Investigação “in vitro” dos efeitos dos extratos da folha e da casca de pequi (Caryocar brasiliensis)

 

VELOSO, V.S1,2.; SILVA, M.G1.; YAMADA, A. T 2. & SABÓIA-MORAIS, S.M.T1.

 

1- Universidade Federal de Goiás - Instituto de Ciências Biológicas - Departamento de Morfologia – Lab. de Comportamento Celular, Campus II – ICB IV – C.P.131 - Goiânia – GO CEP.: 74001-970.

 2- Universidade Estadual de Campinas – Instituto de Biologia – Depto de Histologia e Embriologia – Lab. de Citoquímica e Imunocitoquímica E-mail: saboias@terra.com.br / vivianneveloso@bol.com.br

Palavras-chave: extratos de pequi, cultura de células, citotoxicidade, proliferação celular

 

1. Introdução

            A utilização medicinal das plantas do Cerrado é feita pela extração de componentes encontrados nas raízes, caules e folhas. Espécies vegetais nativas do Cerrado que são pertencente aos gêneros Eugenia, Hyptis, Solanum, Annona, Stryphnodendron, Caryocar e Ingá são largamente utilizadas na medicina popular e, são de grande interesse econômico regional (Almeida et al., 1998).

Uma planta típica desse bioma é uma frutífera, o Caryocar brasiliensis Camb.(Caryocaraceae), conhecido vulgarmente por “pequizeiro”, a qual é uma planta muito versátil, no que diz respeito às suas utilidades, pois dela se aproveita praticamente tudo. (Lopes et al., 2003).

Por meio de análise cromatográfica realizada por Rosa et al.,(2004), verificou-se uma diferença significativa entre substâncias presentes no extrato bruto de folhas e o extrato bruto de cascas de pequi (Caryocar brasiliensis). No extrato bruto da folha, cuja composição provavelmente é responsável pela sua ação antifúngica já observada (Passos et al., 2002), foram encontrados açúcares, carotenos, clorofila, flavonóides glicosilados, taninos condensados e taninos hidrolisáveis, ao passo que no extrato bruto da casca do caule observou-se a presença de açúcares, cumarinas, flavonóides glicosilados e taninos condensados.

Nas plantas, os taninos podem ser encontrados em raízes, flores, frutos, folhas, cascas e na madeira, atuando para protegê-las contra os herbívoros e na prevenção aos diferentes patógenos. A complexação entre taninos e proteínas é a base para suas propriedades como fatores de controle de insetos, fungos e bactérias o que lhes confere alto potencial para atividades farmacológicas (Simões et al., 2004).

 Estratégias científicas para a avaliação de produtos naturais in vitro com atividade biológica têm apresentado avanços significativos nos últimos anos, em decorrência dos crescentes interesses no aproveitamento de produtos naturais. Levando-se em consideração de que estudos “in vivo” podem sofrer interferências intrínsecas do animal teste de maneiras diversas, nem sempre previsíveis nas respostas esperadas, o estudo sistemático “in vitro” é tido como imprescindível.

Dentre as respostas celulares chaves à exposição a tóxicos é a indução da proliferação celular, que representa uma das mais relevantes funções celulares e pode ser usada como indicador de citotoxicidade em cultura de células (Kilemade et al., 2002; Rosa et al., 2004).

O objetivo geral deste estudo será avaliar comparativamente a ação moduladora tempo- e concentração-dependente dos compostos presentes nos diferentes extratos obtidos do pequi, sobre a capacidade proliferativa das células HeLa (modelo celular epitelial maligno) e MDCK (modelo celular epitelial normal), que são classificadas como tendo capacidade proliferativas alta e moderada, respectivamente. Essa análise se realizará por meio de tratamentos agudo, subagudo e crônico das células “in vitro”. Os objetivos específicos consistem em verificar a manutenção da capacidade celular por meio do teste MTT, identificar o retorno à bioatividade normal por meio de repique, diagnosticar o efeito proliferativo em relação à manutenção da estrutura celular normal e analisar estatisticamente através do teste de ANOVA o efeito das substâncias sobre as células.

2. Materiais e Métodos

            As folhas e as cascas do caule de pequi (Caryocar brasiliensis) serão coletadas em um sítio próximo a Goiânia, Goiás, procedendo-se, então, à obtenção dos extratos, quando as mesmas serão submetidas, separadamente, à secagem em estufa de ventilação forçada e trituradas.

            Obter-se-ão o extrato etanólico da folha e da casca do caule de pequi e o extrato polifenólico da folha e da casca do caule do pequi, designados como EEf , EEc, EPf e EPc, respectivamente.

            O cultivo das células HeLa e MDCK será feito em meio Eagle´s modificado de Dulbecco´s, suplementado com 10% de soro fetal bovino e 1% de antibiótico antimicótico, sendo as mesmas mantidas em uma temperatura de 37oC a uma atmosfera de 5% de CO2 até o início dos ensaios.

