja, desconfigurar o espaço público com inverdades, propagandas falsas e inexistentes, ocasiona um risco para o bom convívio democrático que expressa o convívio político da ação e da comunicação que pretendem conservar o bem coletivo. Pois o campo da política representa o embate de idéias no plural que surgem no espaço da palavra e da ação, do mundo público, cuja existência permite o aparecimento da liberdade. Assegurar a liberdade pública é sinônimo de participação democrática.

No auge do processo eleitoral a comunicabilidade entre candidatos e eleitores se condensa no espaço público. É nesse espaço que são tratadas a discussão acerca do jogo eleitoral. É um espaço em que emerge o sentido de interesse público, ou seja, de comum a todos, oposto da esfera privada. Nesse contexto as eleições se apresentam como um mecanismo de opções de representação sugerido ao espaço público. Há uma relação umbilical entre a eleição e o espaço público, pois este, é o lugar onde as diferenças podem ser expressas e apresentadas para uma negociação possível, é o espaço no qual valores circulam, argumentos se articulam e opiniões se formam. Em outras palavras, espaço público é o lugar em que os cidadãos podem conversar e, por meio do diálogo, dos diferentes pontos de vista chegar a um consenso para a organização da vida social. Resta saber qual o tipo de inserção que o marketing político, com suas técnicas e estratégias de campanha, está ocasionando no espaço público de atuação política.

CONCLUSÕES

Por estarmos no início da pesquisa não são dadas a nós, as condições necessárias para chegarmos a uma conclusão. Nem é esse o nosso objetivo, já que acreditamos em uma sociologia que não busca obter verdades absolutas e sim desvelar coisas ocultas. Mas é fato que a nossa problematização já indica caminhos que revelam o relacionamento entre as técnicas do marketing político e o espaço público.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.

ARENDT, Hannah. Crises da República. São Paulo: Perspectiva S.A, 1973.

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa: Difel, 1989.

DALLARI, Dalmo. O Que é Participação Política. São Paulo: Brasiliense, 1984.

FIGUEIREDO, Rubens (org.). Marketing Político e Persuasão Eleitoral. São Paulo: Adenauer, 2000.

FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. São Paulo: Loyola, 1998.