Métodos preventivos contra a cárie dentária adotados por odontopediatras no Estado de Goiás – estudo piloto

Pesquisadora responsável: Denise Espíndola Antunes, deniseesp2@hotmail.com

Professor Orientador: Dr. Gersinei Carlos de Freitas, gcfreitas@brturbo.com.br Programa de Mestrado em Odontologia da Universidade Federal de Goiás

Palavras – chave: prevenção, cárie dentária, odontopediatria, Goiás

Introdução

Revisão da bibliografia

As diferentes prioridades na escolha de métodos preventivos contra a cárie dentária não são uma surpresa, pois não é possível encontrarmos com facilidade na literatura um consenso sobre quais métodos são mais eficazes3.

Um raro exemplo sobre avaliação de efetividade de métodos preventivos contra a cárie dentária foi encontrado em um estudo canadense7 no qual as seguintes medidas preventivas foram recomendadas: a pasta dental fluoretada, a fluoretação das águas de abastecimento, a aplicação profissional de flúor tópico e a utilização de solução fluoretada em bochechos, assim como o uso seletivo de selantes para fissuras.

Em um outro estudo canadense9, o conhecimento e a prática de cirurgiões-dentistas de Ontário foram descritos a respeito da fluoretação tópica e dos procedimentos de profilaxia. Foi mostrado que durante as consultas de retorno ao dentista (realizadas em intervalos de seis meses), eram rotineiramente adotados os procedimentos de profilaxia, polimento dentário e aplicação profissional de flúor. Isto era realizado freqüentemente em todas as sessões de retorno, sem ser considerado o risco do paciente em desenvolver cáries. Os achados de um outro estudo realizado nos Estados Unidos1 reforçaram essa mesma prática. Finalmente, um estudo filandês11 revelou que o método preventivo adotado para adolescentes com alta atividade de cárie dentária foi a aplicação de verniz fluoretado.

Existem muitos estudos científicos consistentes sobre os diferentes métodos preventivos contra a cárie dentária e sobres suas técnicas de utilização e muito ainda tem sido avaliado4. Tais estudos sobre a efetividade e a eficiência dos métodos preventivos facilitariam a tomada de decisões por parte dos cirurgiões-dentistas6 e até poderiam levar-nos à eliminação dos custos adicionais dos serviços preventivos não comprovadamente eficazes.

Porém, muitos protocolos utilizados pela odontologia para a prevenção da cárie dentária são provenientes de estudos pouco consistentes. Apesar de serem protocolos aparentemente eficazes, muitas vezes eles podem ter sido obtidos de forma inapropriada. De acordo com esses fatos, a prática dos cirurgiões-dentistas e de seus auxiliares deve ser observada. Assim, o conhecimento da prática sobre a prevenção da cárie dentária poderá nos fornecer subsídios para a futura constatação sobre o quanto suas tomadas de decisões estão baseadas em dados científicos consistentes.

Objetivos

Geral: conhecer os métodos preventivos contra a cárie dentária adotados em crianças e adolescentes por uma pequena amostra de odontopediatras que atuam no Estado de Goiás no ano de 2004.

Específicos: testar o instrumento de coleta de dados e obter uma estimativa sobre os futuros resultados que poderemos obter com o estudo final.

Materiais e métodos

Participantes e procedimentos

Foi realizado um estudo piloto com 10% do total da amostra de 211 odontopediatras inscritos no Conselho Regional de Odontologia de Goiás, ou seja, 21 odontopediatras escolhidos aleatoriamente por sorteio. Eles responderam a um questionário enviado através dos serviços dos Correios. Para isso, foram enviadas dentro de um mesmo envelope, uma cópia do questionário, duas cópias do termo de consentimento livre e esclarecido e um envelope previamente selado e carimbado com o endereço do destinatário para que os documentos fossem enviados de volta para a pesquisadora.

Questionário

O questionário apresentado aos odontopediatras continha a apresentação da pesquisa e as instruções a serem seguidas para as respostas e o posterior envio das informações para a pesquisadora.

Questões sobre as características dos profissionais como idade, sexo, cidade de atuação, tipo de trabalho e faixa etária foram abordadas.

Sobre as características dos serviços preventivos adotados pelos profissionais tivemos os seguintes pontos: a) foi perguntado sobre quem era o responsável pelo trabalho preventivo realizado nos pacientes; b) foram abordados assuntos a cerca das condições de saúde bucal dos pacientes tratados pelos profissionais durante este ano corrente; c) foram apresentadas questões sobre a utilização de flúor e de clorexidina sob a forma de diversos veículos. Foi perguntado sobre os veículos com flúor ou clorexidina adotados e em quais situações os produtos foram indicados; d) a educação sobre higiene bucal e a educação sobre dieta alimentar também foram assuntos abordados.

