AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA, MORFOMÉTRICA E IMUNOHISTOQUÍMICA DO FÍGADO DO GUARU (Poecilia vivipara) FRENTE A EXTRATOS BRUTOS DE PLANTAS DO CERRADO.

BALESTRA, R. A. M. & SABÓIA-MORAIS, S.M.T.

Universidade Federal De Goiás / Instituto De Ciências Biológicas / Departamento De Morfologia / laboratório de Comportamento Celular

Projeto de dissertação de mestrado a ser realizado junto ao Programa de Pós - Graduação em Biologia do ICB – UFG.

E-mail: balestra.rafael@zipmail.com.br / saboias@terra.com.br

Palavras – chave: Cerrado, peixe, fígado, citotoxidade

INTRODUÇÃO

O Cerrado é o segundo maior bioma presente no território brasileiro, ocupa quase todo o centro-oeste do país e possui aproximadamente 220 espécies de plantas usadas na medicina tradicional. Plantas do Cerrado pertencentes aos gêneros Eugenia, Hyptis, Solanum, Annona, Stryphnodendron, Caryocar e Inga, têm sido largamente utilizadas na medicina popular e são de grande interesse econômico e ecológico. Estas plantas apresentam atividades antidiarréicas, diuréticas, antireumáticas, antifebris, hipotensoras, antiespasmódicas e são utilizadas na terapia antimicrobiana (Costa et al. 2000).

Trabalhos com bioatividade in vivo de algumas plantas do Cerrado têm demonstrado atividade antifúngica, toxicófora, larvicida e moluscicida e alterações morfológicas em brânquias de guaru (Poecilia vivipara) (Silva et al., 2003).

Dentre as plantas de grande uso na medicina popular da região Centro-Oeste, destacam-se Hyptidendron canun e Solanum paniculatum.

O Hyptidendron canun, conhecido como mata pasto, pertencente à família Labiatae. A literatura relata que essa planta tem ação farmacológica como antimalarial, antinflamatória, antihepatóxica e anticancerígena (Ferri & Ferreira, 1992).

O Solanum paniculatum é conhecido popularmente como jurubeba. Como propriedades medicinais é utilizada no tratamento de doenças hepáticas, icterícia, de febres intermitente, como diurético e as folhas são utilizadas como cicatrizantes (Corrêa, 1969).

O guaru (Poecilia vivipara) é um peixe de água doce testado como um potencial modelo bioindicador pela grande capacidade de alterarem sua morfo-fisiologia celular em um processo de rápida adaptação frente a agentes adversos no meio, tais como: salinidade, metais pesados e extratos de plantas do Cerrado (Sabóia-Morais et al., 1996; Araujo et al., 2000; Silva et al., 2003).

O fígado é referido como um dos principais modelos experimentais para determinação de biomarcadores histo-citopatológicos - tem importância primordial na manutenção da homeostase interna dos vertebrados por - entre outros motivos, ter ação primária na biotransformação de xenobióticos orgânicos (Bernet et al., 1999; Au, 2004).

Com a intenção de investigar a ação dos princípios bioativos (extratos) das espécies Hyptidendron canun e Solanum paniculatum no fígado e as possíveis alterações comportamentais do guaru, nossos objetivos serão:

OBJETIVO GERAL: Averiguar ação dos extratos brutos por meio do cruzamento dos parâmetros toxicológicos e comportamentais em guarus expostos a extratos da folha de H. Canun e S. paniculatum.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Diagnosticar atividades dos princípios bioativos das plantas do Cerrado sobre o fígado; avaliar os efeitos dos produtos bioativos de plantas sobre células e tecidos por meio de análises morfométricas; averiguar os níveis toxicológicos por meio de marcadores seletivos (imunohistoquímica) das células hepáticas expostas aos extratos das plantas do Cerrado.

MATERIAL E MÉTODOS

Serão utilizados 85 peixes da espécie Poecilia vivipara de ambos os sexos, adultos, com aproximadamente 5 cm de comprimento total.

Uma parte dos animais será dividida em 07 grupos com 5 peixes. Um será o controle e nos demais os animais serão expostos a extratos brutos etanólicos obtidos de folhas de Hyptidendron canun (mata pasto) e Solanum paniculatum (jurubeba), sendo que cada exposição será determinada nas concentrações de 20, 60 e 100 µl/l. O experimento terá duração de 24 horas sendo, portanto, um tratamento agudo.

Durante o período de experimentação as alterações comportamentais serão descritas. Os animais sobreviventes após o período de exposição serão sacrificados e o fígado será dissecado, fixado em Karnovsky modificado, desidratado em etanol e incluídos em historresina ou em parafina, destes materiais, cortes de 2 a 4 µm, respectivamente, serão submetidos a métodos histológicos de rotina (colorações básicas) e análises para qualificação e quantificação de glicogênio e lipídios (análises citoquímicas): PAS; PAS + Controle com Amilase salivar; PAS + Acetilação reversível; PAS + AB. pH 2,5; azul do Nilo 1%; Sudan Black B. Outros fragmentos teciduais serão fixados em glutaraldeído a 2% e paraformaldeído a 4%, pós-fixados em tetróxido de ósmio a 1%, desidratados em  etanol e acetona e incluídos em resina Spurr. Cortes de 70 nm serão feitos em um ultramicrótomo e analisados ao M .E. T.

