ESTUDO DO REVESTIMENTO GASTRO-RESISTENTE EM CÁPSULAS DE GELATINA DURA CONTENDO NAPROXENO.

Ana Lúcia T. C. Zampieri; Eliana Martins Lima

Univ. Federal de Goiás / Programa de Pós-Graduação em Química - Lab. Tecnologia Farmacêutica – Goiânia-GO

(analtc@farmacia.ufg.br/emlima@farmacia.ufg.br)

Palavras-chave: Gastro-resistente; Cápsula; Formaldeído; Dissolução.

Introdução: O revestimento gastro-resistente é uma técnica utilizada na preparação de formas farmacêuticas para que resistam, sem alteração, à ação do suco gástrico, devendo, porém, desagregar-se rapidamente no suco intestinal (Aabakken et al, 1989; Tozaki et al, 2002). Esse revestimento possibilita a administração oral de formas farmacêuticas contendo fármacos irritantes ao estômago ou sensíveis ao pH ácido (Lachman et al, 2001). O formaldeído é um agente desnaturante que promove uma ligação cruzada com a gelatina tendo sido avaliado como promotor da gastro-resistência em cápsulas de gelatina dura (Pina et al, 1996). O objetivo deste trabalho foi desenvolver um método simples e reprodutível, baseado no tratamento das paredes das cápsulas pelo formaldeído, a fim de torná-las estáveis e gastro-resistentes.

Material e Métodos: O fármaco Naproxeno utilizado como modelo no processo desenvolvido neste trabalho é um agente antinflamatório não esteróide (NSAID), que apresenta baixa tolerância gástrica (Carvalho et al, 1994; Sheba et al, 2002) e por isso tem sido estudado em revestimentos gastro-resistentes, demonstrando menor irritação gástrica (Aabakken et al, 1989). Foram utilizados os seguintes equipamentos: Dissolutor (Vankel, modelo VK7000E), Espectrofotômetro UV-Vis (Varian- Cary-50), Agitador mecânico (Tecnal, modelo TE-085), Estufa de Secagem e Encapsulador Manual. A preparação do revestimento foi feita a partir da imersão de grupos de 12 cápsulas contendo 250g de naproxeno em 100ml de solução hidroalcoólica (60-95%) de formaldeído (2-5%) por 15 minutos seguido de secagem em estufa a 37°C por 30 minutos; a seguir as cápsulas foram expostas à temperatura ambiente por 24 horas (Pina et al 1996). Inicialmente as amostras foram levadas a uma triagem, onde foram submetidas a diferentes meios de dissolução, sob agitação constante em um agitador mecânico com aquecimento a 37ºC. As amostras selecionadas serão submetidas ao ensaio de dissolução. Este teste in vitro demonstra se o fármaco estará disponível para absorção no organismo, sendo o melhor indicativo da performance do revestimento gastro-resistente (Lachman et al, 2001). Para a quantificação dos resultados obtidos foi elaborada uma curva padrão de concentração do naproxeno com concentrações variando entre 0,06 e 0,4mg/ml e r2 =0,997. Para os ensaios de dissolução o comprimento de onda (λ) foi de 332nm o qual foi determinado através de análise de varredura pelo espectrofotômetro do naproxeno dissolvido nos vários meios utilizados.

Resultados e Discussão: A concentração do formaldeído e do álcool contido nas soluções de revestimento influenciaram na resistência das cápsulas quando submetidas a diferentes meios (Tabela 1). O aumento na concentração do formaldeído promoveu um aumento na resistência do revestimento (Pina et al 1996; Gholap et al 2004). Porém, aumentando a concentração alcoólica das soluções de revestimento ocorreu uma diminuição da resistência das cápsulas, mesmo quando a concentração de formaldeído era elevada (Pina et al 1996). Como mostra a tabela 1, a resistência das cápsulas submetidas aos Meios Gástrico e Entérico (USP) foi menor que a resistência das mesmas em outros meios, devido à presença de enzimas digestivas, as quais promoveram uma aceleração na degradação da gelatina (Friess et al, 1997). As amostras que apresentaram melhor eficiência na triagem estão sendo conduzidas ao teste de dissolução para determinar a performance do revestimento gastro-resistente.

