COMPARAÇÃO DE PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICA DE BORRACHA NATURAL DA HEVEA BRASILIENSIS PRODUZIDA NOS ESTADOS DE SÃO PAULO E GOIÁS
Fernando Honorato, Mariana M. C. e Alarcão, Wilson Botter Jr *
Instituto de Química, Universidade Federal de Goiás, CP 131, Campus II, Goiânia-GO, 74001-970
*wilson@quimica.ufg.br, fhnquimica@yahoo.com.br
Palavras Chave: borracha-natural, polímeros, propriedades físico-químicas.
Introdução
A Hevea brasiliensis é originária da região amazônica do Brasil. A borracha dessa árvore foi descoberta em meados do século XVIII e, atualmente, é a principal fonte de borracha natural (BN) do mundo. A BN obtida da seringueira apresenta uma ampla gama de aplicações industriais, tais como pneumáticos, que consomem quase 75% da produção mundial (Loyen, 1998), materiais cirúrgicos, adesivos e calçados. A qualidade de um produto industrializado de borracha depende, entre outros fatores, da qualidade da borracha crua, o que explica a procura cada vez maior da indústria de manufaturados por uma borracha crua com propriedades homogêneas (Bernardes, 2000). Com relação ao plantio e produção, Goiás está em sexto lugar no País (IBGE, 2000). Segundo Bernardes et al (2000), a história da produção da BN brasileira mostra que o país desfrutou da condição de principal produtor e exportador mundial, no final do século XIX e início do século XX, passando a ser importador dessa matéria-prima, a partir do começo dos anos cinqüenta do século passado. O objetivo deste trabalho foi avaliar as propriedades do látex e da borracha natural de três clones recomendados para plantio em larga escala, nos Estados de Goiás e São Paulo (Moreno et al, 2003).
Materiais e Métodos
A identidade do polímero foi determinada por espectrometria na região do infravermelho (FTIR). As propriedades avaliadas são: o conteúdo de borracha seca (DRC), a viscosidade Mooney (Vr), a porcentagem de nitrogênio, a porcentagem de cinzas e a plasticidade Wallace (Po).A caracterização da BN extraída da Hevea brasiliensis foi feita a partir dos látices de 12 árvores dos taliões dos clones RRIM-600, GT-1 e PB-235, com 12 anos de idade, no 3o ano de sangria. As amostras foram coletadas na segunda quinzena dos meses de abril, maio e junho de 2004. Inicialmente, coagulou-se os látices dos clones com uma solução de ácido acético 6 mol/L. Em seguida, evaporou-se o excesso de ácido e a borracha foi laminada obedecendo-se uma espessura de 2 a 3 mm. Utilizando-se 20g e 3g da borracha laminada, quantificou-se o conteúdo de borracha seca (DRC) e a porcentagem de cinzas, respectivamente. A porcentagem de nitrogênio foi determinada pelo método Kjeldahl, usando-se aproximadamente 0,5g de borracha.
Resultados e Discussão
Os resultados da DRC mostram que, em média, os valores são maiores em Goiás do que em São Paulo (Fig. 1-a e 1-b). A variação do DRC do látex depende da idade da árvore, intensidade da sangria, época do ano, clima, prática de estimulação e outras (VARGHESE apud MORENO, 2003). Por sua vez o clone apresentou a maior média de DRC em Goiás foi o RRIM 6OO (47,338%). Já em São Paulo este clone apresentou a menor média (30,933%). O clone GT 1 apresentou a menor média para porcentagem de cinzas (0,556%), em Goiás e o PB 235 (0,640%) a maior. As amostras de São Paulo apresentaram resultados semelhantes; o GT 1 com a menor média (0,539%) e o PB 235 com a maior média (0,885%). As análises das porcentagens de nitrogênio e de proteína , mostraram que o GT 1 tem a maior média de (0,78%) de nitrogênio, enquanto que nas amostras de São Paulo o clone com maior média foi o RRIM 600(0,49%) conforme Figuras 3 e 4. Os espectros IR da solução toluênica do 1,4-cis-poliisopreno para os clones da NR apresentaram absorções em 3025; 2858, 2968; 1667 a 1620; 1460 e 840 cm-1. A viscosidade intrínseca [η] foi 428,3 dL.g-1. A massa molar viscosimétrica média Mv, foi de 1,3x103 kg.mol-1, calculada utilizando-se os valores de a = 0,77 e k = 8,51 x 10–3 dL.g-1 na equação de Mark-Houwink-Sakurada. As espécies estudadas apresentam características dentro das faixas descritos na literatura (Moreno,2003), o que demonstra a adaptação da Hevea brasiliensis ao clima de Goiás. Observa-se, entretanto, que a regionalidade e a sazonalidade são aspectos importantes no comportamento de algumas propriedades dos látices e da borracha natural produzida por estes clones.
(a) (b)
Figura 1. Variação do DRC no estado de Goiás (a) e São Paulo (b).
(a) (b)
Figura 2. Variação da porcentagem de cinzas da borracha no estado de Goiás (a) e São Paulo (b).
Figura 3. Variação da porcentagem de nitrogênio da borracha do estado de Goiás.
Figura 4. Variação da porcentagem de nitrogênio da borracha do estado de São Paulo.
Conclusões
A Hevea brasiliensis adaptou-se muito bem ao clima e solo de Goiás. Os resultados mostram que o plantio em larga escala é viável, o que potencializa a construção de uma usina de beneficiamento dos látices produzidos.
Referências Bibliográficas
BERNARDES, M. S.; VEIGA, A. S.; FONSECA FILHO,H. Mercado brasileiro de borracha natural. In: BERNARDES, M. S. (Ed.). Sangria da seringueira. Piracicaba: Esalq, 2000. p. 365-388.
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LOYEN, G. Le futur du caoutchouc naturel et l’Inro. Plantations, Recherché, Développement, Montpellier, v. 5, n. 4, p. 261-268, 1998. NAIR, S. Dependence of bulk viscosities (Mooney and Wallace) on molecular parameters of natural rubber. Journal of the Rubber Research Institute of Malaysia, Kuala Lumpur, v. 23, n. 1, p. 76-86, 1970.
MORENO, R. M. B. et al. Avaliação do látex e da borracha natural de clones de seringueira no Estado de São Paulo. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 38, n. 5, p. 583-590, maio 2003.