Pesquisa de anticorpos para lipoproteínas de mycoplasma hominis no soro de pacientes com Artrite Reumatóide – RESULTADOS PRELIMINARES

Autores: Jarach, R., Rocha Sobrinho, H.M., da Silva, N.A., Timenetsky, J.,  Dorta, M.L., Ribeiro-Dias, F.

Filiação: Departamento de Microbiologia, Imunologia, Parasitologia e Patologia -IPTSP - Universidade Federal de Goiás; Departamento de Microbiologia –Universidade de São Paulo. E-mail: fdias@iptsp.ufg.br e rejarach@uol.com.br

Palavras-chave: Micoplasmas, artrite, lipoproteínas, anticorpos

INTRODUÇÃO: Os micoplasmas são bactérias sem parede celular limitadas apenas por uma membrana plasmática trilamelar, que é composta de lipídeos, proteínas, sendo a maioria como lipoproteínas e lipopolissacarídeos não endotóxicos (Smith et al., 1976). Esses microrganismos induzem respostas imunes específicas e são também ativadores policlonais inespecíficos de linfócitos B e T, com subseqüente secreção de imunoglobulinas e citocinas. Também ativam monócitos/macrófagos, aumentando a expressão das moléculas do Complexo Principal de Histocompatibilidade, a produção de óxido nítrico e a liberação de citocinas pro-inflamatórias (Simecka et al., 1993; Stuart, 1993; Ribeiro-Dias et al., 1999). Desta forma, os micoplasmas causam doenças inflamatórias crônicas. Algumas espécies de micoplasmas têm sido isoladas de fluido sinovial de pacientes com artrite, entre elas: M. pneumoniae e M. genitalium, (Tully et al., 1995), U. urealyticum (LEE et al., 1992) e M. hominis (Luttrell et al., 1994). Pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de demonstrar o envolvimento dos micoplasmas na Artrite Reumatóide (AR), há mais de 30 anos. A AR é uma doença articular inflamatória crônica, mediada por linfócitos T e macrófagos. Evidências do envolvimento de micoplasmas na AR, bem como em outras doenças articulares inflamatórias crônicas, têm sido demonstradas através da detecção de anticorpos para micoplasmas no soro ou no fluido sinovial, bem como através do isolamento ou identificação dos micoplasmas no fluido sinovial. Entre as espécies mais frequentemente encontradas nos pacientes com AR estão M. fermentans, M. hominis, M. pneumoniae e M. penetrans (Johnson et al., 2000). OBJETIVO: pesquisar anticorpos para LAMPs de M. hominis em pacientes portadores de doenças articulares crônicas, especialmente a AR. METODOLOGIA: Pacientes foram triados no Ambulatório de Reumatologia do Hospital das Clínicas-HC/UFG, sendo de ambos os sexos, faixa etária de 19 a 79 anos, com AR (n= 51), Lupus Eritematoso Sistêmico (LES, n= 26) ou Espondilite Anquilosante (EA, n= 9). Foram colhidos 10mL de sangue para obtenção do soro. Para controle, foram separados os soros de 98 doadores do Banco de Sangue do HC/UFG. Somente foram incluídos na pesquisa os pacientes que concordaram em participar espontaneamente, assinando o Consentimento Informado (CEPMHA Protocolo No. 015/03). Mycoplasma hominis 1620 (BARILE et al., 1994) e M. hominis PG21 (ATCC) foram centrifugados (12.000g, 50min, a 4˚C), o sobrenadante foi desprezado e o sedimento ressuspendido em 40mL de tampão 1 (PBS pH 7,4 e timerosal 0,025%), seguida de duas etapas de centrifugação (20.000g, 30 min, 4˚C). O sedimento foi ressuspendido em 4mL de tampão 2 (Solução Tris HCl 50mM; NaCl 150mM; EDTA 1mM, pH 8,0) e a esta suspensão foi adicionado 1mL de Triton X-114 10% e a preparação foi submetida a 3 ciclos de sonicação (1 min, 2 mA, intervalos de 1 min, banho de gelo), sendo, em seguida acrescentados 5mL Triton X-114 10% e 20mL tampão 2 de extração. Após incubação (3h, 4˚C), sob agitação, a solução foi centrifugada (20.000g, 30 min, 4˚C), sendo o sobrenadante (extrato) submetido