Centro de Línguas, Estágio e Ensino e Aprendizagem de Inglês na Licenciatura em Letras. MESQUITA, D.N.C.; DALACORTE, M.C.F. Programa de Pós-graduação em Letras e Lingüística - Universidade Federal de Goiás. deisnanc@brturbo.com mcfd@letras.ufg.br. Palavras-chave: Extensão, pesquisa, ensino e aprendizagem de inglês.

O tema central desta pesquisa de doutorado é o papel do campo das didáticas, práticas e estágios na formação docente em língua inglesa, em nível superior. São questões propostas neste estudo: a) Quais são as demandas e as expectativas dos licenciandos em Letras em relação a sua proficiência lingüístico-pedagógica como professores/as de inglês?; b) Quais são os traços que compõem um perfil de campo de estágio da universidade, que julgam atender a essas suas exigências?; e c) Como constituir um campo de estágio em suas dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão, que atenda às reais necessidades desses formandos?

Segundo a Resolução CNE/CP n. 02, de 19 de fevereiro de 2002, em seu artigo primeiro, a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas divididas em 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso, 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso, 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural e 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as dimensões dos componentes comuns.

Essa Resolução parece pôr em evidência a relevância que sempre tiveram as atividades extra departamento para/na formação e, desde então, os Cursos de Licenciatura em Letras vêm tratando de discutir e compor suas matrizes curriculares, aliando-se a parceiros de outros diversos departamentos, institutos e faculdades. Também os centros de línguas de algumas universidades vêm discutindo a questão, pois um projeto de parceria entre esses órgãos apenas pode se efetivar se estiver ancorado em uma proposta de trabalho pedagógico conjunto, com vistas a atender às exigências acadêmico-profissionais de cada um de seus alunos aprovados no exame vestibular, sujeitos reais, não apenas ideais.

A realidade, ininterruptas movimentações de informações resultantes de grandes avanços técnico-científicos, exige que a formação seja também dinâmica, independente e transformadora, e que os órgãos responsáveis por este processo saibam trocar o conforto da certeza que sustenta os conteúdos (teóricos e práticos) das disciplinas específicas, pela instabilidade tão imprevisível quanto inimaginável dos questionamentos reais. Demanda que seja levado em consideração o fato de que o conhecimento científico não é apenas o armazenamento de ocorrências, mas também a reflexão de como a história dialética foi e é obtida, avaliada e atualizada. E, neste momento, está uma das possibilidades de se traçar um movimento das Universidades em direção ao reconhecimento de sua própria identidade, uma retomada de conceitos e princípios que definem sua influência e responsabilidade na desconstrução de conhecimentos baseados em um mundo supostamente objetivo, de estrutura pré-determinada, com relações unívocas entre causa e efeito.

A identificação das demandas e expectativas dos licenciandos em relação a sua competência lingüístico-pedagógica e à responsabilidade dos campos de didáticas, práticas e estágios na promoção dessa formação docente ajuda a delinear o perfil que devem apresentar os campos de estágio da universidade, nessa atual realidade curricular. E, na Universidade pesquisada nesta tese, seu centro de línguas tem presença marcante e responsabilidade mútua nessa formação docente. Por isso, um perfil de campo de estágio integrado à nova matriz curricular pode ser configurado a partir da análise dos dados desta pesquisa.

A metodologia de pesquisa-ação desenvolvida com os grupos de didática e prática de inglês I e II do curso de Letras desta universidade durante o segundo semestre letivo de 2004 possibilitará a análise dos dados coletados em debates e reflexões desenvolvidos em três seminários, cujos objetivos são tratar dos princípios educacionais e das características organizacionais que devem nortear os campos de estágio e práticas, a partir da Resolução. Os encontros gravados em vídeo, a sínteses das discussões literalmente transcritas e o texto final composto de várias vozes deverão responder às questões propostas nesta pesquisa, que têm por sustentação teórica uma argumentação referendada em um conceito de educação formal que leva em conta a pedagogia da construção da subjetividade e da aprendizagem de crenças e valores, e o ensino e a aprendizagem de inglês como uma aquisição autônomo-conjunta, em permanente movimento.

