DECLÍNIO NA PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO VIRUS DA HEPATITE C EM PACIENTES EM HEMODIÁLISE EM GOIÂNIA-GO: UM SEGUIMENTO DE 10 ANOS

Carneiro, M.A.S.1; Teles, A.S.2; Ferreira, R.C.1; Dias, M.A.1; Freitas, N.R.1; Nascimento, L.B.1; Gomes, A.S.1; Cardoso, D.D.P.1; Silva, S.A.1; Yoshida, C.F.T.3; Martins, R.M.B.1 (1Laboratório de Virologia, IPTSP/UFG, Goiânia-GO; 2Faculdade de Enfermagem/UFG; 3Departamento de Virologia, Instituto Oswaldo Cruz).

E-mail: Marciaalvesdias@yahoo.com.br e rbringel@terra.com.br

Palavras-chave: Hepatite C, hemodiálise, prevalência, fatores de risco

Financiamento: CNPq

INTRODUÇÃO

A infecção pelo vírus da hepatite C (VHC) tem sido considerada importante problema de saúde pública, sendo transmitida, principalmente, pela via parenteral (Lauer & Walker 2001; Alberti, 2003). Portanto, é freqüente nos pacientes renais crônicos em hemodiálise. A alta incidência e prevalência de anti-VHC nestes pacientes parecem estar associadas a alguns fatores de risco, dentre eles, o número de transfusões sangüíneas, presença de imunodeficiência, freqüentes intervenções parenterais e, principalmente, tempo e tipo de tratamento dialítico (Carneiro et al. 2001; Petrosillo et al. 2001; Meyers et al. 2003; Otedo et al. 2003). A prevalência da infecção pelo VHC varia de 3,4% a 76,1% nos centros de diálise (Vladutiu et al. 2000; Schneeberger et al. 2000). No Brasil, medidas, como a implantação da triagem sorológica para anti-VHC nos bancos de sangue (novembro de 1993) e adoção de medidas especificas de controle de infecção em hemodiálise (outubro de 1996) foram propostas visando à prevenção e controle desta infecção (Ministério da Saúde,1993; Ministério da Saúde, 1996). O presente estudo teve como objetivos determinar a prevalência da infecção pelo VHC nos pacientes em hemodiálise de Goiânia-GO, no período de 1993 a 2002, e analisar os fatores de risco associados.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta investigação foi realizada nos centros de hemodiálise de Goiânia-GO, no período de 1993 a 2002. Todos os pacientes foram entrevistados em 1993 (n=153), 1996 (n=282), 1999 (n=451) e 2002 (n=795) em relação aos possíveis fatores de risco associados à infecção pelo VHC. Foram coletados 10 mL de sangue não heparinizado. Os soros foram separados e estocados a -20o C até a realização dos ensaios. As amostras foram testadas para a detecção do marcador anti-VHC através do ensaio imunoenzimático (INNOTEST HCV Ab III, Innogenetics NV, Bélgica). As amostras positivas foram retestadas pelo ensaio confirmatório (INNO-LIA HCV Ab III, Innogenetics).

Os dados das entrevistas e os resultados dos testes sorológicos foram analisados no programa "Epi Info 6" versão 6.04, desenvolvido pelo "Centers for Disease Control and Prevention", Estados Unidos da América.

 

 

RESULTADOS

Um aumento significativo da positividade para anti-VHC foi detectado entre 1993 e 1996 (28,2% para 34,7%). A prevalência da infecção pelo VHC manteve-se elevada até 1999 (37,8%), declinando em 2002 (16,5%; p < 0,05).

Durante o período investigado, número de transfusão sangüínea, transfusão antes da implantação da triagem para anti-VHC nos bancos de sangue, tempo de hemodiálise e tratamento em múltiplos centros foram fatores de risco para a infecção pelo VHC (P < 0,05).

CONCLUSÕES

Apesar do declínio verificado na prevalência desta infecção, após a implementação das medidas de controle de infecção, a hepatite C continua sendo um importante problema de saúde para os pacientes em hemodiálise. Além disso, são necessárias outras investigações para avaliar o impacto dessas medidas em longo prazo.

 

REFERÊNCIAS

 

Alberti A, Benvegnu L. Management of hepatitis C. J Hepatol 2003; 38 Suppl 1:S104-18.

Carneiro MAS, Martins RM, Teles SA, Silva SA, Lopes CL, Cardoso DDP, et al. Hepatitis C prevalence and risk factors in hemodialysis patients in Central Brazil: a survey by polymerase chain reaction and serological methods. Mem Inst Oswaldo Cruz 2001; 96:765-9.

Lauer GM, Walker BD. Hepatitis C virus infection. N Engl J Med 2001; 345:41-52.

Meyers CM, Seeff LB, Stehman-Breen CO, Hoofnagle JH. Hepatitis C and renal disease: an update. Am J Kidney Dis 2003; 42: 631-57.

Ministério da Saúde. 1993. Portaria n.1376. Diário Oficial da União, Brasília, Brasil.

Ministério da Saúde. 1996. Portaria n.2042. Diário Oficial da União, Brasília, Brasil.

 

Otedo AEO, Mc'Ligeyo SO, Okoth FA, Kayima JK. Seroprevalence of hepatitis B and C in maintenance dialysis in a public hospital in a developing country. S Afr Med J 2003; 93:380-4.

Petrosillo N, Gilli P, Serraino D, Dentico P, Mele A, Ragni P, et al. Prevalence of infected patients and understaffing have a role in hepatitis C virus transmission in dialysis. Am J Kidney Dis 2001; 37:1004-10.

Schneeberger PM, Keur I, van Loon AM, Mortier D, de Coul KO, Haperen AV-V, et al. The prevalence and incidence of hepatitis C virus infections among dialysis patients in The Netherlands: a nationwide prospective study. J Infect Dis 2000; 182:1291-9.

Vladutiu DS, Cosa A, Neamtu A, State D, Braila M, Gherman M, Patiu I-M, Dulau-Florea I. Infection with hepatitis B and C viruses in patients on maintenance dialysis in Romania and in former communist countries: yellow spots on a blank map? J Viral Hepat 2000; 7:313-319.