Será determinada a dose letal (DL50) através da exposição 50 animais às doses crescentes dos extratos a serem estudados neste trabalho.

Ensaios imunohistoquímicos serão feitos através de marcadores seletivos para as isoformas da P450 3A (CYP3A) com tecidos fixados em formalina e inclusos em parafina.

RESULTADOS ESPERADOS E DISCUSSÃO

Nascimento (2004) investigou a ação do extrato bruto de Hyptidendron canun e Solanum paniculatum no epitélio branquial do guaru e observou alterações no comportamento celular característico de resposta frente a agentes tóxicos. Tal fato, deixa a perspectiva de se observar alterações semelhantes no tecido hepático, a saber: vasodilatação, hipertrofia, aumento de secreção, hiperplasia celular, divisão celular freqüente etc. Além dos aspectos descritos neste traballho há possilidade de se detectar outros efeitos, tais como: indução da proliferação celular, promotor de migração celular e de apoptose.

Pires (2002) analisou as alterações citofisiológicas no fígado e intestino do guaru frente aos extratos das espécies nativas do Cerrado Eugenia dysenterica (Cagaita) e Stryphnodendron adstringens (Barbatimão) e forneceu o alicerce para a realização deste trabalho tendo o fígado como modelo experimental adequado. Também descreveu alterações no comportamento dos animais durante o período da experimentação o que sugere importantes aspectos do desvio comportamental a serem observados, tais como: irritabilidade, resposta ao toque, contorção, midríase, tremores, convulsão, hipnose, defecação etc.

É de interesse também já definir que os princípios bioativos do Cerrado devem ser observados como produtos que favoreçam p. ex: a proteção frente a agentes reconhecidamente tóxicos, ou que interfiram, favorecendo ou dificultando, a proliferação celular, entre outros mecanismos próprios das células e tecidos, sem perder de vista a perspectiva de que tecidos e células, também podem propiciar uma possível identificação de ação tóxica destes extratos.

CONCLUSÃO

A necessidade de obtenção de substâncias químicas que possuam características terapêuticas requer o aproveitamento da flora local, representada por plantas medicinais utilizadas pela medicina tradicional e que possuem uma ação biológica definida. Como se trata de uma área estratégica sob o ponto de vista científico-industrial, justificam-se os esforços com a finalidade de se avaliar a bioatividade e toxicidade de plantas de aplicação medicinal direta ou indiretamente a serem benéficas à população do Cerrado.

A análise das características que a princípio possam ser citotóxicas abre grandes possibilidades para determinar efeitos destes extratos, o que poderá embasar estudos de produtos bioativos com a potencialidade de auxiliar no combate a patologias em vários grupos animais e para o homem, e assim, colaborar com uma alternativa de uso de substâncias naturais que possam atuar no combate a vários males.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, E. J. A. Efeitos de poluentes químicos cumulativos e mutagênicos durante o desenvolvimento ontogênico de Poecilia vivipara (Cyprinodontiformes, Poeciliidae). Acta Scientiarum, 23 (2): 391-399, 2001.

AU, D. W. T. The application of histo-cytopathological biomarkers in marine pollution monitoring: a review. Marine Pollution Bulletin, 48: 817–834, 2004.

BERNET, D.; SCHIMIDT, H.; MEIER, W.; BURKHARDT-HOLM, P.; WAHLI, T. Histology in fish: proposal for a protocol to assess aquatic pollution. Journal of Fish Diseases, 22: 25-34, 1999.

CORRÊA, M. P. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, v. 4, 1969.

COSTA, T. R. et al. Antifungal activity of volatile constituents of Eugenia dysenterica leaf oil. J. Ethonopharm, 72: 111-117, 2000.

FERRI, PH & FERREIRA, HD (1992). Fitoquímica das folhas de Hyptis Benth. Departamento de Química Orgânica. 1-32.

NASCIMENTO, V. Investigação in vivo de modelos celulares e epiteliais submetidos a extratos brutos de plantas do Cerrado goiano. Goiânia: UFG. 2004, 85p. Dissertação (mestrado em Biologia), Instituto de Ciências Biológicas - Universidade Federal de Goiás, 2004.

PIRES, D.R. Estudo citotóxico do fígado e do intestino do guaru (Poecilia vivipara) frente a extratos de plantas do Cerrado de Goiás. Goiânia: UFG, 2002. 120p. Monografia (Conclusão de curso - Biomedicina), Instituto de Ciências Biológicas - Universidade Federal de Goiás, 2002.

SABÓIA-MORAIS, S. M. T.; HERNANDEZ BLAZQUEZ, F. J., MOTA, D. L.; BITTENCOURT, A. M. Mucous cell types in the branquial epithelium of the euryhaline fish Poecilia vivipara. J. Fish Biol., 49: 45-548, 1996.

SILVA, L.D.; NASCIMENTO, V; SANTOS, S.C; MORAIS, J.O.R.; SABÓIA-MORAIS, S.M.T. Análise morfométrica das células do cloro de Poecilia vivipara expostas a frações da folha e da casca do caule de Caryocar brasiliensis. Acta Scientiarum, 25 (1): 195-201, 2003.

 

Fonte financiadora: CNPq