Esta metodologia prevê um trabalho crítico de desfamiliarização, de suspensão de uma certa normalidade, com vistas a um outro senso comum de reconhecimento e de identificação de alguns fragmentos sociais que reinventam a cultura política e afirmam radicalmente a democracia. O paradigma indiciário adotado na coleta dos dados também prevê a escruta cuidadosa e minuciosa do discurso encoberto, das contradições entre o saber fazer e o saber ser, que podem ser identificados nos movimentos traçados por sinais, detritos e refugos muitas vezes negligenciados por uma observação menos atenta. A perspectiva dialógica da práxis enfatiza a reciprocidade e o contrato interlocutório que problematiza a democratização da diferença. Também as teorias de aquisição em uma perspectiva comunicativa interacionista potencializam a criatividade, a singularidade e a autonomia do aluno e oportunizam a adoção de novas e diversificadas formas de crescimento humano-intelectual.

Essas referências contrapõem-se a modelos hierarquizantes do conhecimento e pressupõem um projeto educacional que toma em conta o pensamento crítico-reflexivo da proposta emancipatória de Freire que, tomada como parte do quadro maior da educação e não meramente como uma abordagem, um método ou uma técnica, trata o processo de ensino e aprendizagem das disciplinas como uma relação estabelecida entre educandos (professores e alunos) com vistas não apenas à transmissão de conhecimentos específicos, mas fundamentalmente à construção de subjetividades, crenças e valores que definem o significado de ser humano. Reitera, com Max, que a práxis não é uma entidade superior que está acima dos homens, mas, pelo contrário, é feita por nós que ao fazermos a história somos feitos por e nela. É, pois, no contexto da pedagogia da construção da subjetividade e da aprendizagem de crenças e valores, que o ensino, a pesquisa e a extensão deverão pensar, em um ambiente de integralidade, projetos, ementas, programações acadêmicas, conteúdos e práticas.

Não obstante essa compreensão, também é possível escutar uma queixa generalizada vinda dos Cursos de Letras, alegando o fato de que a Resolução restringe em demasia o tempo dedicado às disciplinas específicas, e de que não é possível formar um docente de língua estrangeira em apenas três ou quatro anos. Entretanto, assumir uma postura de indiferença às reais condições desses licenciandos em termos tanto de suas limitações educacionais formais quanto financeiras é negligenciar o papel a que se deve prestar qualquer Instituição Educacional Superior que postula a Formação de Educadores. Ainda, exigir a permanência desse aluno e dessa aluna por um tempo muito (ou mais) longo nos Cursos com a justificativa de se garantir sua formação básica na Universidade é uma promessa que pode vir a não se cumprir. Também, apontar o número reduzido de horas para as disciplinas específicas e a quantidade mínima de três anos e meio para a formação como sendo responsáveis pela inadequação profissional do professor de línguas estrangeiras é desconsiderar as várias nuanças que implicam esse processo. É negligenciar a capacidade individual, a autonomia e a responsabilidade do estudante em relação ao seu próprio crescimento intelectual. É tomar a Universidade como um ponto terminal de um dado processo educativo. É delegar ao professor e ao curso toda a responsabilidade pelo sucesso na formação. E é, enfim, tratar a educação formal como um processo calculável, premeditado e possível aos mais esforçados ou dedicados.

Entretanto, o que a sociedade parece esperar dessas instituições formais hoje é que desconstruam os conceitos sobre formação baseada em um mundo supostamente objetivo, de estrutura pré-determinada, com relações unívocas entre causa e efeito. Ou seja, que apresentem propostas metodológicas sustentadas e organizadas em atividades de ensino que privilegiem o conhecimento gerado pelo aluno e pelo professor em colaboração com outros professores e outros alunos, em um processo de constante interrogação sobre o real significado de ser educador, em cada contexto concreto de suas realidades.

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