            Os ensaios in vitro consistirão em expor as células da linhagem HeLa e da linhagem MDCK ao extrato etanólico da folha e da casca do caule de pequi e ao extrato polifenólico da folha e da casca do caule desta mesma planta. Ambas as linhagens serão analisadas sob o efeito de 20 mg/l e 100mg/l dos extratos acima relacionados no período de 30, 60 minutos, 6, 24 e 48 horas. Os controles serão realizados com os cultivos em iguais condições nos referidos tempos, sem a adição de qualquer extrato. Os ensaios com os respectivos controles serão realizados em triplicata.

            As células HeLa e MDCK após submetidas às diferentes condições de cultivo, serão submetidas à reação imunocitoquímica com anti-PCNA e reveladas pelo método de imunoperoxidase. Serão quantificadas as incidências de núcleos marcados e analisadas estatisticamente quanto às possíveis diferenças entre os tratamentos com extratos EEf, EEc, EPf e EPc.

Após os períodos estabelecidos de exposição das células HeLa e MDCK aos extratos referidos, será realizado o método de redução MTT-tetrazólio. O MTT é clivado pelo sistema redutase succinato-tetrazólio, que pertence à cadeia respiratória mitocondrial e é ativo em células vivas. O MTT é inicialmente adicionado ao meio, e em seguida removido, adicionando-se posteriormente ao meio de cultura dimetilsulfóxido, para leitura de absorbância em 560nm para cada um dos ensaios.

            Por fim, os meios de cultura serão removidos, e avaliados quanto à liberação da enzima desidrogenase lática (LDH). Em cada uma das amostras será adicionada solução de piruvato de sódio recém preparada em tampão fosfato 100mM, pH 7,4 e incubadas a 37oC durante 30 minutos, para leitura espectrofotométrica.

3. Resultados esperados e Discussão

Foram realizados estudos “in vivo” por Rosa et al.,(2004), utilizando como modelo experimental guarus. Quando estes animais foram expostos ao extrato casca do caule de Caryocar brasiliensis a 20mg/l, houve um aumento quantitativo das células branquiais.

Neste trabalho nós esperamos encontrar aumento proliferativo das células normais expostas aos extratos bioativos do pequi, e que esta proliferação seja benéfica, ou seja, uma possível ação estimuladora do processo de cicatrização e regeneração celular. Caso este resultado seja obtido, poder-se á especular sobre a possibilidade dos extratos de pequi com reatividade positiva serem utilizados como fármacos em doenças de pele, o que necessitará de estudos posteriores mais aprofundados.

 Keil et al., 2004, observou que os taninos inibiram o crescimento e promoveram apoptose de células cancerosas, mas não de suas correspondentes normais. Assim, para as células malignas esperamos encontrar o efeito inverso ao relatado para as células normais.

4. Conclusão

            O uso medicinal do pequi (Caryocar brasiliensis) pela população de diferentes partes do Brasil tem encontrado respaldo nos estudos científicos, que comprovam a eficácia destas plantas em vários modelos experimentais. Neste contexto, alguns efeitos biológicos ou farmacológicos, como antifúngicos, moluscicida, anticancerígeno, etc., são relatados na literatura, comprovando e justificando o uso desta espécie na medicina popular e, demonstrando o potencial medicinal das substâncias encontradas no pequizeiro. Tais dados se comprovados poderão não só indicar os efeitos curativos desta planta, como agregar-lhe valor, indicando a necessidade urgente de preservação do bioma Cerrado.

5. Referências bibliográficas

ALMEIDA, S.P.A.; PROENÇA, C.E.B.; SANO, S.M.; RIBEIRO, J.F. (1998). Cerrado: Espécies vegetais úteis. Planaltina. Embrapa – CPAC, 464p.

KEIL, C.; PETERMANN, E. & OEI, S.L. (2004). Tannins elevate the level of poly(ADP-ribose) in HeLa cell extracts. Archives of Biochemistry and Biophysics 425 (1): 115-121.

KILEMADE, M.; M. LYONS-ALCANTARA; T. ROSE; R. FITZGERALD & C. MOTHERSILL. (2002). Rainbow trout primary epidermal cell proliferation as an indicator of aquatic toxicity: an in vitro/ in vivo exposure comparison. Aquatic Toxicology,  60 (1-2): 43-59.

LOPES, P.S.N.; SOUZA, J.C.; REIS, P.R.; OLIVEIRA, J.M. & ROCHA, I.D.F. (2003). Caracterização do ataque da broca dos frutos do pequizeiro. Revista Brasileira de Fruticultura 25 (3).

PASSOS, X.S.; SANTOS, S.C.; FERRI, P.H.; FERNANDES, O.F.L.; PAULA, T.F.; GARCIA, A.C.F. & SILVA, M.R.R. (2002). Atividade antifúngica de Caryocar brasiliensis (Caryocaraceae) sobre Cryptococcus neoformans. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 35 (6).

 

ROSA, E.V.; SANTOS, S,C.; MORAIS, J.O.R.; SABÓIA-MORAIS, S.M.T. (2004). Bioactivity of etanolic extracts of pequi (Caryocar brasiliensis) promoting cell prolifferation revelled through 5-bromo-2-deoxyuridina in gills of fish (Poecilia vivipara). Submetido – J.Fish Biology. (BUSCAR TÍTULO EM INGLÊS)

 

Fonte de financiamento: CAPES