EDUCADORES SOCIAIS DE RUA E A PERSPECTIVA DO CUIDADO DE ENFERMAGEM COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RUA.

OLIVEIRA,N.S

MEDEIROS,M

INTRODUÇÃO: Cuidar de crianças e adolescentes em situação de rua no grande município de Goiânia tornou-se um grande desafio, visto que encontra-se intrinsicamente ligado a realidade social da população da periferia onde impera o desemprego, os conflitos familiares, o alcoolismo a delinqüência e a fome.fome. Estes fatores levam à violência doméstica e sexual, empurrando de forma brusca crianças e adolescentes para o mundo da rua em busca de outros mecanismos para a sobrevivência, enquanto poderiam estar freqüentando uma escola e vivendo a fase compatível para sua idade com todos os direitos que lhe são assegurados para seu crescimento e desenvolvimento.Realidade longe de ser conquistada não apenas em Goiânia , mas no pais, marcado pela exclusão social, concentração de renda, desvio de verbas públicas e a exploração da mão de obra operária, com um salário de mais ou menos U$80 dólares para sobreviverem, sem falarmos no grande número de excluídos que vivem nas ruas ou com ajuda de projetos governamentais, que não contemplam todas as famílias que necessitam.Ao refletirmos esta realidade e conviver no dia-a-dia com as angústias e sofrimentos deste grupo, escutando com o coração suas dores, alegrias e sonhos, há um grande apelo para buscarmos caminhos de inclusão social através do trabalho de educadores sociais de rua, e aqui entendemos como educador social de rua, a pessoa que se coloca a caminho com crianças e adolescentes que vivem num contexto de rua de forma empática para que educador e educando possam gradativamente construírem uma relação de confiança, amizade e respeito com cada grupo e pessoa, fundamentada na pedagogia do encontro. O educador é alguém capaz de acolher cada pessoa na sua individualidade comprometendo-se de maneira concreta a partir de um diagnóstico preciso de cada um e do grupo, ajudando assim a encontrar pistas concretas de políticas públicas a serem implementadas objetivando a saúde integral que respondam as necessidades do grupo. Propomos uma integração do profissional de saúde junto a equipe multidisciplinar, uma vez que percebemos a distância deste nessa área, tão necessária para a motivação e promoção da saúde integral, para que não venhamos a reproduzir atitudes excludentes da sociedade que desconhece a realidade e a história de cada criança e adolescente no seu contexto de rua, como também uma pesquisa profunda sobre a percepção qualitativa na visão dos meninos e meninas em situação de rua do trabalho desenvolvido pelo Educador social e sua influência na mudança de comportamento destes, para a partir dos dados levantados pontuarmos metas que respondam as necessidades do grupo e as potencialidades e fragilidades desta ação junto a esta população em situação de rua. É importante termos presente que o grupo a quem os educadores sociais de rua direcionam sua ação caracterizam-se pela experiência de moradia na rua, prostituição, abandono familiar e são provenientes de camadas populares das periferias de Goiânia, das cidades entorno e de outras capitais. São pessoas que carregam uma biografia marcada pelo desajuste político e econômico, como também por uma desestrutura bio-psioco-social , com pais, padrastos ou mães alcoólatras , desempregados e comprometidos com a justiça. Muitas destas crianças e adolescentes perderam laços com as famílias progenitoras. Têm experiências com algum tipo de trabalho informal e fazem uso de substâncias psicotrópicas de variada natureza.Sendo assim o educador é alguém que está sempre aprendendo, pois no seu dia-a-dia é desafiado a criar relações inter-pessoais para manifestarem a cada educando e ao grupo, amor , firmeza, encorajamento, apoio e escuta para que os destinatários da sua ação educativa possa num clima de confiança redescobrir gradualmente a própria dignidade e cresça na estima de si mesmo para assumir com liberdade e responsabilidade a mudança da própria vida.Nesta perspectiva o educador deverá estar sempre buscando novas saídas para os desafios encontrados na sua missão e refletir sobre sua prática, desafios, avanços e resultados na ação pedagógica desenvolvida. Como profissionais de saúde não podemos omitir-nos do compromisso que temos com esta parcela da sociedade, somos portanto desafiados a entrar num mundo desconhecido para muitos, para melhor compreendermos alguns comportamentos e o nosso papel junto ao grupo que em toda a sua história fora usurpada na sua dignidade humana e fazer ressurgir muitos sonhos adormecidos por falta de quem os ajudem a perceber uma outra realidade sem violência e droga. OBJETIVO: Identificar e conhecer aspectos do trabalho do educador social de rua e a influência que este exerce na mudança de comportamento e re-opção de vida da criança e adolescente em situação de rua deste contexto. METODOLOGIA: Por acreditarmos que através da ação educativa dos educadores sociais de rua, baseada no amor, respeito, confiança e empatia, é possível ajudar cada pessoa a reconstruir uma personalidade fragmentada pelas experiências negativas, nos colocamos neste caminho tendo como base a abordagem qualitativa. E esta vai de encontro com nossos anseios, como também é um método vastamente utilizado nas pesquisas sociais em saúde. Os dados foram coletados através de um acompanhamento sistematizado por uma equipe de educadores sociais de rua de uma ONG, coordenados por uma enfermeira, com atividades educativas como: oficinas de artes,alfabetização, oficinas de saúde, e acompanhamento personalizado em cada necessidade apresentada pelo grupo.RESULTADOS: A ação educativa planejada, sistematizada e supervisionada, baseada na acolhida, presença, respeito, amor, confiança e empatia, foi capaz de despertar em várias crianças e adolescentes em situação de rua o desejo de repensar a própria vida e reconstruir a história pessoal, despertando-se para a vida num processo de inclusão e justiça social. CONCLUSÃO: O educador social de rua ao conviver no dia-a-dia com as angústias, sofrimentos, sonhos e alegrias da criança e do adolescente e ao assumir uma pedagogia do encontro se coloca a caminho para que educador e educando construam juntos um caminho marcado pelo respeito ao processo individual e único em meio as diversidades, com diagnósticos mais precisos e implementações de políticas públicas para melhor atender esta população favorecendo assim a vida com justiça social.

