DETECÇÃO DE VÍRUS ENTÉRICOS EM AMOSTRAS DE ÁGUA NA CIDADE DE GOIÂNIA-GO ATRAVÉS DA TÉCNICA DE PCR.

 

TAVARES, T.M.1; CARDOSO, D.P.C.2; BRITO, W. M. E. D.2.

 

1.Pós-graduanda PPGMT / IPTSP / UFG – talissatavares@brturbo.com. 2.Setor de Microbiologia / IPTSP / UFG, Rua 235 s/n Setor Leste Universitário 74605-050, Goiânia, GO – wdbrito@iptsp.ufg.br

 

Palavras-Chave: água, vírus entéricos, PCR.

 

Introdução

                  As bactérias do grupo coliformes são os atuais indicadores biológicos utilizados na avaliação da qualidade sanitária da água, porém esses indicadores não parecem ser de suficiente precisão para refletir a qualidade virológica da água (Marques, 1991; Mehnert, 2001; Skraber et al., 2004; Vivier et al., 2004).

                  Vírus entéricos, como enterovírus, rotavírus, calicivírus, alguns adenovírus e vírus da hepatite A (HAV), presentes no trato gastrintestinal de indivíduos infectados, são eliminados através das fezes em grandes quantidades (105-1011/g de fezes), sendo capazes de contaminar direta ou indiretamente águas destinadas ao consumo humano, levando à ocorrência de doenças em indivíduos susceptíveis. A dose infectante destes agentes é extremamente baixa, de uma a dez unidades infecciosas (Wyn-Jones; Sellwood, 2001, Leclerc et al., 2002; Ashbolt, 2004).

                  Estes vírus podem permanecer viáveis ou potencialmente infectantes durante meses na água, resistindo a condições ambientais adversas e a processos de tratamento de água e esgoto, aplicados no controle bacteriano, apesar de não se multiplicarem por serem parasitas intracelulares obrigatórios (Marques, 1991; Mehnert, 2001; Leclerc et al., 2002; Tree et al., 2003; Skraber et al., 2004).

                  No Brasil, existem poucos estudos sobre a presença de vírus entéricos humanos em águas de beber e esgotos (Marques, 1991; Mehnert, 2003). Em Goiás não existem investigações de vírus em água. Por essa razão, o presente estudo se propõe a detectar a presença de adenovírus, rotavírus, calicivírus e HAV de diferentes fontes e locais na cidade de Goiânia.

 

Material e métodos

Cerca de 30 amostras de água de esgotos, rios, córregos e torneiras serão coletados de sete locais diferentes de Goiânia/GO, envolvidos no processo de abastecimento da região. A colheita será realizada durante os dois períodos climáticos da região, de seca (maio/outubro) e de chuva (novembro/abril).

                  As amostras serão inicialmente concentradas (Mehnert & Stewien, 1993, Mehnert et al.,1997; Queiroz et al., 2001), detoxicadas (Queiroz et al., 2001) e posteriormente será realizada a identificação dos vírus através de PCR. Sucintamente, será feita a extração dos ácidos nucléicos virais de acordo com Boom et al., (1990) com modificações e, a seguir a PCR pós-transcrição reversa (PCR-RT) para os vírus de RNA: rotavírus (Gouvea et al., 1990; Gentsch et al., 1992; Das et al., 1994; Leite et al., 1996), calicivírus (Green et al., 1995; Jiang et al., 1999) e HAV (De Paula et al., 2002) e a PCR-Multiplex para os vírus de DNA: adenovírus (Pring-Akerblom et al., 1999).

 

 

Resultados esperados

                  Através deste estudo espera-se padronizar um método de análise virológica em amostras de água, inicialmente através da aplicação de um método de concentração simples e com grande eficiência de recuperação de partículas viral em diferentes tipos de água, seguido da identificação e caracterização de patógenos virais de veiculação hídrica pela técnica de PCR e, posteriormente, observar a distribuição sazonal anual destes vírus, com intuito de ampliar os conhecimentos em relação à circulação viral em águas desta região.

Acredita-se que os dados obtidos a partir deste estudo servirão como base na orientação de profissionais que trabalham no controle da qualidade da água, para que possa ser implementado um conjunto de medidas preventivas e também de um Laboratório de monitoramento de vírus em água local, a fim de reduzir os níveis de contaminações virais em Goiás.

Caso seja desenvolvido um sistema de análise e vigilância da qualidade virológica da água em Goiás, mais trabalhos de investigações e levantamentos epidemiológicos continuarão ser realizados, com a finalidade melhorar a qualidade da água destinada ao consumo e de minimizar não só os surtos ou casos esporádicos de enfermidades virais, como também os prejuízos econômicos gastos principalmente com doentes e tratamento da água neste Estado.

 

 

Referências bibliográficas

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Fontes Financiadoras: CNPq, FUNAPE, UFG.