Nilza
N. Guimarães, Elder S. da Silva, Ígor G. de Oliveira e Kênya S. Cunha.
Departamento de Ciências Fisiológicas, ICB, UFG, Goiânia – GO. nilzang@ig.com.br; kênya@icb.ufg.br.
Palavras-chave: Botoxâ, teste SMART, genotoxicidade
A toxina botulínica do tipo A, princípio ativo do BOTOXâ, é uma
proteína produzida pela bactéria anaeróbica Clostridium botulinum,
considerada uma das mais potentes e letais toxinas biológicas existentes. Esta
substância age sobre terminação nervosa do neurônio pré-sináptico, impedindo a
fusão das vesículas contendo
neurotransmissor com a membrana axoplasmática e consecutiva liberação do seu
conteúdo para a fenda sináptica, causando uma desnervação química.
Este fármaco é atualmente muito indicado para melhora de quadros de espasticidade (em sequelas de paralisias neuronais) e outras patologias como estrabismo, blefaroespasmo, hiperidrose (suor excessivo) das palmas das mãos e das axilas.
A
metabolização da toxina não está devidamente documentada, porém pode ser
explicada pela presença de proteases que levam a uma proteólise e degradação das
cadeias polipeptídicas presentes na molécula. Até o presente momento não foram
realizados estudos prolongados em animais com a finalidade de se avaliar o
potencial carcinogênico do BotoxÒ. Parâmetros relacionados com a indução de mutação gênica,
mutação cromossômica e/ou recombinaçao mitótica são eventos que podem
contribuir significativamente para o surgimento de neoplasias. Deste modo, para
avaliar o potencial genotóxico do BotoxÒ, utilizamos o Teste Para Detecção de Mutação e Recombinação
em Células Somáticas de Drosophila
melanogaster (SMART).
SOMATIC MUTATION AND RECOMBINATION TEST (SMART):
Neste trabalho, larvas de terceiro estágio, obtidas a
partir do cruzamento de fêmeas virgens da linhagem flr3 com machos mwh, foram tratadas com BOTOX®,
por um período de 48 horas, até atingirem o estágio de pupa. As larvas foram
colocadas em 5 tubos, contendo diferentes concentrações da toxina botulínica,
até transformarem-se em adultos. As asas dos indivíduos trans-heterozigotos
foram retiradas para a análise dos tricomas presentes em ambas as faces, com o
intuito de observar a presença ou não de pêlos mutantes. O fenótipo mutante
indica a ocorrência de mutações e/ou recombinações mitóticas. A análise
estatística foi feita comparando os resultados das diferentes concentrações com
o controle negativo (água destilada). O diagnóstico estatístico foi obtido
através do teste binomial condicional, seguindo o procedimento de múltiplas
decisões de acordo com Frei e Würgler (1988).
RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise microscópica dos pêlos
mutantes, presentes nas asas dos adultos trans-heterozigotos, revelou que o
BotoxÒ não foi
capaz de induzir eventos de mutação e/ou recombinação nas doses utilizadas.
Este resultado foi obtido a partir da aplicação do teste estatístico binomial
condicional, como pode ser visto na tabela abaixo: Tabela:
Resultados da avaliação genotóxica do BotoxÒ através do cruzamento padrão. Dose (U) Número de Indivíduos Manchas por indivíduo (nº de manchas) Diagnóstico Estatístico MSP (1-2 cels) m=2 MSG (>2 cels) m=5 MG M=5 TM m=2 Controle positivo 9 11,67(105) 7,11(64) 3,67(33) 22,44(202) Controle negativo 11 0,45(05) 0,09(01) 0,00(00) 0,55(06) 2 12 0,42(05) 0,08(01) 0,00(00) 0,50(06) ns 4 12 0,33(04) 0,00(00) 0,00(00) 0,33(04) ns 6 12 0,33(04) 0,08(01) 0,00(00) 0,42(05) ns MSP, manchas simples pequenas; MSG, manchas simples
grandes; MG, manchas gêmeas; TM, total de manchas; ns, diagnóstico estatístico
não significativo. Estes resultados demonstraram que,
nestas condições experimentais o BotoxÒ não foi capaz de induzir atividade genotóxica direta, não
sendo, conseqüentemente, um agente indutor de mutação pontual, mutação
cromossômica e recombinação mitótica. CONCLUSÃO Através da utilização do teste
SMART, com análise microscópica dos fenótipos mutantes dos pêlos presentes nas
asas dos adultos trans-heterozigotos e do diagnóstico estatístico obtido
através do teste binomial condicional, conclui-se que o BotoxÒ não
possui efeito mutagênico e/ou recombinogênico em células somáticas de Drosophila melanogaster. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREI, H., CLEMENTS, J., HOWE, D. & WÜRGLER, F. E. (1992) The
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