Palavras-chaves: Criança de rua, Adolescentes

 

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BARDIN , L. Análise de conteúdos . Lisboa. Edições 70. 1979.

BORGES, C. Número de meninos de rua em Goiânia cresce 40%. O popular, 01 de março de 2002. Cidades 3B.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8069/90. São Paulo, Atlas, 199l.

CÂMARA, M. F. B.; MORAES, M..; MEDEIROS, M.; FERRIANI, M. G. C. Aspectos da assistência prestada a criança e adolescentes em situação de rua no município de Goiânia. Revista Eletrônica de Enfermagem(online), Goiânia, v.3, n.1, jul-dez.2000.

GRACIANI, M. S. S. Pedagogia social de rua: análise e sistematização de uma experiência vivida. São Paulo,Cortez, 1999.

MEDEIROS, M. Olhando a lua pelo mundo da rua: Representações Sociais da Experiência de vida de Meninos em Situação de rua. Ribeirão Preto, 1999, 155 pág. Dissertação (Doutorado) Universidade de Sào Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto.

MEDEIROS, M. Percepções dos autores sociais que coordenam programas de atenção às crianças e aos adolescentes em situação de rua no município de Ribeirão Preto (SP).

Ribeirão Preto, 1995, 80 pág. Dissertação (Mestrado). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

MINAYO, M. C. S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis – Rio de Janeiro, vozes, 1994.

MINAYO, M. C. S (org) O limite da exclusão social: meninos e meninas e rua no Brasil. São Paulo/ Rio de Janeiro, Hucitec – abrasco. 1993.

MINAYO, M, C, S. (org) O Desafio do conhecimento: Pesquisa qualitativa em Saúde. São Paulo/ Rio de Janeiro, Hucitec – abrasco. 1994.