Fitoquímica e atividade biológica de Palicourea coriacea (Cham.) K. Schun.

1NASCIMENTO, C. A.; 1OLIVEIRA, C. M. A.; 1KATO, L.; 2FERREIRA, H. D.;

3SILVA, C. C.; 1CARDOSO, R. E. F.; 1SILVA, F. M.; 1LIÃO, L. M.

e-mail: claudiaalvesnascimento@bol.com.br

luciano@quimica.ufg.br

1 Instituto de Química - UFG- Campus Samambaia – Goiânia – GO.

2 Instituto de Ciências Biológicas -UFG- Campus Samambaia – Goiânia – GO.

3 Depto de Química – UEM, Av. Colombo 5790 Maringá- PR.

Palavras Chave: Palicourea coriacea, calicantina, Rubiaceae

1. Introdução

Plantas da família Rubiaceae são naturais especialmente das áreas tropicais e subtropicais, existindo poucas espécies nas áreas temperadas e frias. No Brasil, esta família é representada por aproximadamente 110 gêneros e cerca de 1700 espécies. Entre os gêneros encontrados no Estado de Goiás, destaca-se o Palicourea.

O gênero Palicourea apresenta cerca de 290 espécies entre arbustos e árvores de pequeno porte, destacando-se por incluir uma das mais famosas plantas tóxicas do Brasil, a espécie P. marcgravii, conhecida popularmente como "erva de rato". A investigação química deste gênero descreve a presença de cumarinas, ácidos benzóicos e terpenos (EL SEED, 1999), além de alcalóides indólicos e quinolínicos (VALVERDE, 1999).

Várias espécies de Palicoureas são utilizadas na medicina tradicional para tratamento de infecções fúngicas, tosse e dores de estômago, além de estarem incluídas na lista de plantas utilizadas contra o câncer (HARTWELL, 1972).

A espécie Palicourea coriacea, popularmente conhecida como "douradinha", é encontrada no cerrado goiano. A utilização de suas folhas, em preparações de remédios caseiros na forma de chás, é prática consagrada tanto por comunidades rurais como por populações urbanas, oriundas principalmente de regiões de cerrado. Suas principais indicações terapêuticas são: Inflamação de uretra, rins e diurético. Relatos sobre a sua eficácia são encontrados em cartilhas populares que resgatam formas tradicionais de tratamentos de doenças.

Nenhum relato de estudo fitoquímico foi encontrado na literatura para a espécie P. coriacea. Nesse trabalho, reportamos o isolamento e identificação de um alcalóide quinolínico, assim como a atividade apresentada pela espécie em bactérias gram positiva e gram negativa.

2.Objetivos

· Estudar a composição química de P. coriacea (Rubiaceae);

· Elucidar a estrutura dos constituintes químicos isolados deste estudo fitoquímico utilizando dados de IV, RMN1H e RMN13C (1D e 2D);

· Avaliar o potencial antibacteriano dos extratos, frações e substâncias isoladas utilizando testes de Bioautografia.

3. Metodologia

3.1 Estudo Fitoquímico

A espécie P. coriacea foi coletada em região de Cerrado, na cidade de Goiânia. Após identificação realizada pelo Professor Heleno Dias Ferreira, uma exsicata foi depositada no herbário Herbário Ângelo Rizzo (UFG), sob o número #27153.

O material botânico (folhas e caule) foi seco em estufa a 40ºC com ventilação, pulverizado em moinho de facas com granulação definida e extraído exaustivamente por percolação em etanol.

Estudos fitoquímicos preliminares do extrato etanólico indicaram a presença de alcalóides (Dragendorff positivo). Este extrato foi então, submetido à tratamento ácido-base clássico.

A fração CH2Cl2 básica, proveniente deste tratamento, foi analisada por CCD através de testes com vários sistemas eluentes e posteriormente re-fracionada por CCP utilizando-se como sistema eluente (CHCl3 / MeOH / NH4OH). Este procedimento levou ao isolamento de um alcalóide quinolínico, cuja estrutura foi identificada através de dados de RMN1H e RMN13C uni e bidimensionais e difratometria de Raios-X.