 

Tabela 1. Efeito do formaldeído (2-5%) e álcool (60-95%) contido nas soluções de revestimento

 

Meio

Ácido

PH 1,2

Meio

Alcalino

PH 11,0

 

 

Tempo de exposição

Tempo de exposição

[Formol/

Álcool

15 min

30 min

01 h

02 h

15 min

30 min

01

h

 

3/70

-

-

-

-

-

-

+

5/70

-

-

-

-

-

-

-

3/80

-

+

++

++

++

++

++

5/80

-

-

++

++

++

++

++

3/90

-

+

++

++

++

++

++

5/90

-

+

++

++

++

++

++

3/95

+

++

++

++

++

++

++

5/95

+

++

++

++

++

++

++

 

 

Meio

Gástrico(USP)

PH 1,2

Meio

Entérico(USP)

PH 6,8

 

Tempo de exposição

Tempo de exposição

[Formol/

Álcool

15 min

30 min

01 h

02 h

15 min

30 min

01 h

 

2/70

-

-

+

+++

 

 

 

3/70

-

-

+

+++

 

 

 

4/60

-

-

-

-

++

+++

 

4/70

-

-

-

-

++

+++

 

5/70

-

-

-

-

+

++

++

5/80

-

-

+

++

+++

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

-:Cápsula intacta. Conteúdo seco.

+: Cápsula aparentemente intacta, porém com conteúdo úmido.

++: Cápsula aparentemente intacta, porém com conteúdo altamente úmido.

+++:Cápsula rompida.

Conclusão: O emprego do revestimento gastro-resistente a partir de soluções hidroalcoólicas de formaldeído em cápsulas de gelatina dura contendo naproxeno representa uma possível alternativa para esta forma farmacêutica,

Referências:

AABAKKEN L.; BJORNBETH B. A. ; HOFSTAD B. ; OLAUSSEN B. ; LARSEN S.; OSNES M. Comparison of the gastrointestinal side effects of naproxen formulated as plain tablets, enteric-coated tablets, or enteric-coated granules in capsules. Scand J. Gastroenterol, Norway, v. 24 (suppl. 163), p. 65-73, 1989.

CARVALHO W. A .; Analgésicos, antipiréticos e antinflamatórios. In: Silva P. Farmacologia. Guanabara Koogan. 4 ed, 1994, p.431-433.

FRIESS WOLFGANG. Collagen – biomaterial for drug delivery. European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutics, Erlangen, v. 45, p. 113-136, 1998.

GHOLAP DEEPTI.; SINGH SARANJIT. The influence of drugs on gelatin cross-linking. Pharmaceutical Technology, Iselin, v.28, n. 4, p. 94-102, 2004.

LACHMAN LEON.; LIEBERMAN A HERBERT.; KANING L. JOSEPH. Formas de liberação modificada. In: LACHMAN LEON.; LIEBERMAN A HERBERT.; KANING L. JOSEPH. Teoria e Prática na Indústria Farmacêutica. Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, v. 2, 2001, p.636-639.

Pina M. E.; Sousa A T.; Brojo A P. Enteric coating of hard gelatin capsules. Part 1. Application of hydroalcoholic solutions of formaldehyde in preparation of gastro-resistant capsules. International Journal of Pharmaceutics, Coimbra, v. 133, p.139-148, 1996.

Sheha Mahmound.; Khedr Alaa.; Elsherief Hosny. Biologial and metabolic study of naproxen-propyphenazone mutual prodrug. European Journal of Pharmaceutical Sciences, Assiut, v. 17, p. 121-130, 2002.

Tozaki Hideyuki.; Odoriba Tomokazu.; Okada Naoki.; Fujita Takuya.; Terabe Akira.; Suzuki Tsutomu.; Okabe Susumo.; Muranishi Shozo.; Yamamoto Akira. Chitosan capsules for colon-specific drug delivery: enhanced localization of 5-aminosalicylic acid in the large intestine accelerates healing of TNBS-induced colitis in rats. Journal of Controlled Release, Kioto, v. 82, p. 51-61, 2002.

United States Pharmacopeia XXV. US Pharmacopeial Convention, Rockville, MD. 2002.

Fonte de Financiamento:

FINEP; FUNAPE; CNPq