COMPOSIÇÃO E
VARIABILIDADE QUÍMICA DA OLEORESINA DE AÇAFRÃO EXTRAÍDA POR HIDRODESTILAÇÃO E
FLUIDOS SUPERCRÍTICOS
W.
G. O. Leal1; D. M. Pereira1;
P. H. Ferri1; C. J. Moura2; Y. O. Paula1; J.
C. Seraphin3, C. M. Goetz4
1Universidade
Federal de Goiás, Instituto de Química,
C.P. 131, 74001-970 Goiânia, GO
2Universidade
Federal de Goiás, Escola de Agronomia, C.P. 131, 74001-970 Goiânia, GO
3Universidade
Federal de Goiás, Instituto de Matemática e Estatística , C.P. 131, 74001-970
Goiânia, GO
4Universidade
Estadual de Goiás, UnU-CET, C.P. 459, BR 153, Km 3, 75000-000 Anápolis, GO
wesleygabriel@pop.com.br,
delma@quimica.ufg.br
PALAVRAS-CHAVE: Curcuma
longa, Extração com fluido supercrítico (SFE).
O Estado
de Goiás é responsável por 26% da produção brasileira dessa especiaria1.
A oleoresina do açafrão (Curcuma longa) contém dois componentes sendo o
material corante, majoritariamente constituído de curcuminóides (curcumina e
seus derivados) (Fig. 1), e um óleo volátil formado principalmente de
sesquiterpenos oxigenados2.
Neste
trabalho verificou-se a influência de modificadores (co-solventes) na
composição e variabilidade química da oleoresina pela técnica de SFE, bem como
na extração por hidrodestilação.
Extração
Na cela de
extração foram adicionados 2,00 g de
açafrão moído, o respectivo fluido extrator, seguido de pressurização com N2.
O extrator foi colocado no forno e mantido sob agitação por 30 min em
diferentes temperaturas (Tabela 1). Após filtração em papel de filtro
qualitativo (Whatman), o rendimento do extrato foi determinado por gravimetria.
Em seguida, prepararam-se soluções dos extratos (50 mL), a partir dos
respectivos fluidos modificadores utilizados nas extrações. A extração por
hidrodestilação foi conduzida em aparelho do tipo Clevenger modificado,
comparando-se o óleo essencial obtido por este método aos obtidos por SFE.
Utilizou-se a técnica de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) para a identificação dos curcuminóides e espectrometria UV/Vis para a quantificação dos curcuminóides totais. Os componentes voláteis foram submetidos à análise por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (GC/MS).
Análise Estatística
Tabela 1. Condições e rendimento percentual das extrações. |
|||
Fluido Supercrítico
|
Temperatura (K) |
Pressão (MPa) |
Rendimento (%) |
Etanol |
523 |
7 |
13,8 |
Acetona |
513 |
5 |
14,2 |
n-Hexano |
513 |
4 |
3,2 |
CO2 e
etanol |
348 |
8 |
11,2 |
CO2 e
éter dietílico |
348 |
8 |
14,8 |
CO2 e THF |
348 |
8 |
16,7 |
CO2 e
acetona |
348 |
8 |
16,8 |
CO2 e n-hexano |
348 |
8 |
4,9 |
Os teores dos componentes voláteis e dos
curcuminóides totais foram incluídas na análise multivariada usando o pacote
estatístico Système Portable d’Analyse des Données Numériques (SPAD.N
Integrado, versão 2.5 PC/1994) do Centre International de Statistique et
d’Informatique Appliquées-CISIA, Saint-Mandé/França3. Em seguida,
aplicou-se a Análise por Agrupamento (Análise de Cluster) para o estudo da
similaridade entre os indivíduos (diferentes métodos de extração) com base na
distribuição dos constituintes dos extratos.
Os maiores
rendimentos (Tabela 1) foram observados pelos métodos de SFE nos quais se
utilizaram as misturas CO2-acetona (16,8%) e CO2-THF
(16,7%). A utilização de solventes orgânicos puros mostrou-se indicada somente
para obtenção dos
sesquiterpenos, devido à degradação térmica dos curcuminóides no
extrator.
