ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE DOIS PRODUTOS COMERCIAIS À BASE DE PRÓPOLIS SOBRE MICRORGANISMOS PADRÃO E ASSOCIADOS A INFECÇÕES ENDODÔNTICAS

Giovanna Pires da Silva Ribeiro de Rezende, Luciane Ribeiro de Rezende Sucasas da Costa, Fabiana Cristina Pimenta.

Faculdade de Odontologia-UFG e Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública-

E- mail: giopires21@hotmail.com , plcosta@terra.com.br

A própolis é uma substância de composição complexa, constituída por material resinoso coletado pelas abelhas a partir de diferentes espécies vegetais, particularmente de troncos de árvores, botões de flores e plantas, modificado pela adição de secreções próprias, principalmente enzimas (Hoffmann et al., 1998; Ferreira et al., 1996), A própolis vem se destacando devido a inúmeras atividades terapêuticas: antibacteriana, antifúngica, antiviral, antiinflamatória, antiprotozoária, anestésica, anticarcinogênica, antioxidante, hipotensiva e cicatrizante (Bankova et al., 1982; Hoffmann et al., 1998; Ota et al., 1998; Park et al., 1998; Manara et al., 1999; Geraldini et al., 2000; Sforcin et al., 2000; Banskota et al., 2001).

Devido às propriedades da própolis, vislumbra-se que em terapia pulpar de dentes decíduos ela possa constituir uma alternativa viável, já que os procedimentos e materiais endodônticos utilizados em Odontopediatria ainda têm sido alvo de diversas polêmicas e controvérsias. Um material classicamente empregado em Endodontia e que favorece respostas biológicas, quando adequadamente indicado, é o hidróxido de cálcio. Porém, poucas pesquisas têm sido conduzidas visando sua aplicação em dentes decíduos.

O hidróxido de cálcio apresenta duas propriedades enzimáticas importantes: inibição das enzimas bacterianas, tornando-o um potente antimicrobiano, e ativação de enzimas tissulares levando à mineralização (ESTRELA et al., 1999). Assim, pensou-se em associar o hidróxido de cálcio à própolis, favorecendo a união dos benefícios dos dois produtos. A adição da própolis poderia ser justificada em decorrência da possibilidade de se minimizar a inflamação, permitindo uma melhor ação tanto da própolis quanto do hidróxido de cálcio.

Considerando a carência de trabalhos experimentais sobre o uso da própolis em Endodontia, objetivou-se avaliar a efetividade antimicrobiana de dois extratos de própolis, associados ou não ao hidróxido de cálcio.

Avaliou-se inicialmente a atividade antimicrobiana in vitro, pelo teste de difusão em ágar, de dois produtos comerciais à base de própolis: o extrato etanólico de própolis (EEP) a 11,0% e extrato de própolis sem álcool (EPSA) a 11,0% sobre 26 amostras de microrganismos padrão compreendendo cocos e bacilos Gram-positivos, bastonetes Gram-negativos e leveduras. Verificou-se que EEP e EPSA apresentaram uma melhor atividade contra bactérias Gram-positivas e Candida albicans. Em virtude desses resultados, selecionou-se 21 amostras de Staphylococcus sp e 21 de Streptococcus mutans isolados de saliva para a determinação da concentração inibitória mínima (CIM). Para Streptococcus mutans os, a CIM do EEP variou 80 a 40mL (8,8mL a 4,4mL da própolis) e do EPSA de 40 a <10mL (4,4 a <1,1mL da própolis). Para os Staphylococcus sp, a CIM nos dois extratos foi <10mL (<1,1mL da própolis). Em seguida, verificou-se a atividade antimicrobiana de duas pastas contendo extrato de própolis associado ao hidróxido de cálcio (Ca(OH)2): pasta 1 = EEP + Ca(OH)2; pasta 2 = EP + Ca(OH)2 contra 20 amostras de microrganismos padrão analisadas anteriormente pelo teste de difusão em ágar. Os resultados mostraram que as pastas de própolis com hidróxido de cálcio apresentam atividade antimicrobiana contra todos os microrganismos avaliados, a realização de pesquisas adicionais para avaliar os mecanismos de interação entre esses produtos. Além disso, avaliou-se a atividade antimicrobiana in vitro das pastas 1 e 2 contra amostras de materiais coletados de 16 canais radiculares de dentes decíduos com necrose pulpar. As substâncias utilizadas foram: pasta 1, pasta 2, Ca(OH)2 + propilenoglicol, EEP; EP e Ca(OH)2. Os dados foram comparados estatisticamente. A pasta 1 apresentou uma zona de inibição maior que EP, Ca(OH)2 e Ca(OH)2 + propilenoglicol (p<0,05) e não houve diferença significante entre as pastas 1 e EEP (p=0,10). A pasta 2 apresentou uma atividade antimicrobiana maior do que EEP, EP, Ca(OH)2 e Ca(OH)2 + propilenoglicol (p<0,05). Os resultados demonstraram uma interação aditiva entre a própolis e o hidróxido de cálcio.

Tendo avaliado propriedades antimicrobianas de produtos comerciais à base de própolis, pudemos estabelecer sua efetividade e conseqüente uso potencial em diferentes situações da Odontologia. Importante enfatizar que não houve quaisquer conflitos de interesses quanto às marcas comerciais utilizadas nessa pesquisa. Esses resultados sugerem uma nova linha de pesquisa onde estudos futuros in vitro e in vivo deverão ser realizados com o propósito de avaliar os efeitos biológicos e a viabilidade da utilização da pasta de hidróxido de cálcio e própolis em terapias pulpares rotineiras em Odontopediatria.

Palavras-chave: Própolis; Hidróxido de Cálcio; Bactérias; Leveduras.

Referências Bibliográficas:

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