Adicionalmente, os profissionais foram questionados sobre as características das sessões de visita ao dentista e sobre os intervalos de retorno. E finalmente, foram adicionadas ao questionário questões sobre como as decisões dos tratamentos são tomadas.

Tratamento estatístico e fontes de financiamento

Os dados obtidos dos questionários respondidos foram tratados por meio de porcentagem simples.

Este estudo foi de responsabilidade dos pesquisadores, não teve patrocinadores e foi financiada por recursos próprios. A pesquisadora responsável é bolsista da CAPES.

Resultados e discussão

Todos os profissionais responderam ao questionário e assinaram o termo de consentimento, portanto nossa amostra foi composta de 21 odontopediatras.

A maioria dos especialistas que atua em Goiás é do sexo feminino (85,71%), tem idade entre 20 e 40 anos (66,65%) e mora e atua no interior do estado (57,14%). Eles trabalham somente em consultório particular (47,61%) ou em consultório particular e no serviço público (47,61%) e não trabalham exclusivamente com crianças e adolescentes (66,66%).

A percepção sobre a importância do tratamento preventivo não é um fato novo para os profissionais, pois consideram que sempre trataram o tema com a mesma atenção ao longo dos anos (90,47%). Os odontopediatras consideram que a saúde bucal é tratada em seus consultórios de maneira semelhante à dos outros consultórios que eles conhecem (52,38%).

Os especialistas são os responsáveis pelo trabalho preventivo desenvolvido nos consultórios (61,90%), não deixando este tipo de atividade a cargo de técnicos, atendentes ou estagiários.

Os produtos para prevenção recomendados aos pacientes para uso diário e caseiro por 66,64% dos dentistas, são a água fluoretada, a pasta fluoretada e o flúor para bochecho em pacientes selecionados.

Durante uma consulta rotineira, os profissionais (66,64%) dispensam de 15 a 30 minutos somente para a realização do exame clínico. Os procedimentos preventivos são realizados posteriormente ao exame clínico, sendo que cada intervalo de tempo adotado é dependente do perfil do paciente: baixa atividade de cárie (52,40%) e alta atividade de cárie (46,60%). Para os pacientes com baixa atividade de cárie, 80,93% dos profissionais dispensam de 5 a 20 minutos. Para os pacientes com alta atividade de cárie, 52,37% dos profissionais dispensam de 30 a 45 minutos.

Os tratamentos preventivos de escolha de 57,14% dos profissionais para pacientes com baixa atividade de cárie foram instruções sobre higiene bucal, instruções sobre nutrição e aplicação profissional de flúor em forma de gel ou verniz, salientando que este último é realizado após profilaxia odontológica.

Já os tratamentos preventivos de escolha de 66,65% dos profissionais para pacientes com alta atividade de cárie foram instruções sobre higiene bucal, instruções sobre nutrição, aplicação profissional de flúor em forma de gel ou verniz - salientando também que este último é realizado após profilaxia odontológica - e visitas extras ao dentista. O selamento de cicatrículas e fissuras oclusais de molares também é um tratamento preventivo muito utilizado, sendo indicado por 71,42% dos odontopediatras para pacientes com alta atividade de cárie.

Os intervalos entre retornos ao consultório recomendados, para a repetição dos tratamentos preventivos é de três em três ou de quatro em quatro meses para 57,14% dos odontopediatras.

Os especialistas (71,42%) escolhem como fontes de informação para tomadas de decisões diante de uma situação que exija prevenção, os cursos e seminários de congressos e a literatura odontológica nacional.

Os produtos quimioterápicos preventivos mais comumente escolhidos pelos odontopediatras foram os produtos com flúor e o cuidado preventivo mais comumente indicado foi o cuidado com a higiene bucal.

Nossa habilidade de tirar conclusões sobre qualquer protocolo de medidas preventivas contra a cárie dentária foi muito limitada, pois existiram grandes variações nos próprios protocolos abordados pela literatura. Por exemplo, a aplicação de verniz de flúor1 foi uma das poucas intervenções que tiveram embasamento em evidências consistentes.

Conclusão

Os resultados deste estudo foram baseados nas respostas de 21 odontopediatras que atuam no estado de Goiás. Esta amostra foi reduzida porque se trata somente de um estudo piloto, onde procuramos testar o instrumento de coleta de dados e obter uma estimativa sobre os futuros resultados da pesquisa final. Os questionários tiveram as limitações inerentes a este tipo de instrumento de coleta de dados e validade do estudo foi pequena, devido ao tamanho da amostra utilizada.

 

Referências bibliográficas

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