OBSERVAÇÕES SOBRE CÉLULAS DE DEFESA HEMOLINFÁTICAS EM BIOMPHALARIA GLABRATA, MOLUSCO HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO NA ESQUISTOSSOMÍASE
VINAUD, M. C.; ARAÚJO; A. A.; MENDES, J. M.; BEZERRA, J. C. B.
Universidade Federal de Goiás – UFG,
Instituto Patologia Tropical e Saúde Pública - Grupo de Pesquisa em Bioquímica da Relação Parasito-Hospedeiro.
e-mail orientador: clecildo@iptsp.ufg.br /www.iptsp.ufg.br
e-mail do apresentador: mvinaud@yahoo.com.br
Palavras chave: Biomphalaria, células hemolinfáticas, Schistosoma.
Introdução
A esquistossomíase é uma doença endêmica mundialmente causada pelo trematódeo Schistosoma sp, representado principalmente no Brasil pela espécie S. mansoni. O caramujo, hospedeiro intermediário tem papel crucial na presença desta parasitose, pois é um elemento obrigatório ao ciclo. Ou seja, podemos dizer que se num local encontrarmos exemplares do caramujo e somente um paciente liberando ovos viáveis, ali se dará a formação de um novo foco da doença, tal a sua importância (MOYOU-SOMO et al., 2003).
Em vista do grande problema de saúde pública em que se afigura a esquistossomíase é de salutar importância a busca de novas alternativas que conduzam ao seu controle. O uso de extratos de plantas no controle de moluscos vêm de encontro a essa necessidade buscando a bioatividade com eficiência em baixas doses, baixo impacto ambiental e baixo custo de produção. Uma fonte inesgotável de plantas com tal potencial encontra-se no Cerrado, bioma característico da região centro-oeste do Brasil. Muitas dessas plantas são consideradas taníferas, por apresentarem altos teores de taninos em suas estruturas. Essas substâncias contribuem na defesa das plantas contra ataque de herbívoros, além de limitar o crescimento de microorganismos patogênicos. Os taninos possuem a capacidade de complexar com proteínas, polissacarídeos, alcalóides, íons metálicos como: ferro, vanádio, cobre, alumínio, cálcio e outros, além de atividade antioxidante e seqüestradora de radicais livres. Testes in vitro demonstraram que fenóis e polifenóis inibem a peroxidação de lipídios e lipogenases, assim como possuem a habilidade de seqüestrar radicais livres como: hidroxil, superperóxido e peroxil (ALCANFOR et al., 2001).
Com efeito, esta avaliação também contribuirá para o estabelecimento da flora do Cerrado, sua conservação e utilização racional. No presente trabalho testou-se a ação do extrato de uma planta, Stryphnodendron polyphyllum, do Cerrado, sobre as células da hemolinfa do hospedeiro intermediário de S. mansoni, o caramujo Biomphalaria glabrata.
Os hemócitos têm como função principal a defesa do organismo, já que o oxigênio é transportado através de um pigmento dissolvido na hemolinfa, a hemoglobina (ARNDT et al.,1998). As células hemolinfáticas estão diretamente relacionadas à resposta do molusco a alterações do meio ambiente e à infecção por trematódeos, sendo observada uma maior resposta celular tecidual em caramujos resistentes a infecção por trematódeos como S. mansoni do que em caramujos susceptíveis (ATAEV & COUSTEAU, 1999).
Objetivos
Avaliar os efeitos de S. pollyphyllum, de ação comprovadamente moluscicida, sob a concentração e mortalidade das células da hemolinfa do caramujo B. glabrata, hospedeiro intermediário de Schistosoma mansoni.
Material e Métodos
Este trabalho foi realizado no Departamento de Parasitologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás
Os caramujos foram divididos em dois grupos com cinco caramujos medindo 10-15 mm de diâmetro de concha cada. Os caramujos do grupo 1 foram expostos ao extrato da casca de S. polyphyllum a 25 mg/L por 24 horas e comparados com o controle (grupo 2) mantido em água de condicionamento. A hemolinfa foi coletada por micropipeta e estabelecido o volume médio/caramujo; 30m L foram corados com 5m L do corante Tripan Blue-vital, determinando-se as células vivas e mortas na Câmara de Newbauer.
Resultados e Discussão
Os caramujos do grupo 1 estavam retraídos e com reflexos diminuídos após a exposição. O grupo 2 apresentou volume médio de 150m L de hemolinfa/caramujo, enquanto o grupo 1, 70m L/caramujo. O grupo 2 apresentou 2200 células/m L, destas 36,4% estavam vivas e 63,6% mortas. Já no grupo 1, a contagem foi de 6070 células/m L, sendo 24,8% vivas e 75,2% mortas.
Sabe-se que os hemócitos estão diretamente ligados à defesa do organismo quanto a presença de substâncias nocivas e microorganismos invasores. A atividade fagocitária destas células está diretamente relacionada à resposta frente a infecções por trematódeos como o S. mansoni determinando fatores tão importantes quanto susceptibilidade e resistência (BEZERRA et al., 1997).
A resposta fisiológica do caramujo a alterações do meio e a infecções é realizada por hemócitos presentes tanto na hemolinfa circulante quanto nos tecidos. Os hemócitos são considerados as células de defesa do caramujo, apresentando várias características em comum com granulócitos humanos, como a presença de grânulos de fagocitose, a resistência a radiação gama e a capacidade fagocitária relacionada a regulação por adenilato monofosfato cíclico (AMPc) identificando um sistema de defesa não específico diretamente ligado a susceptibilidade e resistência do caramujo a infecções por trematódeos como S. mansoni (BEZERRA et al., 1999, 2003).
Nossos resultados apontam para a exploração do Cerrado como fonte de novos produtos naturais com potencial moluscicida, como já foi apontado por Bezerra (2002), indicando uma alternativa no combate à esquistossomíase.
Conclusões
O extrato se mostrou estimulante ao surgimento das células da hemolinfa e tóxico às mesmas, alterando a taxa de mortalidade das células.
Os resultados indicam o potencial do Cerrado como fontes de novos produtos naturais de ação moluscicida e provável alternativa no combate à esquistossomíase.
Referências bibliográficas: