CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS

e a configuração de um novo espaço intrametropolitano de Goiânia

Ademar Azevedo Soares Júnior*

Orientadora: Profª Drª Genilda D´arc Bernardes**

Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia – FCHF

Programa de Mestrado em Sociologia

arquiteturjr@hotmail.com*

genilda@hotmail.com**

Palavras-chaves: Goiânia, Condomínios Horizontais Fechados, Espaço intrametropolitano, reestruturação urbana.

INTRODUÇÃO:

O presente trabalho constitui-se parte da dissertação que está sendo desenvolvida junto ao programa de Mestrado em Sociologia, da Universidade Federal de Goiás (UFG), vinculado à linha de pesquisa processos sociais urbanos. Os dados aqui apresentados encerram reflexões em torno dos impactos gerados pelos Condomínios Horizontais Fechados, no espaço urbano da metrópole goiana.

Temos visto nos últimos anos um crescimento considerável dessa tipologia residencial no Brasil. A cidade de Goiânia aparece com destaque neste processo, figurando, hoje, como a terceira capital do país em número de condomínios fechados e como a segunda cidade em número de lotes ofertados em condomínios horizontais, proporcionalmente ao número de habitantes, apresentando um total de 13 condomínios de grande porte.

Diante desta realidade, o presente estudo se volta para o espaço residencial, representado pelos Condomínios Horizontais Fechados, enquanto elemento que tem alterado significativamente o desenho da metrópole goiana em sua instância física e social. Estabelecemos como hipóteses, primeiro a de que os condomínios fechados interferem na estruturação do desenho urbano, compondo uma nova configuração da paisagem urbana, onde estão "iguais" próximos de "diferentes" (as áreas periféricas, desprovidas de equipamentos de infra-estrutura, passam a ter uma outra conotação, seja ela imobiliária ou de serviço valorizado). Segundo, a de que em função da consolidação dessa nova tipologia residencial, é gestado um novo tipo de vivência social, composta por hábitos e cultura de grupos distintos.

METODOLOGIA:

Com o intuito de dimensionar tal realidade, procuramos, num primeiro momento, reunir uma literatura que pudesse nos auxiliar de forma mais consistente no entendimento do tema estudado. A literatura utilizada buscou abordar três frentes: as discussões atuais sobre o espaço urbano, as questões pertinentes aos espaços dos condomínios fechados e a realidade específica da região metropolitana de Goiânia. Em um segundo momento, foi necessário o mapeamento da área a ser investigada, levantando quantitativamente esta realidade a partir de dados sócio-politícos, econômicos e físico-urbanísticos fornecidos pela Secretaria de Planejamento Municipal, Associação Brasileira de Condomínios Horizontais, Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás, entre outros. Atrelado a este dimensionamento quantitativo, a pesquisa está sendo realizada, valendo-se de alguns instrumentos qualitativos de coleta de dados, como percepção espacial, questionários e entrevistas. Enquanto unidade empírica de análise, a pesquisa tem focado os Condomínios Horizontais Fechados, instalados na região sudeste de Goiânia.

O trabalho tem como suporte teórico básico as idéias desenvolvidas por Gottdiener (1997), em sua teoria da produção social do espaço, as noções de estrutura urbana e reestruturação, contidos nos estudos intra-urbanos, empreendidos por Villaça (2001), além dos conceitos de espaço físico e social, campo, habitus, gosto e estilo de vida, trabalhados por Bourdieu (2001/1994/1989). Acreditamos ser estes importantes balizadores na compreensão de nosso objeto, uma vez que verificamos um processo de desconcentração, ocorrendo no espaço da grande Goiânia, modificando sua estrutura urbana.