3.2 Ensaios Biológicos

O extrato bruto etanólico de P. coriacea, assim como as frações provenientes do tratamento ácido-base, foram avaliadas quanto ao potencial antibacteriano, utilizando-se a técnica de Bioautografia, em quatro microorganismos distintos: Escherichia coli (ATCC 8739), Bacillus subtillis (ATCC 6633), Estaphylococcus aureus (ATCC29737) e Micrococcus luteus ( ATCC9341), fornecidos pelo IPTSP/UFG.

Os extratos (massa de 1 e 3 mg), foram aplicados em placas de sílica sobre alumínio (5X5) e eluídos em sistemas de solventes adequados. Após eluição e total eliminação do solvente, estas placas foram esterilizadas em lâmpada de U.V e colocadas sobre placas de Petri previamente esterilizadas.

Em capela de fluxo laminar, foi depositado sobre as cromatoplacas 10 mL de ágar nutritivo inoculado previamente com 1 mL de solução padronizada dos microorganismos em solução de NaCl. As placas de Petri foram incubadas por 24 horas, sendo então reveladas com o uso de uma solução aquosa de TBTB (2,5 mg/mL). Os pontos aonde ocorreram crescimento dos microorganismos apresentaram coloração escura, enquanto que nos locais aonde existiram inibições de crescimento, observou-se um halo incolor.

Os microorganismos (bactérias), utilizados nos ensaios, foram preparados a partir de culturas de 24 h (36 oC) suspendidas em 10 mL de meio nutritivo (Müller Hinton). Os inóculos foram padronizados por espectrofotometria, com absorbância de 0,05 (l máx. 530 nm), equivalente a 106 UFC.mL-1.

3. Resultados e Discussão

O estudo fitoquímico de P. coriacea levou ao isolamento de um alcalóide quinolínico de estrutura dimérica identificado como sendo a calicantina. Análises realizadas utilizando CCD revelaram que este alcalóide encontra-se em proporção bastante elevada em relação aos demais alcalóides presentes nas folhas desta espécie, apresentando também, menor polaridade.

O espectro de RMN1H da calicantina mostrou sinais de quatro prótons aromáticos em d 6,99 (dd, J= 7,8 e 1,2 Hz), 6,81 (td, J= 7,8 e 1,2 Hz), 6,53 (td J= 7,8 e 1,2 Hz) e 6,26 (dd, J=7,8 e 1,2 Hz), que são característicos de anel 1,2-dissubstituído, além da presença de prótons metilênicos em d 3,12, 1,30, 2,26 , 2,60. Estes dados associados ao sinal em d 2,40 (3H) referente ao grupo N-metila, e à presença de um próton em d 4,30 (s), correlacionado no espectro bidimensional (1Hx 13C-HMQC) com o carbono em 70,97 permitiram, juntamente com dados de difratometria de Raios-X e comparação com a literatura, a identificação estrutural do alcalóide isolado. Posteriormente, análise de rotação óptica ([α]20D - 494 ), permitiu a identificação do correto enantiômero.

O extrato bruto etanólico e as frações provenientes do tratamento ácido-base realizado com este extrato apresentaram resultados significativos para os microorganismos testados. A fração CH2Cl2 básica, da qual a calicantina foi isolada, mostrou-se ativa para as quatro bactérias testadas, com halos de inibição referentes ao alcalóide isolado (RF 0,7) em CCDA (CHCl3/MeOH/NH4OH 8,4:1,4:0,1).

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1. Calicantina

4. Conclusão

O estudo fitoquímico da espécie P. coriacea levou ao isolamento de um alcalóide quinolínico identificado como calicantina, que apresentou halos de inibição frente à Escherichia coli, Bacillus subtillis, Estaphylococcus aureus e Micrococcus luteus.

5. Referências Bibliográficas

EL-SEEDI, H. R. Rev Latinoamer Quím, 17, 1, 13-16,1999.

VALVERDE, J.; TAMOYO, G.; HESSE, M. Phytochemisty, 52, 1485-1489, 1999.

HARTWELL, J. L. Lloydia, 34,1,150,1972.

 

6. Agradecimentos

Articulação Pacari

CNPq