INFLUÊNCIA DA FITOTERAPIA NA QUALIDADE DE VIDA

Karina Machado Siqueira; Profª Drª Maria Alves Barbosa. Faculdade de Enfermagem – UFG. karinamsiqueira@hotmail.com, malves@ih.com.br

 

INTRODUÇÃO

Discussões envolvendo temas como saúde e qualidade de vida vêm adquirindo dimensões cada vez maiores e despertando o interesse de estudiosos em compreender as diferentes interfaces que envolvem o processo saúde-doença. As preocupações relacionadas ao oferecimento de condições de vida satisfatórias são crescentes dentro das instituições de saúde, as quais deixam de se preocupar apenas com dados quantitativos e sentem a necessidade de otimizar níveis assistencialistas, promovendo o maior bem-estar do usuário.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem estar físico, mental e social. Entretanto, autores como DE JOURS (1986) e SEGRE; FERRAZ (1997), contestam esse conceito, pois o perfeito e completo bem-estar, além de utópico, só pode ser avaliado se considerados aspectos pessoais de cada indivíduo, como crenças e valores incorporados. No entanto, não restam dúvidas de que a busca por melhor qualidade de vida ou por uma satisfação com a vida, visa esse objetivo de bem estar, o qual não precisa ser necessariamente perfeito, o que seria inatingível, mas no mínimo satisfatório para cada sujeito dentro de seu contexto bio-psico-social.

Assim como o conceito de saúde, a concepção de "qualidade de vida" é também subjetiva e multidimensional. O grupo Qualidade de Vida da OMS definiu esse termo como "a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (FLECK et al, 1999 p.20). Além disso, também pode ser concebida como um "sentimento de satisfação com a vida em geral, sentimento de felicidade e contentamento em relação à própria vida" (BRASIL, 2001).

Para atingir níveis satisfatórios de saúde e conseqüentemente melhorar a qualidade de vida, o cliente que procura as instituições de saúde necessita ser tratado de forma integral. A qualidade da assistência nos serviços de saúde está intimamente relacionada à forma de abordagem do indivíduo dentro do processo saúde - doença. Essa abordagem é peça fundamental, pois o tratamento digno e particularizado proporciona a otimização da assistência oferecida e condiciona melhores resultados à saúde e vida humana.

Os avanços tecnológicos observados nas ciências da saúde, relacionados tanto a intervenções diagnósticas, quanto terapêuticas, vêm substituindo a essência do cuidar humano, que reside na manutenção de relações interpessoais terapêuticas entre profissional e cliente. O modelo biomédico dominante está vinculado à "racionalidade da medicina especializada, tecnológica, mercantilizada, que através do reducionismo biológico, do mecanicismo, prioriza a doença sobre o doente, esquecendo-se da saúde" (ALBARRACÍN, 2001 p.98).

Nesse contexto, torna-se interessante discutir sobre as terapias não convencionais de assistência à saúde, que se constituem modalidades assistenciais dotadas, em muitos casos, de comprovação científica e alta credibilidade junto à população usuária. Essas terapias são fundamentadas em teorias holísticas, e buscam o equilíbrio entre as várias dimensões que constituem o ser humano, ou seja, oferecem assistência à saúde considerando aspectos bio-psico-sociais do indivíduo.

Dentre essas modalidades de assistência, a fitoterapia é uma das mais formas mais antigas e utilizadas de se tratar e prevenir problemas de saúde. É entendida como "a ciência do uso e manipulação de plantas medicinais com finalidade terapêutica" (BENDAZZOLI, 2000 p.124).

É importante ressaltar as afirmações de BENDAZZOLI (2000) de que o medicamento fitoterápico deve ser diferenciado de muitas espécies de plantas medicinais, encontradas no comércio informal, pouco estudadas e conhecidas no que diz respeito a seus efeitos tóxicos ou terapêuticos. Além disso, o autor refere sobre a responsabilidade com que deve ser conduzida a terapêutica fitoterápica, evitando efeitos indesejáveis ou tóxicos, os quais podem levar até à morte em casos de altas dosagens.

É possível compreender que a perspectiva de aplicação da fitoterapia é relevante dentre as diversas terapêuticas instituídas na solução de problemas de saúde. E, sendo respaldada por concepções holísticas de abordagem e cuidado ao cliente, essa terapia pode proporcionar um cuidado diferenciado em saúde. Desse modo, pretende-se identificar as razões e motivações que levam os clientes a buscarem a fitoterapia como modalidade terapêutica em saúde e buscar indícios de mudanças na qualidade de vida entre usuários de fitoterapia após aderirem ao tratamento fitoterápico.