Tabela 2.
Curcuminóides totais no extrato |
|
Fluido Extrator |
Massa (mg) |
CO2-etanol |
137,9 |
CO2-éter dietílico |
144,1 |
CO2-THF |
194,1 |
CO2-acetona |
259,3
|
CO2-n-Hexano |
0.2 |
O maior
teor de curcuminóides totais (Tabela 2) foi obtido utilizando-se CO2-acetona
como fluido extrator. Os cromatogramas obtidos por HPLC (Fig. 2) mostraram a
presença dos três curcuminóides nos extratos.
Um
total de 10 componentes voláteis foram identificados através da análise por
GC/MS, perfazendo 97,8-100% dos constituintes voláteis. Os sesquiterpenos
oxigenados constituíram o principal grupo em todos os extratos. Diferenças nas
quantidades dos compostos foram observadas em relação aos subgrupos dos
sesquiterpenos oxigenados e hidrocarbonetos sesquiterpenos. Os extratos onde se
utilizou etanol, apresentaram teores mais elevados em hidrocarbonetos
sesquiterpenos (valor médio de 9,19 ± 1,46%), de acordo com os resultados descritos por Braga4.
Enquanto que os extratos com diferentes co-solventes apresentaram maior
conteúdo de sesquiterpenos oxigenados (93,4 ± 1,03%). Os resultados obtidos pela PCA e pela Análise de
Cluster, utilizando a técnica de Ward5 (Fig. 3) , indicou uma
seletividade em relação aos métodos/co-solventes de extração, retendo-se uma
variância acumulada de 76% no primeiro plano fatorial. Os hidrocarbonetos
sesquiterpenos discriminantes localizam-se à direita, separados dos
sesquiterpenos oxigenados. Assim, dois grupamentos foram obtidos: I,
constituído pelos extratos obtidos com etanol puro e CO2-etanol,
discriminados pelos hidrocarbonetos sesquiterpenos (ar-curcumeno, zingibereno, b-sesquifelandreno)
e n-tetradecano; e o grupo II, constituído pelos outros métodos, tendo
como componentes discriminantes, o ar-turmerol,
ar-turmerona e o desconhecido 1.
Os
resultados sugerem que para a obtenção de oleoresina com alto teor de
curcuminóides, o método que utiliza CO2-acetona como fluido extrator
é o mais eficiente. Em relação aos sesquiterpenos, a seletividade para um
determinado grupo (oxigenados ou hidrocarbonetos) pode ser obtida, utilizando-se
os métodos/co-solventes do Grupo 1, para os hidrocarbonetos sesquiterpenos, ou
aqueles do Grupo 2 para os sesquiterpenos oxigenados.
[1]Marinozzi,
Gabrio. (2002),
Estudo da Cadeia Reprodutiva do Açafrão (Curcuma longa L.) e do sistema produtivo local da região de Mara
Rosa – GO. Relatório
CNPq, Goiânia, Brasil.
[2]Taintes, D. R.; Grenis, A. T.; (1996), Especias Y Aromatizantes Alimentarios.
Editora Acribia., Zaragoza, Epaña.
[3]Lebart, L., Morineau, A., Lambert, T.,
Pleuvret, P. (1994) SAPD.N versión 2.5. Sistema
Compatible para el Análisis de Datos. Centre International de
Statistique et d’Informatique Appliqueés, Saint Mandé, France.
[4]Braga, M. E. M; Leal, P. M.; Carvalho, J. E.;
Meireles, M. A. A.; (2003), Comparison of
yield, composition, and antioxidant activity of turmeric (Curcuma
longa L.) extracts obtained using various techniques. Journal of
Agricultural and Food Chemistry, v. 51, n. 22, p. 6604-6611.
[5] Ward, J.H. (1963) Hierarchical grouping to optimize an
objective function. Journal of American
Statistical Association v.58,
p. 238-244.