RESULTADOS E DISCUSSÕES:

Prestes a completar 71 anos de idade, Goiânia se apresenta hoje com novas feições, resultado dos acontecimentos presenciados principalmente nas duas últimas décadas. Sua vida urbana se mostra mais dinâmica, com novos centros especializados, como complexos empresariais, Shoppings centers, hipermercados e bairros fechados, cuja proliferação trouxe importantes modificações à sua estrutura urbana. Sem um setor industrial de peso, o setor da habitação tem dado o tom da estruturação do espaço urbano desta cidade. Dentro do seu histórico de crescimento, percebe-se como este setor foi determinante na indução do adensamento e de sua expansão.

Nos últimos anos, sua paisagem urbana tem sido profundamente demarcada pela instalação de Condomínios Horizontais Fechados. O crescimento desse fenômeno levanta alguns questionamentos, já que num primeiro momento notam-se impactos consideráveis na redefinição do desenho urbano, político e social da cidade. O condomínio tem se constituído em elemento reestruturador do espaço urbano, criando centros e pólos de atração, processos de valorização imobiliária, expansão urbana, além de trazer novos elementos estéticos construtivos. Mas, quais as particularidades desse tipo de organização do espaço em relação aos outros espaços habitacionais (lotes comuns, bairros abertos, moradias verticais)? Seria realmente algo novo no contexto urbano da cidade? Como é a vida fora e por dentro dos muros? Que tipo de representação a cidade faz da vida intramuros?

Diante desta realidade, o presente estudo busca lidar com o dimensionamento desse fenômeno na grande Goiânia, dando enfoque ao impacto que a consolidação desta tipologia causa na estrutura espacial (desenho urbano) e sócio-política de sua região metropolitana. O dimensionamento dessa realidade, de forma mais sistematizada, exige inseri-la no vasto campo das discussões atuais sobre o urbano, profundamente demarcadas pelas modificações do capitalismo mundial. Para percebermos as particularidades desse fenômeno na grande Goiânia, foi preciso resgatar toda a trajetória de formação do seu espaço urbano, além de resgatar os marcadores históricos do surgimento dos condomínios no Brasil e na metrópole goiana.

CONCLUSÕES:

Em sua região metropolitana, contabilizamos o total de 13 condomínios, com as características próprias desta tipologia: o tripé – casa própria, autoconstrução e loteamento periférico, sendo que destes, onze estão implantados na cidade de Goiânia e dois no município de Aparecida de Goiânia. São eles: Privê Atlântico (1978), Jardins Viena (1995), Jardins Florença (1997), Aldeia do Vale (1997), Residencial Granville (1998), Jardins Madri (2000), Jardins Mônaco (2000), Complexo Alphaville Flamboyant - 3 etapas: Residencial Cruzeiro do Sul, Residencial Goiás e Residencial dos Ipês (2001), Portal do Sol I (2001), Portal do Sol II (2002), Jardins Paris (2003), Jardins Atenas (2003) e Residencial Araguaia (2004).

Verificamos que os condomínios fechados têm imprimido processos de reestruturação da área estudada, dando um novo contorno ao desenho urbano, imprimindo mudanças no espaço da cidade. Falar em Condomínios Horizontais Fechados é tocar em questões, como privatização do espaço público, segregação, novas sociabilidades e novas formas de se experimentar a cidadania, na metrópole goiana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BERNARDES, Genilda D´arc. Goiânia, cidade planejada/cidade vivida: discurso e cultura da modernidade. 1998. Tese (Doutorado em Sociologia) – Departamento de Sociologia, Universidade de Brasília, Brasília, 1998.

BOURDIEU, Pierre et. al. Efeito de lugar. In: BOURDIEU, et. al. A miséria do mundo. Petrópoles, Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

___________. Sociologia. ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu. Sociologia. São Paulo: Ática, 1994.

___________. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand do Brasil, 1989.

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DEL RIO, Vicente. Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. São Paulo: Pini, 1991.

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MACEDO, Jóse Eduardo Ribeiro. Condomínios Horizontais Fechados: desqualificadores do espaço público? O caso de Goiânia. (Goiânia – Go), 2002. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2002.

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