METODOLOGIA

Estudo de natureza descritivo-analítica, com abordagem quanti-qualitativa, a ser desenvolvido em um hospital especializado em terapias alternativas, localizado no município de Goiânia – GO. A amostra será constituída por clientes da referida instituição de saúde que se dispuserem a participar do estudo e estiverem utilizando a fitoterapia há seis meses ou mais.

A coleta de dados será realizada pela pesquisadora em dia e horários previamente acordados com a instituição e usuários. Os instrumentos de coleta de dados constituirão em: a) Questionário semi-estruturado que permita identificar as razões e motivações que levaram os clientes a buscarem a fitoterapia como modalidade terapêutica em saúde. b) "Ficha de Informações sobre o Respondente" e "Instrumento Abreviado de Avaliação da Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde - WHOQOL – BREF", versão em português.

O WHOQOL BREF é um instrumento de avaliação da qualidade de vida, desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde que consta de 26 questões, sendo duas questões gerais sobre qualidade de vida e as 24 demais, representando os quatro domínios que compõem o instrumento: domínio físico, domínio psicológico, relações sociais e meio ambiente (FLECK et al., 2000).

Considerando que o instrumento WHOQOL BREF é de auto-avaliação e auto-explicativo, o entrevistador realizará a leitura do instrumento somente em casos de impossibilidade da mesma ser realizada pelo sujeito. O pesquisador não oferecerá explicações que auxiliem na interpretação das questões. Em caso de dúvidas quanto ao significado da pergunta por parte do sujeito, o entrevistador apenas poderá reler a questão de forma lenta.

Quanto aos aspectos éticos, o projeto será submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás e todos os sujeitos do estudo receberão o "Termo de Consentimento Livre e Informado" e só participarão aqueles que concordarem, assinando o referido Termo.

A análise dos dados coletados será feita por meio do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS) e as respostas obtidas por meio do questionário semi-estruturado serão analisadas seguindo a técnica da Análise do Conteúdo proposta por BARDIN (1977).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBARRACÍN, D. G. E. Saúde – Doença na Enfermagem: entre o senso-comum e o bom-senso. Tese apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP para obtenção do título de Doutor em Enfermagem de Saúde Pública, 2001, 219p.

BARDIN, L. Análise do conteúdo. Lisboa, 1977.

BRASIL, V. V. Qualidade de vida do portador de marcapasso cardíaco definitivo: antes e após implante. São Paulo-SP, 148p. Tese (Doutorado). Escola de Enfermagem – Universidade de São Paulo, 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Legislação e Portarias. Portaria nº 6/ MS / SNVS. 31 de janeiro de 1995. [on line] Disponível em www.anvisa.gov.br/legis/portarias/6_95.htm . Acessado em 27/11/2003.

BENDAZZOLI, W. S. Fitomedicamentos: perspectivas e resgate de uma terapia histórica. O Mundo da Saúde, São Paulo, 24(2): 123-26 mar./ abr. 2000.

CAPRARA, A. FRANCO, A. L. S. A Relação paciente-médico: para uma humanização da prática médica. Cad. Saúde Pública, 15(3): 647-654, Rio de Janeiro, jul. / set. 1999.

DE JOURS, C. Por um novo conceito de saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, n. 54, v. 14, Abr. / mai./ jun. 1986.

FLECK, M.P.A. et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida "WHOQOL – bref". Rev. Saúde Pública, 34(2): 178-83, 2000.

MEDEIROS, L.C.M. As plantas medicinais e a enfermagem – a arte de assistir, de curar, de cuidar e de transformar os saberes. 164p. Tese (Doutorado em Enfermagem). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery, 2001.

NEVES, J. M. Evidenciando o pensar para rever o fazer enfermagem : concepções dos usuários do centro de saúde do Guamá sobre saúde-doença e práticas populares de saúde. Belém – PA, 108p. (Dissertação de Mestrado). Departamento de Enfermagem, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Pará. 1995.

SEGRE, M.; FERRAZ, F.C. O conceito de saúde. Revista de Saúde Pública, 31 (5): 538-42, 1997.

Fonte de Financiamento: CNPq.