à purificação por partição de fase. O extrato foi incubado em banho-maria a 30˚C por 5 min e centrifugado a 2.500g (5 min, 29-30˚C). A fase detergente foi adicionada de igual volume de tampão 2 gelado e submetida novamente a partição por 2 vezes (Wang et al., 1992, modificada). As LAMPs foram precipitadas com etanol absoluto por 24h (-20oC), centrifugadas (50.000g, 1h, 4oC), ressuspendidas em PBS e quantificadas através do BCA Protein Assay (Pierce, Rockford, USA), usando albumina para a curva padrão. As lamps foram separadas por eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) baseada em Laemmli (1970), sob condições redutoras, utilizando um gel de corrida a 10%, sendo as lamps evidenciadas após coloração do gel com nitrato de prata. O ensaio imunoenzimático (ELISA) para detecção de anticorpos para as lamps nos soros foi baseado em Cordova et al. (1999). As placas de 96 poços foram sensibilizadas com diferentes quantidades de lamps (100mL, 18h, 4˚C), diluídas em tampão carbonato/bicarbonato 0,06M, pH 9,6. As placas foram lavadas por 5 vezes com solução A (PBS pH 7,4 e Tween 20 - 0,05%) e bloqueadas por 1h (37˚C) com leite desnatado a 5%, em PBS pH 7,4. Após a lavagem do bloqueio, 100μL dos soros a 1/50 em solução diluente (PBS pH 7,4, leite desnatado em pó a 2%) foram adicionadas, em duplicatas, e incubadas por 18h (4˚C). As placas foram lavadas novamente e o conjugado peroxidase anti-IgG (Bio Rad,  100μL, 1/2.000 em solução diluente) foi adicionado. Após 60 min (37˚C), as placas foram lavadas novamente por 5 vezes. Em seguida, foram adicionados 100 μL de tampão substrato OPD (5mg OPD, 5 mL de peróxido de hidrogênio 30V em 12,5mL de tampão citrato/fosfato, pH 5,1)  e as placas foram mantidas à temperatura ambiente, protegidas da luz, por 10 a 30min. A reação foi paralisada com 100μL de ácido sulfúrico 2N e a densidade óptica (D.O.) foi obtida em leitora de ELISA com filtro de 492nm. Na padronização foi utilizado um fluido sinovial rico em anticorpos para M. hominis 1620. Para determinação do limiar de reatividade foram testados soros de 98 doadores saudáveis. Foram consideradas positivas as amostras com leitura de D.O.³D.O. média destas amostras mais dois desvios padrões. Teste c2 foi usado para comparações. RESULTADOS e DISCUSSÃO: A maioria das LAMPs extraídas e separadas por eletroforese em gel de poliacrilamida, tanto do M. hominis 1620 quanto do M. hominis PG21 tinham peso molecular entre 80 a 240. Poucas LAMPs foram detectadas entre os pesos moleculares de 60 a 80. Na padronização do ELISA com LAMPs de M. hominis 1620, as melhores concentrações de antígenos foram 0,1 ou 0,2 mg/poço para a sensibilização das placas (0,1mg: D.O.= 1,09±0.05; 0,2mg: D.O.= 0,904±0.08; líquido sinovial 1/400; n=3). A concentração de 0,2mg/poço foi inicialmente utilizada para triagem dos soros. O ELISA utilizando soros diluídos 1/50 mostrou que o limiar de reatividade, calculado para os 98 indivíduos saudáveis, foi de D.O. 0,208 (média + 2 desvios padrões). Assim, a frequência de soros com imunoglobulinas G (IgG) para LAMPs foi de 3,06% para o grupo controle, 3,92% para o grupo com AR, 11,54% para o grupo com LES e 11,11% para o grupo com EA, não sendo atestadas diferenças estatisticamente significativas entre estas freqüências. CONCLUSÕES: Apesar dos dados sugerirem que não há diferença entre a freqüência de soros reatores dos grupos controle e AR, quaisquer conclusões, por enquanto, são inadequadas. O estudo está em fase de padronizações dos ensaios. Serão extraídas LAMPs de M. fermentans e realizado o immunoblotting.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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